Ainda que acredite que o veto da Arábia Saudita a cinco unidades frigoríficas brasileiras que exportavam carne de frango a seu mercado tenha motivações técnicas e sanitárias, Rubens Hannum, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), reconhece que a ameaça do governo Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém complica qualquer negociação entre o Brasil e os países árabes neste momento.
“Os países árabes estão preocupados, já que uma eventual mudança da embaixada colocará as relações em risco. Mesmo nesse caso da Arábia Saudita, cujas questões são técnicas, esse “ruído” atrapalha”, disse Hannum. “E isso vale para os países árabes como um todo. A questão é sensível, subjetiva e intangível. Ou seja, é muito mais difícil de contornar do que no caso de questões técnicas como as que foram levantadas pela Operação Carne Fraca, por exemplo”.
Quando a Carne Fraca veio à tona, em março de 2017, e revelou um esquema de corrupção entre fiscais agropecuários federais e funcionários de frigoríficos, a Câmara Árabe rapidamente buscou esclarecer aos países árabes importadores de carnes brasileiras do que se tratava e ajudou a evitar que barreiras a produtos brasileiros fossem erguidas. A entidade vem tentando tranquilizar os importadores diante do imbróglio da embaixada, mas nesse caso as conversas têm sido mais difíceis.
Hannum revelou que nas próximas semanas uma missão da Câmara Árabe irá à Arábia Saudita para se reunir com o ministro responsável pelo projeto “Saudi Vision 2030”, que busca estimular avanços em diversos setores produtivos do país.
No caso da carne de frango, lembrou Hannum, a meta é que a produção local passe a representar 60% da demanda doméstica, percentual que atualmente é de cerca de 30%.
Segundo a CCAB, as exportações brasileiras para os 22 países que compõem a Liga Árabe renderam, no total, US$ 11,5 bilhões em 2018, 15,5% menos que em 2017. No caso da carne de frango, os embarques somaram US$ 2,2 bilhões, em queda de 16,1%. A Arábia Saudita liderou as compras, com US$ 808,5 milhões, e foi também o principal destino das exportações brasileiras do produto como um todo.
Fonte: Valor Econômico.