Os efeitos negativos da investigação “Carne Fraca”, atualmente em curso no Brasil, sobre práticas corruptas no setor de proteína do país, podem afetar alguns bancos e governos locais em 2017, afirma a Fitch Ratings. Entretanto, os riscos não deverão ser sistêmicos e seus efeitos devem ser administráveis. A Fitch acredita que os riscos de longo prazo resultantes da investigação serão limitados desde que a operação continue restrita às unidades atualmente investigadas.
Ainda é muito cedo para avaliar os efeitos financeiros e econômicos finais da operação Carne Fraca, em termos de multas às empresas, de sanções regulatórias e dos possíveis impactos no consumo e nas exportações de carne, pois a investigação ainda está em andamento. Porém, as declarações do governo federal indicam que o escopo do inquérito não deve aumentar significativamente. As suspensões iniciais de importação de carne brasileira por parte dos principais mercados, inclusive China, já começam a ser revistas.
A Fitch não mudou seu cenário-base com relação às despesas de provisionamento de crédito no setor bancário em função do escândalo. No entanto, estima que, na pior das hipóteses, seria necessário um provisionamento adicional de R$ 15 bilhões (US$ 4,76 bilhões) em 2017, caso a operação amplie seu foco e tenha significativo impacto sobre o setor de proteína. A conta considera toda a cadeia produtiva do agronegócio. A Fitch acredita que, após aumentar estimados R$ 144 bilhões em 2016, o total de provisões para perdas de crédito continuará crescendo este ano.
Os bancos públicos provavelmente serão os mais expostos se o setor de carne experimentar um cenário mais abrangente de risco de perdas. Pelas expectativas da Fitch, o provisionamento deverá se concentrar mais nestes bancos que nos privados. Ainda assim, tendo em vista que os IDRs (Issuer Default Ratings – Ratings de Probabilidade de Inadimplência do Emissor) dos bancos públicos são movidos pelo rating soberano, a agência não espera implicações nos ratings em um cenário de maior risco.
Em relação a todo o sistema, um aumento de R$ 15 bilhões no provisionamento seria administrável. Este cenário não afetaria significativamente a liquidez e a capitalização dos bancos, que continuam fortes e têm melhorado devido à redução da alavancagem nos últimos anos. Por outro lado, apresentaria outro desafio ao gradual processo de recuperação do sistema bancário, que continua enfrentando diversos riscos, resultantes de uma recessão prolongada, no período 2015/2016.
Os efeitos da operação Carne Fraca sobre os governos locais também devem ser limitados, desde que ela permaneça restrita. Alguns estados, no entanto, poderão ser mais afetados caso o pior cenário, de investigação prolongada, que envolva um número bem maior de unidades de produção, se concretize.
O Paraná é um bom exemplo disso. Apesar de as receitas provenientes do setor de proteínas serem mínimas, outros setores, como os de embalagens, rações, maquinário, varejo e concessionárias de serviços públicos, seriam afetados se a investigação acarretar em paralisação prolongada e sistêmica do setor de proteínas. Apesar disso, pelas estimativas da Fitch, menos de 5% das receitas de impostos do Paraná seriam afetadas, não impactanto, necessariamente, o rating do estado. Também poderia haver alguns efeitos terciários na economia, a partir de uma redução no emprego, o que teria reflexos no consumo e na renda.
Fonte: Fitch Ratings Brasil Ltda.