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Fogo????

A “queimada” é uma das ferramentas de manejo de pastagens mais antigas e tradicionais. Apesar de nos últimos anos o número de defensores dessa prática ter reduzido bastante, muita gente ainda a defende.

Um dos principais motivos para o interesse de técnicos e produtores na “queimada” é a rápida resposta em termos de produção e de melhoria do aspecto da pastagem. O fogo elimina o material senescido e, por liberar nutrientes na forma de cinzas, promove uma rebrota relativamente rápida do pasto.

Esses efeitos aparentemente benéficos, no entanto, não duram por muito tempo (em alguns casos, nem chegam a ocorrer). A erosão, a perda de nutrientes por lixiviação ou volatilização e o estresse provocado na planta fazem com que, a longo prazo, o pasto se torne menos produtivo.

Heringer & Jacques (2002) avaliaram cinco sistemas de manejo de pastagens nativas no Rio Grande do Sul: com queima bienal a mais de 100 anos; sem queima e sem roçada há 32 anos; sem queima há 32 anos e com roçada anual; melhorado há sete anos; e melhorado há 24 anos. Nas áreas melhoradas, o solo foi corrigido e passou a receber adubações periódicas. Além disso, foram semeadas espécies como trevo, festuca e aveia.

A Figura 1 mostra o acúmulo de massa verde dos tratamentos. Os sistemas sem queima foram os mais produtivos, não havendo diferença entre os sistemas melhorados e o sistema sem queima e sem roçada no período de primavera/verão. No outono, o maior acúmulo de forragem foi observado no tratamento sem queima e sem roçada e, no inverno, no tratamento melhorado há 24 anos. O acúmulo médio anual do tratamento com queima foi de 3.665 kg/ha de matéria seca verde, enquanto que nos tratamentos sem queima este valor variou de 7.049 a 9.555 kg/ha. Foi observado também que a quantidade de material morto presente na superfície do solo foi maior no tratamento sem queima e sem roçada (maior retorno de material ao solo e menor taxa de mineralização) e menor no tratamento com queima (Figura 2).

Os autores concluíram que os sistemas de manejo sem queima, com ou sem roçada, são mais produtivos e preservam melhor o solo em função da cobertura por plantas e material morto e da reciclagem de nutrientes; que o melhoramento da pastagem eleva a produção de forragem; e que a prática das “queimadas” em pastagens naturais na região sul do Brasil reduz a produção de forragem.

Figura 1: Produção média estacional de matéria seca de forragem verde em pastagem nativa sob distintos manejos. André da Rocha-RS, 1988.


Fonte: Heringer & Jacques (2002).

Figura 2: Material morto presente na superfície do solo em pastagem nativa sob distintos manejos. André da Rocha-RS, 1988.


Fonte: Heringer & Jacques (2002).

Comentário dos autores: a “queimada” é uma prática que traz prejuízos tanto para o sistema de produção quanto para o ambiente e, portanto, deve ser abandonada por todos os produtores. De modo geral, os trabalhos que mostram vantagens na adoção desta ferramenta de manejo são de curta duração e avaliam apenas os efeitos imediatos. No entanto, o aparente efeito benéfico da “queimada” sobre a produção não é duradouro, como foi demonstrado pelo trabalho desenvolvido por Heringer & Jacques (2002).

Heringer, I; Jacques, A.V.A. Acumulação de forragem e material morto em pastegm nativa sob distintas alternativas de manejo em relação às queimadas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 1, n.2, p.599-604, 2002.

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