O leitor do BeefPoint, Humberto de Freitas Tavares, de Jussara/GO, encaminhou uma pergunta ao Fórum Sisbov a respeito do que pode ser feitos para tornar o sistema de rastreabilidade viável e retomar as relações comerciais com a UE. Esta pergunta foi respondida por Fabricio Amorim Monteiro, médico veterinário do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), confira.
Em parceria com o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) e entidades que compõem a Comissão Técnica Consultiva do Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos, o BeefPoint criou um espaço para discussão à respeito do Sistema de rastreabilidade brasileiro. Através do Fórum Sisbov https://beefpoint.com.br/forum_sisbov/, os usuários do portal podem encaminhar dúvidas e questionamentos que serão respondidos pelos técnicos do Mapa e de outras entidades competentes.
Estamos recebendo um número bastante interessante de pergunta e acreditamos que desta forma será possível melhorar o entendimento do sistema e estimular a discussão sobre a rastreabilidade.
O leitor do BeefPoint, Humberto de Freitas Tavares, de Jussara/GO, encaminhou uma pergunta ao Fórum Sisbov a respeito do que pode ser feitos para tornar o sistema de rastreabilidade viável e retomar as relações comerciais com a UE. Esta pergunta foi respondida por Fabricio Amorim Monteiro, médico veterinário do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), entidade que participa da Comissão Técnica Consultiva do Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos.
Pergunta de Humberto de Freitas Tavares, de Jussara/GO:
“A implantação da identificação individual obrigatória dos animais fracassou, e, enquanto durou, trouxe grandes prejuízos aos pecuaristas. Agora quem se ressente são os frigoríficos exportadores, impedidos de exportar para a Europa. Parte dos resultados medíocres apresentados pelo Minerva e pelo Friboi no primeiro trimestre de 2008 se deve a esta “pixotada”.
Como podemos ser proativos e, aproveitando a grande demanda por nossa carne neste momento, retornar ao modelo de trace-back que sempre existiu, e que vinha funcionando satisfatoriamente em nossas relações comerciais com a UE?
Modelo este que é usado até hoje com todos os outros países, diga-se. Não podemos ignorar a movimentação que se verifica no Congresso Nacional com vistas a corrigir excessos burocráticos e preciosismos do Sisbov, e o Mapa pouparia seu titular de novos constrangimentos se abraçasse com humildade esta causa”.
Resposta de Fabricio Amorim Monteiro, da FAEP:
“Prezado Humberto, no momento estamos sem muitas opções. Nós precisamos, antes de mais nada, recuperar a nossa credibilidade, pois assumimos compromissos que não foram cumpridos de forma satisfatória.
Quanto ao sistema de trace back a que você se referiu, eu imagino que seja o composto pela GTA e a nota do produtor. Este sistema não atende às exigências da União Européia. Com eles nós não podemos garantir que os animais estiveram em uma área habilitada por 40 dias, e nem garantir que animais procedentes de uma área não habilitada cumpriram a noventena (90 dias) em uma área habilitada.
Só nos resta, Humberto, cumprir a IN 17 que foi oferecida como sistema de rastreabilidade. Quando nós mostrarmos que temos mais competência na execução do programa ai sim podemos renegociar alguns pontos e oferecer novas garantias.
Um abraço”.
Para enviar sua pergunta clique aqui https://beefpoint.com.br/forum_sisbov/ e preencha o formulário.
0 Comments
Caro sr. Fabrício, agradeço pela resposta. Lamento, porém, discordar.
Se animais só entram em minha propriedade com nota fiscal e GTA, e dela só saem portando estes documentos, eu tenho, sim, como provar que a quarentena e a noventena citadas por você foram cumpridas.
Espero que a Comissão Técnica Consultiva de que o Sr. faz parte tenha como objetivo propor medidas factíveis, pois o seu comentário de que só nos resta cumprir a IN 17 me causou um arrepio.
Penso falar em nome da classe produtiva ao expressar meu temor de que mais uma vez se produzirão diretrizes inaplicáveis ao mundo pecuário real.
Resposta de Fabríco Amorim Monteiro:
Senhor Humberto, a nossa GTA não individualiza os animais. Ela só diz quantos animais estão entrando ou saindo da propriedade não quais são eles.
É uma questão de identificação individual. Por isso nós não podemos utilizá-la como controle de quarentena e noventena.
A Comissão Consultiva do SISBOV está trabalhando para fazer as alterações que tornarão o sistema mais simples e confiável. Enquanto não se elabora uma nova Instrução Normativa temos que continuar cumprindo a IN 17, pois ela representa o que foi acordado com a União Européia.
Infelizmente, senhor Humberto, é esta a situação que está colocada e que estamos trabalhando para mudar.
Um abraço.
