Se o enriquecimento das nações mantiver a taxa positiva de crescimento, boa parte desta população terá acesso a alimentos, portanto haverá grande necessidade de produzi-lo de maneira eficiente, neste sentido a utilização da terra com vistas a volume e qualidade dos alimentos passa uma preocupação importante para os produtores.
O leitor do BeefPoint Felipe Pohl de Souza (Consultoria/extensão), de Curitiba, PR enviou um comentário ao artigo “Em 2050, nove bilhões de pessoas. Como alimentá-las?“. Abaixo leia a carta na íntegra.
“Caros Amigos do BeefPoint,
Há alguns anos escrevi algo que entendo contribui com este artigo:
Qual será o futuro da produção de carne bovina, num universo de 40 anos?
Estima-se que a população mundial chegará a 9,2 bilhões de habitantes em 2050, ou seja, um aumento de aproximadamente 30% sobre o que somos hoje. Se o enriquecimento das nações mantiver a taxa positiva de crescimento, boa parte desta população terá acesso a alimentos, portanto a necessidade de produzi-lo de maneira eficiente será premente, neste sentido a utilização da terra com vistas a volume e qualidade dos alimentos passa uma preocupação importante para os produtores.
Assim, se considerarmos as principais culturas agrícolas e a pecuária de corte, temos a soja produzindo 1.500 kg de proteína por ha, o milho 900 kg/ha e a pecuária de corte, se conseguisse 1.000 kg/peso vivo/ha/ano teremos algo como 300 kg de proteína. Sendo assim o gado não pode ocupar terras com potencial agrícola.
Além disso, a pressão para que não se abram novas áreas de floresta, certamente deslocará a pecuária de corte para áreas de terras dobradas e pobres, o que já aconteceu nos estados do sul, o Paraná tem um bom exemplo, na região dos campos gerais, onde a 40 anos as terras eram exclusivamente de pecuária, hoje são terras agrícolas de alta produtividade, onde a pecuária só entra na forma de integração, não mais como ocupação principal.
Podemos concluir que a pecuária de corte vai se tornar uma atividade “marginal” (de a margem de) às áreas agrícolas e devemos nos preparar para isso, adaptando os atuais sistemas de produção de modo a manter bons níveis de produtividade e lucratividade na atividade, em terras dobradas e de baixa fertilidade. Alguns aspectos parecem ser prioritários, entre eles:
• Estabelecimento de sistemas forrageiros eficientes para áreas de terras pobres e dobradas capazes de suportar lotações razoáveis e produções próximas a 500 kg/ha/ano;
• Seleção de animais com melhor capacidade de conversão e capazes de produzir, sem a necessidade de suplementação de grãos, que serão prioritariamente utilizados na alimentação humana;
• Mudança dos parâmetros de avaliação de desempenho dos rebanhos de ganho total por tempo, para eficiência na conversão das forragens.
• Foco na produção da carne e não do boi, para atender as expectativas sensoriais do consumidor e assim garantir, maiores ganhos por animal.
Isto vai permitir que a pecuária se integre à agricultura, aumentando a produção de proteína por área, portanto contribuindo para a utilização social da terra.
Outro aspecto que temos que considerar como limitante da atividade são as questões ambientais, tanto no que diz respeito ao desmatamento quanto à produção de metano pelos ruminantes, que será cada vez mais explorado pelos ambientalistas, portanto aumentar a eficiência da produção é fundamental, para diminuir o impacto ambiental.
0 Comments
Interessantes os comentários do Sr. Felipe Pohl de Souza. Fiquei assustado com as suas previsões quanto a pecuária de corte se tornar no longo prazo uma atividade marginal às áreas agrícolas. O determinismo histórico embutido nas suas previsões exclui o que há de mais sagrado em economias de mercado : os preços como sinalizadores das vontades individuais e coletivas dos agentes econômicos.
Como ele próprio diz, quem diria há quarenta anos atrás que produtores de grãos migrariam para o sistema de produção de cana para abastecer a frota brasileira de automóveis movidas a alcool que inexistia naquela época. Pois é, são exemplos assim que nos mostram o quanto as previsões, notadamente as feitas para longos períodos, nos traem como decorrência da absoluta incapacidade que temos no momento presente para analisar todas as complexas variáveis micro e macroeconômicas que explicam o comportamento dos mercados e daqueles que nele estão inseridos.
E quanto a inovação tecnológica que certamente ocorrerá na produção de grãos e de carnes não conta como parte desta equação ? E como será o mercado mundial com suas características próprias em termos de produção e consumo de proteínas animais e vegetais ?
Só quem viver, verá.