Diversos frigoríficos goianos iniciaram a semana apresentando severas restrições na compra de animais cruzados para abate, reduzindo preços ou até mesmo recusando ofertas. A denúncia foi feita pelo coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antenor Nogueira, que promete encaminhar imediatamente documento ao ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, pedindo providências. “Isso é um crime contra a pecuária nacional, pois não há nada que justifique essa atitude intempestiva dos frigoríficos”, afirma Nogueira.
O gerente de compra de gado do Frigorífico Margem, Adalberto José da Silva, admite que há restrições ao boi cruzado, mas assegura que continua adquirindo esse tipo de animal em determinadas condições. “Hoje, por exemplo, estamos pagando o cruzado castrado a R$ 40,00 a arroba, enquanto pelo boi nelore pagamos a R$ 43,00 a arroba”, diz Silva, argumentando que o boi cruzado tem má conformação de carcaça, insuficiência da cobertura de gordura e baixo rendimento na desossa.
A mesma argumentação é apresentada pelo gerente de compra de gado do Frigorífico de Cachoeira Alta (Frigoalta), Romero César, que não esconde seu desinteresse por boi cruzado inteiro (não castrado). “Pelo cruzado castrado, com peso de 16 arrobas acima, estamos pagando o preço do nelore, ou seja, a R$ 43,00 a arroba, mas fora desse padrão pagamos bem menos”, afirma César, explicando que por não ter a mesma aparência e não apresentar-se tão palatável quanto a carne do nelore, a carne do boi cruzado chega a ser rejeitada por alguns supermercados.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes (Sindicarne), José Magno Pato, esclarece que o boi cruzado, às vezes, mesmo gordo, não apresenta acabamento, isto é, a conformação necessária dos cortes e cobertura de gordura uniforme em toda a carcaça. “Isso traz muita dificuldade para os frigoríficos, principalmente os exportadores, pois o mercado internacional é exigente em relação à padronização dos cortes”, argumenta. Ele explica, entretanto, que o boi cruzado em questão, é o boi de raça indefinida, produto da miscigenação sem controle das diversas raças, o que não é o caso do cruzamento industrial para produção do novilho precoce.
Para Antenor Nogueira, porém, tudo não passa de atitude oportunista dos frigoríficos, que se aproveitam de um momento de elevada oferta de animais para espoliar ainda mais o produtor. “Vamos reivindicar ao ministro da Agricultura a imediata adoção de um Programa Nacional de Tipificação e Classificação de Carcaça, que aliás já existe na legislação, mas os frigoríficos sempre opõem resistência à sua implantação”, protesta o coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte. Segundo ele, é muito estranho que só agora os frigoríficos goianos tenham percebido que a carne do boi cruzado é diferente da carne do nelore.
Fonte:O Popular/ GO (por Edimilson de Souza Lima), adaptado por Equipe BeefPoint