Diariamente, a unidade do Bertin em Minas Gerais abate 850 animais. Boa parte da produção da fábrica é destinada à exportação. O gerente de vendas para negócios internacionais do grupo, Hudson Carvalho Silvério, adiantou que, mesmo com a guerra, todos os contratos com importadores do Oriente Médio estão mantidos. “Aliás, eles nos procuraram nesta semana para nos tranqüilizar”.
Segundo Silvério, a empresa manterá todos os acordos, mas caso não seja possível, a carne exportada poderá ser negociada com importadores de outras regiões, como países europeus, que já são atendidos pelo frigorífico. Além da unidade instalada em Ituiutaba, o grupo Bertin possui frigoríficos em duas cidades do interior paulista, no Mato Grosso e em Goiás. Ao todo, as cinco fábricas abatem cinco mil animais dia.
Ele, inclusive lembrou que em 1991, quando os Estados Unidos atacaram o Iraque pela primeira vez, as exportações de carne foram ampliadas. A necessidade de alimentar as tropas no Golfo e de atendimento à população atingida pelo conflito fizeram crescer as exportações, afirmou. “Podemos ter uma situação inversa, ou seja, um aumento das exportações”, acredita.
Em Araguari, o diretor do Mata Boi, Hércio Dias, afirmou que os embarques de carne continuam sendo feitos normalmente. Nesta semana, dois carregamentos foram enviados e outros devem seguir até hoje. “Estamos aguardando os acontecimentos, mas mantemos nosso posicionamento inicial”, disse. Por dia, o Frigorífico Mata Boi abate 500 animais e a carne de 200 deles é destinada a países da Comunidade Européia, do Oriente Médio e da Ásia.
No ano passado, os frigoríficos do Estado exportaram cerca de 200 mil toneladas de carne bovina, segundo estimativas da Secretaria Estadual da Agricultura. Em 2002 foram produzidas em Minas 940 mil toneladas de carne, para um consumo próximo a 730 mil toneladas. A previsão para este ano é que as exportações cresçam 20%, conforme previsões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A carne produzida no Estado já é consumida em 86 países. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes de Minas Gerais (Sindicarne-MG), Eurípedes José da Silva, além das exportações de carne bovina, a previsão é que haja aumento nos negócios do setor de suínos e de aves.
Estabilidade
O mercado interno também se mantém estável, mas essa tendência pode ser alterada caso haja uma queda no volume de negócios com os países árabes, que são um importante mercado de consumo da carne brasileira. O preço da arroba, que já deveria ter recuado, continua sendo negociado acima dos R$ 50 em quase todas as regiões produtoras.
Segundo o presidente do sindicato das indústrias frigoríficas do Triângulo Mineiro (Sindicarne), Everton Magalhães Sigueira, se houver aumento na oferta interna, o preço da arroba pode cair. Cotada entre R$ 53 e R$ 55 na região, o preço está acima da média histórica, de acordo com ele. “A boa oferta para exportação e o fraco desempenho do mercado interno têm mantido o preço em alta, mas uma retração nas exportações pode inverter esse cenário”, ressaltou.
Goiás
O conflito no Oriente Médio também preocupa exportadores do Estado de Goiás. As indústrias do setor movimentaram no ano passado US$ 100 milhões apenas com exportações. Boa parte desse montante é originário de negociações com países do Oriente Médio. Se o conflito entre os Estados Unidos e o Iraque se prolongar, a balança comercial do Estado poderá ser afetada seriamente, afirma o presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira.
A dificuldade de chegar com os navios no Oriente Médio para a entrega da carne será o fator que desacelerará as negociações com os países árabes neste período, afirma o diretor para o Centro-Oeste da Perdigão, Euclides Costenaro. Segundo ele, além das dificuldades de se encontrar navegadores dispostos a entrar no Golfo Pérsico, os que continuarão percorrendo a rota cobrarão mais caro pelo serviço, cujo preço já teve aumento de até 50%.
Fonte: Jornal Correio/Uberlândia (por Rafael Godoi), adaptado por Equipe BeefPoint