A maior competitividade da carne bovina brasileira no mercado internacional, provocada pela valorização do dólar frente ao real e pelos problemas sanitários dos rebanhos da argentina e da Europa, estimulou indústrias de médio e pequeno porte a vender seu produto no mercado externo. Indústrias como Frigoestrela, Frisa, Frigovira e Frigoalta, mais voltadas ao mercado interno, passaram a investir no aumento da capacidade de suas unidades para poder atender também ao mercado externo.
As exportações brasileiras de carne bovina devem fechar o ano de 2001 com receita estimada de US$ 1 bilhão, com um aumento de 28 % em relação ao valor registrado em 2000. A previsão para 2002 é de crescimento de 10 %, atingindo um valor de US$ 1,1 bilhão.
Sem tradição exportadora, a Frigoestrela, de Estrela D’Oeste, interior de SP, dobrou o abate – de 500 cabeças/ dia, para 1,1 mil cabeças – para atender o mercado externo. Segundo o gerente de exportação do frigorífico, Benedito de Paula, a empresa deve concluir, no final de 2002, a construção de uma nova unidade industrial em Goiás, o que permitirá o aumento da produção. A média de embarque da empresa, em 2000, era de dois contêineres/ semana. Em 2001, segundo o gerente, aumentou para algo entre 10 e 12 contêineres por semana.
O Brasil foi beneficiado este ano pelos problemas sanitários – “vaca louca” e febre aftosa – verificados na Argentina e na Europa, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Ênio Marques Pereira. “Estes bons resultados favoreceram tembém os frigoríficos de menor porte, que tinham como estratégia de vendas apenas o mercado interno”, diz Pereira.
Mesmo com a volta da Argentina ao mercado internacional, o Brasil deverá se consolidar como importante fornecedor, menciona Pereira. “Temos baixos custos de produção como vantagem competitiva. No entanto, precisamos melhorar a produtividade. Os europeus e norte-americanos trabalham no limite tecnológico em eficiência. Também precisamos aproveitar melhor os subprodutos da carne, como fazem as empresas dos EUA”, diz.
Outro exemplo de empresa que ampliou as exportações de carne é o Frigorífico Rio Doce (Frisa). As receitas com exportação da indústria atingiram US$ 17 milhões em 2001, resultado 70 % maior que o obtido em 2000, informa o diretor financeiro Marcos Coutinho.
Para o diretor do Frigovira, Mário Caldas, os bons resultados de 2002 vão depender da qualidade do produto brasileiro. Com três unidades industriais em Rondônia e uma unidade exportadora em São Paulo, o Frigovira tem política de exportação há 10 anos.
No entanto, neste ano, a empresa dobrou suas receitas com embarques para o exterior, atingindo US$ 5 milhões, devido às boas oportunidades de mercado.
O Frigoalta, por sua vez, com cinco unidades produtoras no país, vai continuar sua expansão nas vendas ao mercado externo. A capacidade de abate da empresa está em 2,5 mil cabeças/ dia, de acordo com Fernando Melo, do departamento comercial do frigorífico. “Acreditamos no aquecimento do consumo para 2002”, diz Melo. Este ano a empresa comercializou carne bovina in natura para o Chile e para países europeus.
Mesmo com o aumento da participação dos frigoríficos de médio porte nas exportações, o ranking dos principais exportadores não se alterou. Os cinco principais exportadores, em volume de embarque, são: Bertin, Friboi, Independência, Minerva e Frigotel.
Estas empresas concentram cerca de 60 % dos embarques brasileiros, segundo analistas do setor.
O maior exportador do Brasil – frigorífico Bertin, de Lins, SP – deve fechar o ano de 2001 com US$ 230 milhões de receita com os embarques e 23 % de participação, de acordo com seu gerente de exportação, Marco Bicchieri. “Conquistamos importantes mercados na Europa, como a Alemanha, por exemplo. Mesmo com a volta da Argentina ao mercado, não perderemos espaço”, menciona Bicchieri.
Segundo o executivo, a desvalorização do dólar frente ao real no último mês deve afetar as receitas de exportação em 2002. “No momento, os preços do boi gordo no mercado interno não viabilizam as exportações”. A arroba do boi gordo está cotada a R$ 47 no noroeste de São Paulo, o que significa um aumento de 13 % em relação ao preço médio de dezembro de 2000, que era R$ 41,50.
Para Bicchieri, as exportações são viáveis com o dólar entre R$ 2,40 e 2,45. No momento, a moeda norte-americana tem sido negociada em patamares mais baixos. No entanto, neste ano, o dólar chegou a atingir R$ 2,70, o que beneficiou muito as indústrias brasileiras exportadoras de carnes.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Mônica Scaramuzzo), adaptado por Equipe BeefPoint