Após a tensão em torno das negociações para pôr fim à greve dos caminhoneiros, o governo enfrenta dificuldades para lidar com a nova crise em torno do tabelamento dos fretes de carga rodoviária.
Uma fonte do alto escalão do governo a par do assunto revela que o perfil descentralizado e “fragmentado” do movimento dos caminhoneiros vem adiando um consenso dentro da categoria, que estava favorável à primeira versão da tabela divulgada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 30 de maio.
Diversos setores empresariais, sobretudo o agronegócio, porém, discordaram da tabela, com o argumento de que aumenta em até 30% os custos com frete e ainda interfere na livre concorrência de mercado. Os empresários conseguiram obter do Ministério dos Transportes tabelas com redução de até 20% nos custos, mas a pressão dos caminhoneiros fez a pasta recuar ontem à noite.
Segundo a fonte, a segunda versão da tabela de fretes, divulgada ontem pela ANTT, foi decidida com um grupo “representativo” da categoria, mas outras entidades contrárias aos novos valores discordaram e convenceram o ministro Valtemir Casimiro, dos Transportes, a revogar a resolução da ANTT. “O governo está prensado nesse assunto, não quer que uma nova greve e está tentando negociar”, diz essa fonte.
O episódio também expôs divergências internas de governo, que vêm adiando um consenso em torno do assunto. Enquanto os ministros Casimiro e Blairo Maggi, da Agricultura, foram os principais patrocinadores de uma tabela de fretes com valores mais próximos aos praticados pelo mercado, Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, que chegou a dizer que a primeira tabela seria mantida e vem se esforçando para defender o acordo com os caminhoneiros que prevê justamente a implementação do frete mínimo.
Nesse cenário, um personagem chamou a atenção: o deputado federal, Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro do Desenvolvimento Social no governo Temer até o início do ano. Ligado a Padilha e com muito trânsito no Palácio do Planalto, Terra foi designado na última quarta-feira como relator na comissão mista do Congresso criada para analisar a Medida Provisória 832/2018, que instituiu a política de preços mínimos para o frete de cargas.
O Valor apurou que Terra intermediou a reunião de ontem à noite entre o ministro dos Transportes e entidades sindicais de caminhoneiros, logo após o próprio ministro ter anunciado no Palácio do Planalto uma tabela mais favorável às empresas. Na instalação da comissão, Terra chegou a dizer que vai trabalhar para que não só o caminhoneiro seja protegido, “mas que o caminhoneiro é a nossa principal preocupação”.
Terra e o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), que foi eleito para presidir a comissão da MP 832 e é da tropa de choque do governo Congresso, terão que administrar os conflitos entre caminhoneiros e empresários e analisar a partir das próximas semanas 55 emendas propostas por parlamentares, na sua maioria da bancada ruralista. Uma delas em especial, protocolada pelo deputado ruralista Arnaldo Jardim (PPS-SP), já conta com grande apoio do setor do agronegócio, por prever que as tabelas de frete sejam facultativas e não obrigatórias.
Fonte: Valor Econômico.