O pecuarista Antônio Vilela de Queiroz foi um entusiasmado defensor de uma técnica de melhoramento genético conhecida como cruzamento industrial, que mistura raças zebuínas e européias de gado. “Era uma tendência que parecia irreversível na pecuária brasileira”, diz o criador, que chegou a ter 10 mil animais produtos de cruzamento e hoje está liquidando o plantel.
Assim como Queiroz, um número crescente de pecuaristas está reduzindo os investimentos em cruzamento industrial. Os frigoríficos começaram a boicotar animais oriundos de cruzamento em razão do baixo índice de gordura. Sem capa protetora de gordura de, no mínimo, 5 milímetros de espessura, a carne refrigerada torna-se escura, endurece e as fibras encurtam, desvalorizando o material e alterando o sabor.
E o cruzamento, que parecia uma tendência irreversível na pecuária brasileira, encolheu 20% nos últimos dois anos. Isso pode ser medido pela venda de doses de sêmen de gado europeu, que é a base do cruzamento industrial. Embora a inseminação seja pouco representativa no rebanho brasileiro – atinge apenas 7% das vacas em idade de procriação – ela dita uma tendência no setor, já que é usada sobretudo por grandes criadores, que são a vitrine da pecuária brasileira.
O cruzamento tinha tudo para ganhar espaço no Brasil porque, na mistura de raças, o bezerro resultante herda as melhores características dos animais europeus (precocidade sexual e maciez da carne) e o melhor dos zebuínos (rusticidade).
Segundo estudos da Embrapa Gado de Corte, o cruzamento chega a aumentar o peso da desmama em até 25%. Os animais ganham peso mais rápido e vão para o abate mais cedo, o que significa mais lucro.
“A verdade é que muitos criadores embarcaram no cruzamento industrial sem muito embasamento técnico, e sem tomar os devidos cuidados na nutrição desses animais (que comem mais) e na sanidade, já que são mais vulneráveis a ataques de vermes e moscas”, diz Paulo Ricardo Zemella Miguel, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).
“Enquanto os outros estão reduzindo investimentos, estamos apostando mais alto”, afirma Roberto Barcellos, da Fischer Agropecuária. Ele diz que muitos criadores embarcaram no cruzamento industrial sem o profissionalismo necessário. “Tem muito criador que, na hora de comprar sêmen de um reprodutor, escolhe o animal pela foto”, diz.
“O manejo do produto de cruzamento industrial é específico. Tem produtor que pensa que basta soltar o gado no pasto. Não é bem assim”, diz o pecuarista Luiz Eduardo Batalha, da Chalet Agropecuária.
“O pecuarista precisa entender que o cruzamento industrial é um avião que não anda com gasolina comum”, afirma Barcellos.
“Na época em que a oferta de carne é grande no mercado, pagamos um prêmio de R$ 1 pelos animais que não são produtos de cruzamento”, diz Queiroz. Um dos maiores frigoríficos brasileiros, o Bertin, por exemplo, não aceita cruzamentos de gado da raça holandesa.
“Nunca me descontaram o preço pelos meus cruzamentos; pelo contrário, sempre me pagaram ágio pelos animais”, diz Batalha. “Na verdade, os frigoríficos não estão pagando menos pelos cruzamentos industriais. Eles estão pagando menos pela carne de qualidade ruim, seja ela de animais mestiços ou não”, diz.
Apesar da redução da utilização dos cruzamentos, esse segmento está longe de sumir do mapa da pecuária. “O primeiro mestiço nascido de um cruzamento de raças puras quase sempre é excepcional”, diz Zemella. Esse bezerro vai ao abate, por exemplo, quase seis meses antes de um nelore. O problema, diz, é quando animais mestiços são misturados entre si. “O choque entre os sangues perde força e, consequentemente, o bezerro resultante não herda as características economicamente interessantes para o criador, como rápido ganho de peso e precocidade sexual.”
A fase ruim do cruzamento industrial coincide com o excelente momento da criação de zebuínos, notadamente o nelore. “Avanços genéticos importantes aconteceram com o nelore, valorizando o rebanho”, diz um criador.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Lucia Kassai e Paulo Soares), adaptado por Equipe BeefPoint
0 Comments
Precocidade vem da conversão e esta da alimentação.
Cobertura de gordura já sabemos quais são as raças que tem a melhor, mas de qualquer forma com um sistema de alimentação adequado se define a cobertura de gordura desejada.
O mais importante de toda esta polêmica, é que não cabe amadorismo nem na pecuária.
Sou leitor assíduo das matérias do BeefPoint, e me manifesto, em protesto sobre matérias e comentários infundados sobre a qualidade dos animais oriundos do cruzamento industrial, e profissionalismo dos criadores envolvidos com a área.
Fiquei admirado ao perceber criadores de nelore, a raça carro chefe do Brasil, se portarem de forma absurdamente anti-ética, falando e tecendo comentários sem nenhum conhecimento técnico e muito aquém da verdade.
Em todas as raças existem animais que contribuem de forma mais significativa para a pecuária nacional, e, o cruzamento industrial, é uma ferramenta muito importante para a qualidade da carne brasileira.
Hoje já existem grandes projetos, unindo produtores de cruzamento industrial e a indústria frigorífica, no sentido de obter qualidade de carne excepcional, visando atender as necessidades da elite do mercado interno, e com grande foco no mercado europeu.
Como criador em ascensão (ao contrário do que vêm sendo dito), me coloco à disposição, para qualquer esclarecimentos que se façam necessários, visando informações corretas e dentro da verdade,ao público.
Com certeza o cruzamento industrial é uma realidade e um divisor de águas da pecuária moderna, desde que corretamente utilizado.
O pecuarista deve se basear em alguns critérios importantes como por exemplo a aquisição de semen ou de touros melhoradores que além da heterose podem proporcionar a chamada genética aditiva sem se esquecer do manejo sanitário e nutricional que são fatores importantes para o sucesso dessa técnica e para a rentabilidade do pecuarista que estará colocando uma carne padronizada e com uma qualidade superior no mercado.