Principal exportador de carne bovina do Brasil e um dos quatro maiores do planeta, o grupo Friboi está em vias de abrir um banco. A instituição, apesar de ainda não ter sido aprovada pelo Banco Central (BC), já tem nome definido: Banco JBS S.A. A princípio, deve atuar com carteira comercial de financiamento e investimento e o capital inicial será de R$ 24,5 milhões, o mínimo exigido pelo BC para este tipo de agente financeiro.
Na semana passada, a autoridade monetária divulgou um comunicado com a íntegra da declaração de propósito dos interessados na abertura do banco.
Em nenhum momento o nome do Friboi é citado no documento, entretanto, vários indícios levam ao grupo. Um dos futuros controladores, por exemplo, será José Batista Sobrinho (provável origem da sigla JBS), que atualmente é presidente de honra do Friboi. Entre os membros da diretoria do banco está Licínio Antonio Huffenbaecher Júnior, que ocupa a direção da tesouraria do frigorífico. Além disso, o endereço da futura sede do JBS é o mesmo do escritório central do Friboi: Avenida Marginal Direita do Rio Tietê, 500, na capital paulista.
Procurada pela reportagem do DCI, a direção do grupo não se pronunciou até o fechamento desta edição. Segundo fonte do Departamento de Organização do Sistema Financeiro (Deorf), do BC, o Friboi ainda tem um longo caminho a trilhar até a efetiva expedição da autorização de funcionamento. “Após a formalização da proposta, o interessado terá de apresentar um plano de negócios, que será apreciado por nós”, informou a fonte do BC.
Primeiro
O Friboi é o primeiro grupo a formalizar em 2005 um pedido de abertura de banco. “Recebemos várias solicitações para a constituição de financeiras, cooperativas de crédito e corretoras de valores. Mas pedidos para bancos são raros”, disse a fonte.
Caso os planos do Friboi se concretizem, os principais bancos que atuam no mercado brasileiro não devem ficar nada felizes. Hoje, por conta da rápida expansão do mercado de carnes, impulsionada principalmente pelas vendas externas, o assédio a empresas como Friboi, Bertin e Minerva tem sido grande.
O banco francês BNP Paribas, por exemplo, está coordenando um empréstimo sindicalizado (com a participação de várias instituições) para o Friboi que pode chegar a US$ 100 milhões.
Além disso, o Friboi recebeu oferta para o lançamento de bônus perpétuos (sem vencimento) no mercado externo. Tal modalidade, que é relativamente nova, está restrita a empresas de primeira linha como Bradesco, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Braskem.
Na opinião de analistas, mesmo com a abertura de seu próprio banco, o Friboi não deve abandonar as demais instituições financeiras, pelo menos a princípio.
Atualmente, para projetos de expansão, o grupo usa recursos de várias fontes. Na recente compra da Swift Armour, da Argentina, usou dinheiro da nova linha de internacionalização de empresas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Prós e contras
Para o sócio da consultoria Engenheiros Financeiros & Consultores (EFC) Carlos Coradi, a abertura de uma instituição financeira por um grupo que não tem tradição no setor tem prós e contras.
A principal vantagem, de acordo com o especialista, é a apropriação do ganho financeiro, já que parte dos negócios do grupo poderá ser feita internamente.
Os contras, no entanto, são preocupantes. “São dois tipos de negócios díspares. Para se ter sucesso com um banco hoje em dia é preciso um alto grau de especialização”, alerta o consultor. Segundo ele, no passado ocorreram vários casos de fracassos de bancos que começaram a misturar os negócios com os de seu grupo controlador. “É preciso tomar vários cuidados, pois qualquer falha no gerenciamento dos ativos pode ser fatal para o banco”, alertou.
Hoje, há várias instituições financeiras ligadas a grupos com outro tipo de negócios. A maioria delas, porém, trilhou um caminho próprio, especializando-se em determinado tipo de produto.
O Ibi, da rede de lojas C&A , por exemplo, não se limitou a financiar os clientes de sua controladora e hoje possui vida própria, com agências espalhadas pelas principais cidades do país.
Fonte: DCI, adaptado por Equipe BeefPoint