Os principais frigoríficos do país, JBS Friboi, Minerva e Marfrig, estão empenhados em promover práticas sustentáveis em suas cadeias produtivas. O objetivo é reduzir o impacto de uma atividade intensiva em emissão de carbono e em desflorestamento e degradação do solo, e que se tornou alvo de atenção de consumidores e organizações internacionais de proteção ambiental.
De acordo com a Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), 18,5% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil são provenientes da pecuária. O principal fator de emissão bovina é o chamado arroto do boi – o gás metano gerado no processo digestivo dos animais ruminantes.
Em julho, a MFG Agropecuária, em Tangará da Serra, fornecedora da Marfrig no Mato Grosso, iniciou testes em 350 animais com um suplemento bioquímico, o SilvAir, produzido pela Cargill, que promete reduzir em 30% a emissão de metano no processo. “Após a avaliação dos resultados, a próxima etapa é expandir o uso do suplemento, levando para outros fornecedores”, diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do frigorífico.
A JBS Friboi também investe no desenvolvimento de suplementos que reduzem a emissão de metano. A companhia tem parceria com o Instituto de Zootecnia e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para criar aditivo à base de tanino com potencial de reduzir em até 55% as emissões de metano.
Nos EUA, a empresa financia a construção de um centro de pesquisas na Universidade de Nebraska. “Um dos objetivos é desenvolver pesquisas para a redução de emissões de bovinos confinados”, diz Liège Vergili Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi.
A degradação do solo é outro problema associado à pecuária. De acordo com o Centro de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), 18,94% da área total do país – 160 milhões de hectares – é composta por pastos, e mais da metade (52%) apresenta algum nível de degradação, especialmente na Amazônia e Cerrado.
A solução para o problema existe, mas é pouco empregada no Brasil. A Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) desenvolveu nos anos 1990 sistemas produtivos que promovem a integração da lavoura com a pecuária (ILP) e também com áreas de floresta (ILPF). Além de preservar as áreas de pastagem, a estimativa é que o ILPF, se bem implementado, remova ao ano em média 3,79 toneladas de gás carbônico equivalente (tCO2 e) da atmosfera por hectare e tem potencial de neutralizar a emissão de GEE da criação de gado.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) calcula que, no início do ano, o sistema era adotado em 16 milhões de hectares no país. Em 2020, a Marfrig estabeleceu com a Embrapa parceria para criar protocolos de criação e certificação de gado em sistemas agrossilvipastoris. Em paralelo, a companhia desenvolveu o plano Verde+ com o objetivo de rastrear a cadeia de fornecedores de gado da companhia. A meta é rastrear 100% dos fornecedores na Amazônia até 2025 e até 2030 nos demais biomas.
A JBS Friboi criou um sistema de compra responsável de matéria prima que já soma 86 mil fazendas. A empresa faz o monitoramento de 91 milhões de hectares e um cruzamento de informações públicas sobre áreas de preservação ambiental, terras indígenas, territórios quilombolas e uso de mão de obra análoga à escravidão. “Desde o ano passado apoiamos gratuitamente a regularização socioambiental de 3600 fazendas”, diz Liège Correia.
Fonte: Valor Econômico.