Por Trent Loos1
Que diferença um dia pode fazer. O dia 23 de dezembro de 2003 não será esquecido tão cedo no mundo da produção de alimentos. Tantas coisas aconteceram na primeira semana desde a descoberta de um caso positivo de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) em Washington que uma notícia de mais de uma hora atrás pode ser considerada antiga.
Na primeira semana, os relatos foram bastante claros e factuais. Apesar disso, como acontece com qualquer fato, com o tempo eles foram repetidos inúmeras vezes, iniciando-se então uma certa distorção.
Hoje cedo eu ouvi pessoas falando sobre o que ouviram sobre as notícias da “vaca louca”. Um jovem descobriu através da CNN que um terço de toda a carne bovina produzida nos Estados Unidos foi exportado ao Japão. O fato é que um terço de todas as exportações de carne bovina dos Estados Unidos é exportado ao Japão, mas somente 10% da carne bovina produzida pelo país são exportadas.
Apesar de uma cobertura geralmente equilibrada das notícias, temos ainda plantado sementes de medo sobre a contração desta doença através da carne bovina. Enquanto eu caminhava em um posto de gasolina buscando uma xícara de café, ouvi por acaso um senhor dizer “As boas notícias são que eu não estou no negócio de carne bovina”.
O que sobrou para a indústria de carne bovina fazer?
Muito.
Algumas informações continuarão a ser distorcidas aqui e ali. Aqui está nossa chance de nos reunirmos com os consumidores. Nós precisamos dar as informações corretas sobre a segurança e a sanidade de nosso produto para um grupo de consumidores que estão agora mais famintos do que nunca por informações sobre a fonte de seu alimento.
Eu fiz um pequeno cálculo e, de acordo com ele, as chances de se contrair a nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (nvCJD) são de cerca de uma em 40 milhões. O Centro de Controle de Doenças (Centers for Disease Control – CDC) informou que a chance de se contrair doenças sexualmente transmissíveis é de uma em quatro. Eu não me lembro de muitas notícias sobre as pressões sociais atuais que levam as pessoas a um estilo de vida promíscuo, mas eu acho que as mesmas pessoas que produzem filmes para entretenimento também nos trazem as “notícias”.
O baixo risco de se contrair a nvCJD através da carne bovina deveria ser nossa ênfase. O CDC informou que, até agora, somente 153 pessoas morreram de nvCJD. Apesar de não haver provas científicas de que o consumo de carne bovina de um animal positivo para EEB realmente causa da nvCJD, o prion ou agente é exatamente o mesmo, conseqüentemente, foi assumido que esta é a causa. Além disso, a menos que a pessoa consuma cérebro ou tecido espinhal, não está correndo risco. Milhares de bovinos apresentaram resultado positivo para EEB na União Européia (UE), mas somente 153 pessoas realmente contraíram a doença.
A mídia principal também falhou em mencionar que a EEB afeta somente bovinos de 30 meses de idade ou mais velhos. A vasta maioria do músculo esquelético de bovinos que consumimos são oriundos de bovinos de menos de 30 meses de idade, eliminando novamente o risco de contração da doença. Parece ser fácil para os consumidores norte-americanos sentirem medo do desconhecido, que germina de sementes plantadas pela mídia e grupos de interesse especial. O fato é que mais pessoas morrem nos Estados Unidos de acidentes de automóveis com cervos (150 pessoas) a cada ano do que morreram de nvCJD em toda a história. As chances de se morrer em um acidente de automóvel são realmente de uma em 242, mas as pessoas dirigirão seus carros para casa e falarão sobre a temida doença do prion.
Sem dúvida, o cidadão médio norte-americano tem a impressão de que a maioria dos bovinos no país é consolidada em meia dúzia de corporações rurais. De fato, existem 831 mil rebanhos de bovinos de corte nos EUA e 80% destes rebanhos têm menos de 50 vacas e produzem 30% dos bezerros na nação. Então, um rebanho contaminado não significa um risco para toda a população de bovinos do país. Um relatório recente do Estado de Iowa sugere que a indústria de carne bovina representa direta e indiretamente US$ 188,4 bilhões para a economia dos EUA.
Desta forma, o que está diferente hoje sobre estar na indústria de carne bovina do que antes de 23 de dezembro? Na realidade, nada mudou exceto as percepções. Nós temos medidas de salvaguarda em funcionamento para proteger a segurança da produção doméstica de alimentos. Nós temos consumidores fazendo mais questões sobre por quem, como e onde seu alimento é produzido. A questão é: quem está se adiantando e respondendo as perguntas?
Esta é nossa oportunidade de abastecer uma audiência como nunca se viu antes. Não esperem até que a estação local de rádio, a estação de televisão ou os jornais mandem a mensagem errada. Fale com eles hoje e diga a eles “Eu sou sua fonte de informações sobre encefalopatia espongiforme bovina e, sim, eu estou feliz por estar no negócio de carne bovina”.
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1Trent Loos é produtor rural dos Estados Unidos de sexta geração, mantém um programa diário na rádio “Loos Tales” e é fundador da “Faces of Agriculture”, uma organização sem fins lucrativos que coloca de volta o elemento humano na produção de alimentos. Mais informações no site www.facesofag.com