A França, maior produtor europeu de carne bovina, propôs ontem no comitê de ministros da Agricultura que a União Europeia (UE) amplie restrições ou mesmo interdite toda a carne proveniente dos três Estados brasileiros com estabelecimentos investigados na Operação Carne Fraca, que apura um suposto esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e funcionários de empresas.
Segundo fontes a par do tema, os franceses focam especificamente Paraná, Goiás e Minas Gerais. Na reunião, em Luxemburgo, a delegação francesa foi acompanhada pela rigidez da República Checa, que não hesitou em expressar o termo “proibição”. Por sua vez, a Holanda, país com os portos que mais recebem o produto brasileiro – depois distribuído a outros mercados, – insistiu que, se a Europa não receber todas as garantias de segurança das importações, deve considerar “medidas mais fortes” que as já adotadas.
A Áustria foi menos incisiva desta vez, mas continua a ser o país-membro mais rigoroso na atual crise, solicitando o bloqueio das importações. Fontes europeias dizem que essa é uma posição geral dos austríacos em casos envolvendo segurança de alimentar. A Irlanda mostrou-se surpreendentemente prudente.
No momento, porém, os que querem decisões mais duras em relação produto brasileiro não têm maioria. Mas, nesse ambiente, o comissário de Saúde e Segurança Alimentar da UE Vytenis Andriukaitis, confirmou a possibilidade de medidas adicionais em relação às importações de carne do Brasil, deixando claro que tudo depende da resposta das autoridades brasileiras à crise.
Para uma fonte europeia, tudo agora vai depender do resultado dos controles reforçados e de como o Brasil vai reforçar a sua inspeção sanitária.
As medidas tomadas pela UE incluem proibição das importações de estabelecimentos implicados; reforço dos controles nas fronteiras da UE; realização, em breve, de auditorias no Brasil; e garantia de que as autoridades dos 28 membros sejam continuamente informadas sobre a evolução da situação no Brasil.
Por sua vez, o comissário de Agricultura, Phil Hogan, descartou que a crise tenha impacto nas negociações UE-Mercosul sobre acordo de livre comércio. “Essa crise afeta o Brasil, não outros países do Mercosul”, observou. “Mas é muito claro que queremos um capítulo muito forte sobre medidas sanitárias e fitossanitárias (no acordo UE-Mercosul”.
À noite, Andriukaitis foi ao Parlamento Europeu, onde o debate sobre as importações do Brasil tem sido animado. Observadores em Bruxelas estimam que os parlamentares não deverão mudar a posição da Comissão Europeia. A avaliação é de que a comissão tem força política, no momento, para manter a estratégia de dar um pouco de tempo ao Brasil para que forneça as garantias prometidas.
No Parlamento, 31 deputados europeus falaram ontem, e a maioria continuou a cobrar medidas mais duras contra a carne brasileira.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.