O sistema brasileiro de produção de carne bovina tem passado por vários desafios, onde somente os mais eficientes conseguirão sobreviver dentro desse mercado. A mineralização de bovinos de corte é essencial para conseguirmos altos níveis de produção, e assim termos uma pecuária de corte competitiva a nível internacional.
A suplementação mineral apresenta grande potencial para o aumento da produtividade de animais criados exclusivamente a pasto. Dentre os minerais necessários, o fósforo se apresenta como o nutriente mais importante, não só pela sua relevante importância no metabolismo animal como também, pelo alto custo que representa no valor final do suplemento. Além disso, a grande maioria dos solos e das pastagens brasileiras é pobre em fósforo, evidenciando a necessidade de suplementação desse mineral. Os processos de degradação de pastagens aumentam a deficiência de fósforo dos bovinos criados sobre essas condições.
Experimento realizado pela Embrapa Cerrados foi muito didático em evidenciar a queda de produção de bovinos em pastejo sem suplementação de fósforo. O experimento foi conduzido comparando os efeitos de várias misturas minerais, em relação a uma mistura mineral sem fósforo, para bovinos no período da desmama ao abate. Ao final do experimento, observou-se uma diferença de 120 Kg a mais no peso médio final dos animais suplementados com fósforo, em relação aos animais não suplementados. Além disso, para cada 100 reais investidos no tratamento sem fósforo, ocorreu prejuízo de 30 reais, enquanto que para o tratamento com suplementação de fósforo, houve retorno líqüido de 20 reais para cada 100 reais investidos (Lopes et al., 1994, citados por Lopes e Tomich, 2001).
Atualmente, o fosfato bicálcico é a fonte de fósforo mais utilizada no Brasil, porém com custo muito elevado. Com isso, passa a ser importante o estudo de fontes alternativas de fósforo de menor custo, como por exemplo, os fertilizantes fosfatados e os fosfatos de rocha “in natura”.
A utilização de fontes alternativas de fósforo é uma opção para a redução dos custos de suplementação e, conseqüentemente, dos custos de produção, levando ao aumento da eficiência do sistema, desde que sejam mantidos os níveis de desempenho dos animais. Devido a isso, várias pesquisas foram desenvolvidas no sentido de se avaliar fontes alternativas de fósforo capazes de substituir o fosfato bicálcico na suplementação mineral de bovinos.
Os resultados dessas pesquisas foram conteúdo de um parecer oficial técnico-científico da Embrapa sobre a utilização desses produtos na nutrição de bovinos (Embrapa, 1994)
Caracterização das fontes de fósforo
Farinha de ossos
A farinha de ossos foi o primeiro produto a ser utilizado no mundo como fonte de fósforo para bovinos. Esse produto apresentava problemas quanto à composição, qualidade e oferta limitada. Atualmente, a utilização da farinha de ossos autoclavada na nutrição de ruminantes está proibida devido aos acontecimentos da BSE (doença da vaca louca) na Europa.
Fosfato bicálcico
O fosfato bicálcico é ainda a fonte mais utilizada no Brasil, sendo oriunda de poucas fábricas. É uma fonte de excelente qualidade, porém de custo elevado, podendo representar de 75-85% do custo final da mistura.
Fosfato de rocha
O fosfato de rocha compreende a rocha fosfatada moída, sendo de duas origens geológicas: ígnea ou sedimentar.
O fósforo se encotra ligado ao cálcio e geralmente ao flúor na estrutura molecular da fluoropatita, Ca10(PO4)6F2 .
Superfosfato triplo
O superfosfato triplo é obtido através do tratamento da rocha fosfática com ácido sulfúrico.
Fosfato Monoamônio
Obtido através da reação do ácido fosfórico com a amônia gasosa.
Todos os fertilizantes fosfatados solúveis e o fosfato bicálcico são fabricados a partir da mesma fonte, a rocha fosfática, que pode ser originária de vários locais.
Aspecto nutricional
Algumas avaliações devem ser feitas antes de se recomendar uma fonte de fósforo para a utilização na nutrição animal. Pontos como a concentração total de fósforo no produto, biodisponibilidade (quantidade absorvida em relação à quantidade disponível), capacidade de suprir os requisitos de fósforo de animais de diferentes categorias e estágios fisiológicos, efeitos tóxicos aos animais, níveis de resíduos no produto final (carne) e relação custo/benefício satisfatória. Portanto, a quantidade de fósforo presente em um produto, por si só, não tem muito valor. Há necessidade de se saber a biodisponibilidade do mineral em determinada fonte, para a espécie animal a ser suplementada. O fósforo de diferentes fontes pode ser absorvido em proporções variáveis devido à espécie e à idade do animal, do processamento da fonte, relação cálcio:fósforo, composição da dieta, entre outros (Lopes, 2001).
Dos métodos desenvolvidos para a determinação da biodisponibilidade do fósforo, a diluição isotópica com o uso de marcadores radioativos se apresenta como a mais precisa. O fósforo presente nas fezes pode ser de origem exógena (alimentação), ou endógena (saliva, descamação das paredes do tubo digestivo, secreção gástrica, etc.). A diferença entre a quantidade de fósforo ingerido e a presente nas fezes é a quantidade digerida. Para determinar a absorção real do mineral, deve-se levar em consideração a porção endógena. Essa diferenciação da porção endógena é feita pela diluição isotópica.
TABELA 1. Concentração média de fósforo, cálcio e flúor de algumas fontes de fósforo para bovinos
Lopes et al. (1990), utilizando bovinos da raça Nelore de aproximadamente 18 meses de idade, estudaram a absorção real do fósforo. Os coeficientes de digestibilidade verdadeira foram de: 65,0 para o fosfato bicálcico, 46,2 para o fosfato de rocha de Patos e 44,4 para o fosfato de rocha de Tapira. A disponibilidade biológica, considerando-se o fosfato bicálcico como padrão (100%), foi de 70,1% para o fosfato de Patos e de 67,4% para o de Tapira.
Por outro lado, o fósforo do superfosfato triplo, foi tão bem absorvido e tão bem aproveitado pelos bovinos, quanto o fósforo do fosfato bicálcico.
Segundo Lobo e Silva (1984), Ballio (1986) e Cardoso (1991) citados por Lopes e Tomich (2001), as rochas fosfáticas brasileiras são de origem ígnea, e apresentam baixos níveis de flúor e metais pesados em relação às rochas fosfáticas de origem sedimentar.
Em pesquisas que envolveram toda a vida produtiva do animal, exames clínicos e químicos (biópsia da 12a costela) nos animais que receberam sal mineral com superfosfato triplo, para avaliação dos efeitos do flúor, os resultados mostraram que os níveis de flúor permaneceram normais.
No próximo artigo iremos abordar alguns resultados de experimentos comparando desempenhos de rebanhos utilizando diferentes fontes de fósforo na suplementação mineral.
Referências Bibliográficas
EMBRAPA (Brasília-DF). Uso de fontes alternativas de fósforo na nutrição de bovinos: resultados, conclusões e recomendações. Parecer técnico científico, 16 p. Brasília, 1994.
LOPES, H.O.S.; VITTI, D.M.S.S.; PEREIRA, E.A.; ABDALLA, A.L.; MORAES, E.A.; SILVA FILHO, J.C.; FICHTNER, S.S. Disponibilidade biológica do fósforo de fosfatos naturais para bovinos pela técnica de diluição isotópica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 25, p. 421-425, 1990.
LOPES, H.O.S.; TOMICH, T.R. Avanços recentes na nutrição mineral de bovinos. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 38, Piracicaba, 2001.