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Gado estimula desmatamento, diz estudo

A “conexão hambúrguer” contra a floresta amazônica está de volta, desta vez para valer. Um estudo internacional divulgado hoje destaca a pecuária de corte como motor do desmatamento recente na Amazônia brasileira. Se a hipótese for correta, as taxas de corte vão continuar subindo.

De fato, os números de desmatamento para 2003 – que deverão ser anunciados na semana que vem pelo governo federal – confirmam essa tendência. Segundo a Folha apurou, a marca anterior de 25.400 km2 será repetida ou superada. Isso equivale a cinco vezes a área do Distrito Federal.

Quem pretende pegar carona na divulgação é o Centro para Pesquisa Florestal Internacional, mais conhecido como Cifor (www.cifor.cgiar.org).

O centro ressuscita no relatório “A Conexão Hambúrguer Alimenta a Destruição da Amazônia” uma idéia lançada em 1981 pelo britânico Norman Myers de que havia uma ligação entre a derrubada de florestas tropicais e a carne bovina consumida em países ricos. Ele tinha em mente a América Central, mas foi a Amazônia brasileira que levou a fama, embora naquela época o Brasil exportasse muito pouca carne.

O relatório coordenado pelo economista David Kaimowitz, presidente do Cifor, lança o alerta de que agora essa relação começa a fazer sentido no Brasil.

De 1995 a 2003, as exportações brasileiras de carne subiram de US$ 500 milhões para US$ 1,5 bilhão. O consumo interno quadruplicou entre 1972 e 1997. E 80% do acréscimo na produção se deu na Amazônia, induzindo a conversão de floresta em pastagens.

Essa expansão teria sido favorecida por três fatores: a desvalorização do real nos últimos cinco anos, o combate à febre aftosa e a modernização da Amazônia.

Para Kaimowitz, 45, a pecuária amazônica deixou de ser coisa de aventureiros que se apoderavam de 100 hectares (1 km2), ou de gigantescas fazendas induzidas por incentivos fiscais: “Está no caminho do modelo do agronegócio”. Os pecuaristas estão capitalizados e já não dependem de subsídios governamentais. “O Cifor vem monitorando essas transformações nos últimos cinco anos.”

O biólogo Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), uma organização não-governamental que produziu vários estudos sobre a dinâmica socioeconômica por trás do desmatamento, elogia o estudo do Cifor: “Acho que o foco sobre a pecuária tem toda razão de ser. A liberação de área em relação à aftosa é um dos motivos da expansão do desmatamento e é o que a gente mostra em um livro que sairá em alguns dias”.

Moutinho diz, porém, que o problema da pecuária não pode ser desconectado da expansão da soja na região. “Muitas vezes é a soja que capitaliza o pecuarista, empurrando-o para áreas de floresta ainda em pé.”

O relatório do Cifor pede que a comunidade internacional dê mais recursos ao Estado brasileiro para que ele possa investir em medidas para contrabalançar essa tendência. Não toca na política restritiva acordada com o FMI pelo governo Lula, mas Kaimowitz reconhece, em entrevista, que as restrições a investimentos fazem parte do problema: “Eu apóio uma política fiscal mais flexível”.

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Fonte: Folha de São Paulo (Marcelo Leite), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Névio Primon de Siqueira disse:

    Acho que é uma afirmação muito simplista essa de que o boi é o culpado pela devastação da Amazonia. Como o próprio artigo já diz, a soja vai empurrando a pecuária para novas fronteiras e nem por isso a soja é tampouco a culpada. Quem sabe os culpados sejam os países que estão importando carne brasileira.

    Só acho que o mundo todo se preocupa com a nossa Amazonia, ou seria com a nossa capacidade de produção de carne, soja, milho, feijão, algodão, laranja, café, etc…

    O nosso Brasil tem uma área enorme e a mesma pode sim ser bem explorada (não precisa ser devastada), o que resultaria em alimento para exportação e mercado interno, consequentemente, riqueza para o Brasil. Talvez isso resulte tambem em menos riqueza para outros países, e aí o bicho pega.

    Se a preocupação quanto ao meio ambiente, produção de oxigênio para o mundo, etc, porque ninguém ou nenhum país do mundo rico ou que se dizem do primeiro mundo (que com toda sua capacidade de raciocínio e inteligência acabaram com suas florestas, para transformá-las em terras produtivas), “importem legalmente” o oxigênio produzido pela Amazonia, ou seja, paguem por ele.

    É muito bom produzir na sua terra e usar o oxigênio do vizinho.

    Fique claro que não sou a favor de acabar com a Amazonia e nem com qualquer ecosistema. Sou a favor da exploração racional da terra, e tambem da divisão do onus de ser o pulmão do mundo. Querem biodiversidade, oxigenio, natureza, pois então que paguem por isso.

  2. José Hermano Machado disse:

    Não bastam os subsídios, não bastam as barreiras alfandegárias ou sanitárias.

    Vamos colocar as ONGs e outras instituições neste mix, com o intuito de bloquearmos esses competentes produtores do Brasil, porque se deixarmos, eles irão ao longo do tempo, dominar o mercado mundial de alimentos.

    E nós como ficaremos???

    Desculpem, mas parece-me uma grande piada, e só assim consigo tratar este assunto.

  3. Gumercindo Loriano Franco disse:

    O relevante estudo “Conexão hambúrguer alimenta a destruição da Amazônia”, publicado pelo CIFOR (Centro para a Pesquisa Florestal Internacional), reporta um assunto de extrema importância com desdobramentos sobre a biodiversidade e o futuro da vida no nosso planeta. Porém, tenta macular a imagem da bovinocultura de corte, um segmento que gera mais de 7 milhões de empregos em toda sua cadeia e tem uma expressiva participação no produto interno bruto (PIB) daquela região e do país.

    Historicamente, a bovinocultura migrou para a Amazônia Legal devido a expansão da cana-de-açúcar, laranja e grãos na região Sudeste e, principalmente, por meio de incentivos governamentais nas décadas de 60 e 70, como o CONDEP e o PRONAP. A Amazônia Legal abrange nove estados e representa mais de 50% do território nacional!!

    Assim, o Brasil dificilmente alcançaria o status de grande exportador de produtos agropecuários sem lançar mão de algumas áreas agricultáveis desta região.

    Como não há nenhum zoneamento agro-ecológico, que possibilitaria a preservação de algumas áreas e a utilização sustentável dos recursos naturais, o ritmo de desmatamento tem sido acelerado, motivado principalmente pelas ótimas condições edafoclimáticas para a agropecuária com um significativo retorno sobe o capital investido.

    Ações governamentais pró-ativas, como a citada acima, evitará que num futuro muito próximo algumas organizações ecológicas digam “para preservar a Amazônia, não consuma carne bovina”.