Nos primeiros artigos desta série, foi mostrado que o uso de fertilizantes nitrogenados é necessário, porém pode trazer problemas para o meio ambiente e para a saúde humana.
Atualmente, o consumo mundial de fertilizantes nitrogenados é da ordem de 80 milhões de toneladas por ano. Este consumo tem aumentado, principalmente nos países em desenvolvimento, e estima-se que em 2020 sejam consumidas cerca 134 milhões de toneladas.
No entanto, a eficiência de uso destes fertilizantes é baixa. Alguns trabalhos mostram que cerca da metade do adubo nitrogenado aplicado nos campos, anualmente, é perdido.
O aumento da eficiência da adubação é interessante tanto pelos prejuízos que este nitrogênio pode causar ao ambiente e ao homem quanto por razões financeiras. Uma melhor eficiência da adubação significa menores gastos com a compra e aplicação do produto, sem reduzir a produção. No Havaí, por exemplo, produtores têm conseguido reduzir o uso de fertilizantes em um terço e as perdas para a atmosfera em dez vezes aplicando o fertilizante nitrogenado junto com a água de irrigação e parcelando as adubações.
A adubação nitrogenada deve ser planejada levando-se em consideração, principalmente, o cálculo da quantidade de adubo e a escolha da época de aplicação, da forma do fertilizante e do equipamento para distribuição.
O cálculo da quantidade de adubo a ser aplicado talvez seja o passo mais importante e, ao mesmo tempo, o mais complexo. Para isto, é necessário se fazer uma estimativa do “estoque” de nitrogênio disponível no solo e da necessidade da cultura.
Os compostos nitrogenados se transformam, naturalmente, no ambiente através de processos bastante dinâmicos. Desta forma, a determinação da quantidade de nitrogênio disponível no solo através de análises químicas é bastante difícil. Normalmente, o que se faz é determinar o teor de matéria orgânica do solo e estimar a quantidade de nitrogênio que será mineralizado. Este processo, no entanto, depende de diversos fatores ligados ao solo (características físicas, umidade e aeração), as fertilizações prévias, ao clima (temperatura e pluviosidade) e à própria matéria orgânica. Diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de se modelar estes processos e se obter estimativas mais confiáveis do “estoque” de nitrogênio no solo, no entanto, ainda não existem informações suficientes para isto.
A estimativa da necessidade da cultura vai depender, principalmente, do nível de produtividade que se deseja alcançar. No entanto, é importante lembrar que o nitrogênio interage com outros nutrientes do solo e que, em um solo com baixa fertilidade, a capacidade de resposta das plantas ao adubo nitrogenado é limitada.
Devido à dificuldade de se estimar a quantidade de nitrogênio disponível no solo, a melhor alternativa para se calcular a necessidade de adubo parece ser o acompanhamento, ao logo dos anos, dos teores de matéria orgânica, do histórico de adubações e da produtividade das áreas. Estes dados são valiosos no momento da tomada de decisão sobre a quantidade necessária de fertilizante para uma determinada produção.
A aplicação do nitrogênio deve ser feita quando as condições climáticas (pluviosidade e temperatura) forem favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Neste período, a capacidade de absorção do nutriente por parte da planta é bastante elevada, o que reduz as chances de perdas por lixiviação.
Desta forma, no caso de gramíneas forrageira cultivadas em condições de sequeiro, a adubação deveria ser feita no período das águas e, no caso de áreas irrigadas, enquanto a temperatura estivesse acima de 15oC.
A adubação deve ser parcelada ao longo do período de crescimento, evitando-se assim um excesso de nitrogênio no solo que também poderia favorecer a lixiviação. Diversos trabalhos em áreas tropicais têm mostrado que, quando o ritmo de crescimento da cultura é elevado, as perdas de nitrogênio por lixiviação são desprezíveis. No entanto, se as condições forem favoráveis, estas podem ser significativas. Em um experimento com de cana-de-açúcar, onde foram aplicados 100 kg/ha de nitrogênio na forma de uréia, foi observada uma lixiviação de 28kg/ha do nitrogênio proveniente do adubo e de 22 kg/ha do nitrogênio proveniente da matéria orgânica. Neste caso, o processo de lixiviação foi favorecido pela elevada pluviosidade no período e pela textura do solo (média a arenosa) (Trivelin, 2000).
A época de aplicação em áreas de pastejo rotacionado também deve ser planejada com relação ao período de pastejo. O ideal é que as aplicações sejam feitas sempre após a saída dos animais, favorecendo uma rebrota rápida. Além disto, a competição entre as plantas logo após a saída dos animais é menor, favorecendo o perfilhamento, o desenvolvimento rápido e um melhor aproveitamento do adubo.
Em áreas irrigadas, também é interessante que a adubação seja feita pouco antes da irrigação. Deste modo, o adubo seria rapidamente incorporado ao solo, reduzindo as perdas por volatilização.
A escolha da forma do fertilizante vai depender do preço e das características de cada produto. No Brasil, o adubo nitrogenado mais utilizado é a uréia, devido ao seu custo por unidade de nitrogênio. No entanto, é preciso lembrar que esta é uma das formas mais sujeitas às perdas por volatilização. Em um experimento com capim elefante, onde se aplicou 100 kg/ha de nitrogênio, por exemplo, foi observada uma perda de 45 e 12 kg/ha de nitrogênio quando foi utilizado uréia e sulfato de amônio, respectivamente (Martha Júnior, 1999).
A escolha do equipamento utilizado para a distribuição do adubo deve ser baseada na uniformidade de distribuição, capacidade de calibração e autonomia. O uso de um equipamento adequado e em boas condições de conservação reduz o desperdício de adubo e o custo de aplicação, aumentando a eficiência da adubação.
Como foi visto, o uso de nitrogênio na agricultura é um assunto complexo. O objetivo desta série de artigos, portanto, não foi abordar todos os aspectos relacionados à adubação nitrogenada, mas sim alertar para o problema do uso indevido de fertilizantes nitrogenados e mostrar que existem alternativas para aumentar a eficiência da adubação.
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1 Colaborou
Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP