Fernando Lopa, presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford, ex-presidente da Federação Braford do Mercosul Membro do Conselho de Assessoramento Externo da Embrapa Pecuária Sul, comentou sobre o artigo Por que rastrear o gado gaúcho, por Luiz Fernando Mainardi. Leia o comentário na íntegra:
O clima em Lavras era o perfeito para tal anúncio Sr. Secretário, cinzento e úmido.
Realmente, achar que a identificação individual do rebanho será a modernização da pecuária gaúcha chega a ser um deboche a esta classe de produtores que no Rio Grande do Sul luta para se manter no negócio.
Achar que o preço da carne no Uruguai dobrou porque o rebanho está identificado, é desconhecer a história e o funcionamento da cadeia da carne bovina. Não devemos esquecer que em meados de 2011, frigoríficos do RS compravam bois no Uruguai para abate, motivo: preço bem abaixo do que no Brasil, e, me desculpe a falta de modéstia, mas neste assunto labuto há muito mais tempo e com muito mais dedicação que o Sr., afinal nesta época conversei com o presidente Mujica, na ExpoPrado, sobre esse assunto, e lhe garanto que a identificação bovina não foi o fator que fez o preço lá alcançar valores elevados nos dias de hoje e nem será para mantê-los nos próximos anos.
Sr. Secretário não é com identificação que o preço melhora, é só consultar os produtores de Santa Catarina, que recebe carne de todos os estados e não veem o seu boi valorizado, eles vão lhe dizer isso, ou então, olhar para dentro do seu estado e ver quanto vale um boi Hereford ou Angus nos programas de qualidade, criados por associações de produtores sediadas no RS, e veja quanto vale um rastreado.
Amplos debates na Câmara Setorial, realmente foram, mas sempre, ao final, só se levou em consideração o que o governo desejava para levar adiante o projeto de identificação.
Como podemos acreditar que a identificação animal vai acabar com o abigeato? Se fosse assim os arrozeiros do seu estado não sofreriam com os inúmeros roubos de transformadores e quadros de comando da lavoura, pois todos esses equipamentos são identificados. Secretário, abigeato se combate com policiamento! Mas como fazê-lo se volta e meia os sindicatos rurais tem que fazer campanha para arrecadar fundos entre os produtores para comprar peças ou combustível para viaturas, ainda tem a falta de efetivo, e nem vamos falar na ausência de barreira sanitárias em estradas federais e estaduais que cortam o RS.
É ingenuidade acreditar que o RS vai ampliar a participação no mercado internacional com identificação animal. A ampliação de mercado no complexo carne depende só de uma coisa: preço! E isso é regulado por dois fatores: custo para produzir e cambio! E a sanidade? dirão alguns… sanidade não influencia, ela é regra, se você tem você está habilitado a vender, se você não tem está fora! E o RS tem um sistema sanitário, no seu modelo atual, que tem aceitação mundial e sem identificação.
Secretário, a identificação bovina não levou Santa Catarina atingir mercados para carne suína, o que levou foi um iniciativa de um grupo de produtores, ligados a movimentos tradicionalistas, que, há mais de 15 anos, apoiados pelo governo estadual, resolveram acabar com anemia infecciosa em equinos e juntos lançaram a campanha “agulha de ouro”, que resultou no avanço do status sanitário de SC para “livre de aftosa sem vacinação”, só muito depois lançaram a identificação bovina e ai ela surtiu efeito.
Mais uma vez, tal medida, só serve para desviar o foco das atenções dos reais problemas da cadeia pecuária nesse estado carente de extensão rural (vide o estado calamitoso da Emater), sem pesquisa agropecuária (coitada da nossa Fepagro, totalmente sucateada), sem difusão genética (aonde está a CRIA), com seu grande laboratório de diagnósticos veterinários (Desidério Finamor) operando com enormes restrições e com a total falta de estrutura para realizar o patrulhamento rural ostensivo.
Quem sabe não poderíamos olhar para o sul e buscarmos transformar a Fepagro em um Instituto Nacional de Investigación Agropecuária ou para norte e seguir o exemplo de outrora de Santa Catarina e apoiar iniciativas da classe produtora em vez de empurrar goela abaixo seu modelo de modernidade.
Realmente fica difícil apoiar tal medida, que parece que o governo do RS está determinado a aprovar, então só me resta dirigir as palavras de Chico Xavier para reflexão da assembleia Legislativa do RS: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Leia o artigo original aqui Por que rastrear o gado gaúcho, por Luiz Fernando Mainardi.
2 Comments
O Secretário da Agricultura surtou. Será que ele antes vai separar o RGS do resto do Brasil? Sim, porque lei existe para ser cumprida, e o artigo 4 desta aqui é muito claro.
LEI Nº 12.097, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2009. Conceito e aplicação rastreabilidade cadeia carnes bovinos e de búfalos.
http://t.co/1rQCQUXNsE
Há muitas décadas o gado abatido legalmente no Brasil é rastreado, mas precisou uma lei do Congresso Nacional, sancionada pelo Presidente da República, para botar os pingos nos ii e tentar calar os defensores da complicação inútil.
Pelo jeito, eles ainda não cansaram e arriscam sua reputação com argumentos de que “o Uruguai e Santa Catarina fazem assim”, “a pecuária do Rio Grande é diferente”, “quem é contra tem medo de trabalho”, “vai coibir o abigeato”.
Uma maioria silenciosa, FARSUL e dezenas de sindicatos rurais incluídos, observa as manobras destas pessoas e entidades com horror zombeteiro.
Não vamos esquecer: TODO o gado brasileiro legalmente abatido hoje é rastreado, garantido por Lei Federal. Abaixo o complexo de vira-latas!
Identificação individual nunca será por si só ferramenta eficaz de gestão da pecuária e muito menos base sólida para tornar rastreável o bovíno enviado legalmente para o abate.
A bem da verdade, a e-GTA é o instrumento único e funcional que garantirá simultaneamente uma maior segurança e controle das doenças animais pelos SDA, a melhor gestão da rastreabilidade no trânsito de bovídeos juntamente com mais facilidade de acesso e melhoria da gestão sanitária de seus rebanhos pelos pecuaristas.
E melhor ainda, sem gerar qualquer custo adicional tanto a nível das fazendas produtoras como dos serviços estaduais de Defesa Agropecuária, que como diz o Humberto, há muitas décadas já tornam rastreável todo o gado abatido legalmente no Brasil.
Se a identificação individual fosse necessária para viabilizar a investigação de reclamações ou execução de recall oriundas do mercado consumidor quem surtaria seriam os etiquetadores nas salas de desossa que precisariam vincular cada corte ao animal que o produziu e não mais o lote de bois abatidos com as carcaças geradas.