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Frigoríficos incentivam produtores a rastrear o gado

O processo de rastreabilidade bovina pode estar apenas começando no Brasil, mas já agita o mercado da pecuária de corte. Em alguns Estados, como Mato Grosso do Sul e São Paulo, há frigoríficos que já pagam mais pelo boi rastreado. Outros incentivam seus produtores a ingressarem no sistema pagando a taxa de adesão.

O Governo do Paraná resolveu incentivar a rastreabilidade por conta própria, implantando um projeto piloto com criadores voluntários, onde o Estado acompanhará a vida dos animais, com o objetivo de incrementar o setor de forma organizada. O custo do rastreamento será repartido entre governo e pecuaristas e, se possível, com os frigoríficos.

Com tradição na pecuária de corte, o Rio Grande do Sul debaterá a questão na Expointer 2002.

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O Frigorífico Independência, com duas plantas industriais em Mato Grosso do Sul e uma em São Paulo, está pagando ao produtor R$ 2 a mais por boi rastreado entregue para o abate, uma maneira de estimular os seus fornecedores a entrarem no processo.

Nos corredores da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, no entanto, criadores reclamam por mais vantagens no preço do produto rastreado e promovem reuniões com as indústrias. O presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, considera ainda muito pouca a compensação que o Independência e outras indústrias do mesmo porte oferecem. “Queremos um preço diferenciado por arroba. Afinal de contas, os custos são variáveis, dependendo da tecnologia empregada. É hora de o produtor que está rastreando saber negociar com o frigorífico”, diz.

Para o gerente comercial do Independência, João Luiz Mella, o que o frigorífico está fazendo é ajudar o produtor na cobertura desses custos. Um interesse que tem explicação: 70% da produção da empresa (2,8 mil cabeças abatidas por dia nas três unidades) são voltados para exportação.

Apesar do interesse de criadores na região, a oferta do gado sob as novas regras da certificação de origem ainda é gradual. “O produto rastreado passa a ser uma necessidade e se quisermos continuar vendendo, temos que incentivar o produtor”, afirmou Mella, na semana passada, um dia depois de receber para abate, na planta de Mato Grosso do Sul, 700 animais, todos com rastreamento.

Apesar dessa movimentação de frigoríficos exportadores e criadores, analistas ainda consideram cedo para algum reflexo de peso no mercado da carne bovina. O consultor da FNP, Geide Figueiredo lembra que, hoje, a rastreabilidade é uma obrigação apenas para quem visa ao mercado internacional, o que representa 10% da produção brasileira, “nem todo mundo vai mergulhar de cabeça. A questão é o custo: até que ponto vai valer a pena ou não”.

Recompensa por fidelidade

A fidelidade entre fornecedor e empresa garante vantagens para pecuaristas do Rio Grande do Sul. Os produtores mais fiéis ao Frigorífico Extremo Sul, em Capão do Leão, são convidados a ingressar no Sistema Integrado de Rastreabilidade Bovina (Sirb), ganhando a taxa de adesão. “O criador quer receber primeiro para depois fazer. Pensamos da mesma maneira e seduzimos nosso fornecedor”, diz o gerente comercial da empresa, Eduardo Santos.

O programa começou a ser implantado há duas semanas e já tem a participação de seis produtores. Há uma década negociando com o Extremo Sul, o agrônomo Fernando Diaz é um dos escolhidos. Associado ao Sirb desde setembro de 2001, o produtor terá quitada a renovação do contrato com o programa. Especializado na criação e terminação de novilhos há 30 anos, acredita que a medida irá estreitar ainda mais os laços com a empresa.

Paraná desenvolve projeto

O governo do Paraná está assumindo as rédeas da rastreabilidade naquele Estado. Um projeto-piloto com criadores voluntários começa a ser implantado em novembro em propriedades com produção de novilhos precoces onde, pelo menos, o processo de identificação do animal já esteja funcionando.

O secretário de Agricultura paranaense, Deni Lineu Schwartz, revela que a idéia é aproveitar os técnicos da secretaria que vão às propriedades vacinar contra a aftosa para levantar informações sobre o histórico do animal, repassadas ao banco de dados da secretaria. A certificação, explica o secretário, ficaria a cargo de empresas já credenciadas pelo Mapa, mas “quem vai acompanhar a vida dos animais será a Secretaria da Agricultura. O Estado vai assumir esse compromisso”, explica.

Os custos serão repartidos entre criadores e governo e, se possível, frigoríficos. O diretor do Fundo de Apoio à Pecuária do Paraná (Fundepec), Antonio Poloni, explica que o detalhamento do programa está sendo montado com um conjunto de entidades.

Hoje, o rebanho paranaense é de 10 milhões de bovinos. Poloni reconhece que o Estado não tem tradição na pecuária de corte e, por isso, pretende incrementar o setor de maneira organizada. “Somos um dos principais produtores de grãos, mas queremos agregar valor. A exportação de carne é uma alternativa”, pondera o secretário da Agricultura.

No Rio Grande do Sul, a participação do governo na rastreabilidade será debatida com o setor da carne na Expointer (de 24 de agosto a 1o de setembro). O diretor do Departamento de Produção Animal da Secretaria da Agricultura, Walter Leo Verbist, lembra que a realidade gaúcha é diferente, com 16 milhões de cabeças e tradição na pecuária.

Fonte: Zero Hora/RS (por Carolina Bahia e Dionara Melo), adaptado por Equipe BeefPoint

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