Concordo com o Fabricio, não adianta ficarmos bravos, se queremos vender por preços melhores temos que nos adptar a vontade do comprador, quando vamos comprar alguma coisa nao exigimos que seja do jeito que queremos, eles fazem o mesmo. O resto é chiadeira de quem nao tem controle de sua produçao e fica com inveja de quem tem e esta vendendo melhor.
Caros,
Debate sobre o Sisbov se faz desta maneira.
Se por um lado, o pecuarista defende que a NF e GTA atestam o cumprimento da noventena, quarentena (e outras enas…), o técnico abre espaço para maneiras de burlar o sistema, visto que não é individual.
Mas será que é exigência da UE? Eu não sei dizer.
Sei dizer que isto tira o sono de vários produtores que conheço.
E também sei de fazendas onde o sistema “roda redondo”. Todas as fazendas irão se adaptar? Dificil dizer num país deste tamanho.
Para não delongar, elogio o debate e espero ver mais participação sobre um tema que levanta tantas questões.
Abraço a todos.
Se entrar um animal, que seja, proveniente de área não qualificada, todo o meu rebanho estará em, digamos, quarentena.
Quarenta dias depois, todo o meu rebanho estará liberado. É assim que as coisas funcionam em países que querem andar para a frente.
A identificação individual é desnecessária e inútil, servindo apenas para criar dificuldades, a serem resolvidas pelos “facilitadores” de sempre.
Resposta de Fabríco Amorim Monteiro:
Senhor Humberto, concordo com suas posições, porém no momento a identificação individual é obrigatória. Nós estamos trabalhando para encontrar uma alternativa.
Um abraço.
Senhor Humberto, se o Sr. tem uma propriedade com 100 animais que teoricamente já cumpriram a noventena, e estão liberados para exportação para UE, mas nas suas andanças do dia a dia o senhor encontra um lote de 30 animais por um preço altamente atrativo, e compra o lote e o leva para a mesma propriedade dos outros 100 animais com GTA, NF, tudo legal, ai o Sr resolve vender um lote de 70 animais, pois tem que cumprir compromissos asumidos, com GTA, NF, tudo legal.
Como o Sr. afirma que entre os animais vendidos não estão animais do lote de 30 que o Sr comprou por último por um preço bem compensador e que não estão liberados? E mais como o Sr garante que estes animais não irão trazer possiveis doenças aos animais que já estão liberados visto que a origem não é comprovada?
Caro Otávio, fico à vontade para responder porque isso já aconteceu comigo. Transferi há uns dois anos alguns animais de São Paulo para Goiás, e só depois descobri que à época São Paulo tinha status sanitário de livre para abates apenas para o mercado interno, enquanto Goiás era liberado para exportar. Resultado: a propriedade ficou impossibilitada de vender animais para frigorífico exportador por 90 dias.
Acho isso justo, já que é a regra do jogo.
Respondendo à sua pergunta, eu não traria animais de outros estados se estivesse pensando em vender para exportação em prazo curto. Corda no pescoço seria resolvida vendendo para frigoríficos não-exportadores.
Evidentemente, vendas de gado vivo para compradores de Goiás estavam liberadas, já que minha interdição não era por dúvida relativa a foco de aftosa. Se fosse, eu estaria totalmente impedido de tirar animais da propriedade, para abate ou não. Tudo isso resolvido com a GTA. Tudo muito simples, tudo feito sem intermediários, diretamente no escritório da Agrodefesa.
Avançando, peço-lhe que raciocine comigo: em que exatamente o procedimento mudaria caso os animais fossem individualmente identificados? Não haveria quarentena total da fazenda? Poderia eu vender para frigorífico exportador animais que não fizessem parte do lote “impuro”?
Claro que não.
A identificação individual é prerrogativa do pecuarista. Se ele sente bem fazendo, como o companheiro Wilson Giembinski, ótimo. Se não, como eu, ótimo também. Se algum frigorífico me fizer uma proposta indecorosa, de um contrato de longo prazo em que eu tenha todas as garantias de que não vou ficar com o mico do financiamento integral de todos os custos, evidentemente posso mudar de opinião.
Não me considero uma pessoa espetacularmente organizada, mas não sou de jogar fora. Meu gado de corte é manejado por lotes. Só compro touros provados a pasto. Faço estação de monta e descartes de vacas de habilidade materna inferior. Tudo sem necessidade de balança, apenas com marcação a fogo do mês e ano de nascimento. Por outro lado, meu gado registrado é numerado individualmente, óbvio. Pesado, tatuado, controlado, registrado.
Vou lhe contar um segredo: meu gado de corte tem vida muito melhor que a do gado registrado. Como diria Nelson Rodrigues, a identificação individual é odiada pelo gado de corte.