A ração animal, ressaltou, aumentou de 1,15% para 3,33% entre junho e julho, o que pode pressionar os preços das carnes.
O impacto do choque de oferta de grãos em virtude da seca nos Estados Unidos deve ter atingido seu pico na leitura atual do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que avançou de 0,66% para 1,34% entre junho e julho, avaliou nesta segunda-feira o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Ele observou que os efeitos defasados desse movimento no atacado ainda não chegaram plenamente ao varejo.
A taxa registrada no mês foi a maior desde novembro de 2010, quando o IGP-M havia subido 1,45%, após duas altas seguidas acima de 1%, em setembro e outubro. Naquele período, lembrou o economista, as commodities estavam avançando de forma generalizada com a perspectiva de recuperação da economia mundial e a atividade doméstica aquecida, fundamentos econômicos que hoje não estão presentes.
No cenário atual, destacou Quadros, a pressão está localizada em três commodities, cujo potencial de repasse ao consumidor não é desprezível: soja, milho e trigo. No caso do trigo, os preços não estão sendo diretamente afetados pela estiagem, mas sim por um deslocamento da demanda, já que, na falta dos dois grãos, ele também serve de insumo para rações animais.
A soja, ao avançar de 4,3% para 14,89% no período, marcou sua maior alta mensal desde outubro de 2002. No ano, o grão acumula aumento de 62,6%, maior taxa para o período desde o início da série histórica do IGP-M após o início do Plano Real, em 1995, também como efeito das quebras de safra que ocorreram no início do ano no Brasil e na Argentina. Quadros acrescentou que os impactos defasados da alta dos grãos no atacado ainda não repercutiram totalmente nos preços ao consumidor, movimento que deve ser observado nos índices ao varejo nos próximos meses.
A ração animal, ressaltou, aumentou de 1,15% para 3,33% entre junho e julho, o que pode pressionar os preços das carnes. Já a alta de 1,29% para 1,91% do trigo, de acordo com Quadros, já está chegando ao varejo.
Na visão de Quadros, o novo cenário para preços de alimentos está por trás das previsões mais pessimistas do mercado para o IPCA. Divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Banco Central, o boletim Focus mostrou que a mediana de expectativas para o indicador passou de 4,92% para 4,98% entre a semana passada e a atual, terceira revisão para cima consecutiva.
Fonte: jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.