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Fuga do risco e medo de recessão global derrubam preços de soja, milho e trigo

Em julho, os problemas climáticos continuaram a preocupar produtores de algumas das mais importantes culturas agrícolas em diferentes partes do mundo. Mas o desempenho desses produtos nas bolsas internacionais não deixa dúvida: a aversão ao risco no mercado financeiro e o temor de que a economia global entre em recessão dominaram as atenções dos investidores no último mês.

Segundo cálculos do Valor Data feitos com base na média dos preços dos contratos que ocupam a segunda posição de entrega, soja, milho e trigo encerraram o mês com recuos de dois dígitos na bolsa de Chicago. As quedas foram de 11%, 14,4% e 19,8%, respectivamente.

Em seus esforços para controlar a inflação nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) já aumentou os juros básicos do país quatro vezes neste ano — a mais recente foi anunciada na última quarta-feira. Investidores, economistas, analistas e setor produtivo temem que as medidas do banco central americano enfraqueçam a atividade econômica nos EUA. Como o dólar exerce um papel de reserva de valor para governos e empresas de todo o mundo, o desaquecimento pode se alastrar pelo planeta.

A estratégia do Fed também tem como consequência a mudança nas carteiras de investimentos de fundos especulativos e de grandes investidores institucionais, como fundos de pensão. Muitos deles têm regulamentos que determinam que, em momentos de alta dos juros nos EUA, os gestores reduzam posições em ativos considerados mais arriscados, como as commodities agrícolas, para redirecionar esses recursos ao dólar ou aos títulos do Tesouro americano.

Para analistas, essas são algumas das razões para que os preços agrícolas tenham recuado, ainda que os fundamentos de oferta e demanda desses produtos sugerissem o oposto. Ao cair pelo terceiro mês seguido, o milho ficou perto de “zerar” a valorização deste ano — a cotação média foi de US$ 6,0270 em julho, o que representa uma alta de apenas 1,6% em 2022. A queda no mês passado ocorreu a despeito da falta de chuvas em áreas de cultivo nos EUA e da indefinição sobre a retomada das exportações ucranianas pelo Mar Negro, paralisadas desde a invasão russa ao país, em fevereiro.

É verdade que os preços dos grãos continuam bem acima de suas médias históricas. O trigo, por exemplo, foi negociado por US$ 8,2140 em julho, em média. Mesmo com a forte queda no último mês e de agora acumular alta modesta, de 3,6%, em 2022, o trigo subiu 22% nos últimos 12 meses.

O declínio do trigo é um caso bastante eloquente sobre a forte instabilidade das cotações agrícolas. As lavouras sofrem com a falta de chuvas na Europa, o bloqueio às exportações ucranianas, e, ainda assim, o cereal encerrou o mês em queda pronunciada. Entre fatores tão contraditórios entre si — de um lado, guerra e falta de chuvas a limitar a oferta; de outro, inflação e aumento de juros a ameaçar a demanda —, o resultado é a volatilidade. “A guerra é um elemento a mais [de instabilidade] em um mercado [com oferta] já bastante apertada”, disse ao Valor o economista-chefe do Departamento de Agricultura americano (USDA), Seth Meyer, no início desta semana.

Na bolsa de Nova York, todas as “soft commodities” recuaram em julho. Afetado pelo temor de recessão, pela aversão a ativos de risco nos mercados financeiros e, também, pela diminuição das importações chinesas, o algodão recuou 22% e liderou as quedas. Com o desempenho, a pluma encerrou o mês negociada por menos de US$ 1 a libra peso, o que não ocorria desde setembro do ano passado.

Neste ano, açúcar, cacau e café, além do algodão, acumulam queda, e o suco de laranja, alta de quase 20%. O cacau, que tem hoje a mais longa série de baixas entre as principais commodities agrícolas negociadas em Nova York e Chicago — já são cinco meses de queda consecutivos —, agora acumula desvalorização também em 12 meses, de 0,65%.

Fonte: Valor Econômico.

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