No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.
Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.
Confira abaixo, a entrevista com Gedeão Silveira Pereira, um dos indicados ao Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Liderança pecuária.
Gedeão Silveira Pereira é médico veterinário e produtor rural. Vive no campo, trabalha com pecuária e também com agricultura. Tem uma empresa familiar em Bagé – RS, administrada por ele e seu filho. Na área sindical, já foi presidente do Sindicato/Associação Rural de Bagé, entre 1992 e 1998. Atualmente, é vice-presidente da Farsul.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?
Gedeão Silveira Pereira: Hoje, a pecuária de corte do Sul do Brasil tem a característica de se localizar na metade sul do estado. A metade norte virou praticamente agricultura de soja, milho e trigo.
A pecuária do Sul enfrenta novos desafios. Nós passamos a viver em uma nova fronteira agrícola brasileira, na metade sul do estado, onde a soja está chegando com forte impacto na atividade, obrigando nós, produtores, a repensarmos a nossa atividade de pecuária de corte, no sentido de levarmos ela a uma estabilidade, evidentemente, com muito mais tecnologia do que se usa hoje.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Gedeão Silveira Pereira: A pecuária do Sul é competitiva porque ela é baseada em cima de forrageira, em cima de pasto. Na maioria do RS encontra-se pasto nativo e nas propriedades mais evoluídas, pastagens cultivadas.
Atualmente, com a utilização das plantas C4 (nossa região é uma das poucas regiões no mundo que se pode utilizar os dois tipos de plantas, tanto as forrageiras C4 como outras de clima temperado), nós acreditamos que essas soluções tecnológicas de futuro vão permitir que a pecuária continue no mesmo efetivo de hoje, cedendo muito mais área para a agricultura, mas ao mesmo tempo sendo competitiva.
Uma pessoa que eu admiro na liderança do agronegócio gaúcho, é o presidente da Farsul, Carlos Sperotto. Ele é uma pessoa única. Não é pecuarista, é agricultor, mas é uma pessoa que exerce uma forte liderança, portanto, merece nossa admiração.
BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?
Gedeão Silveira Pereira: Isso já está acontecendo, por vários motivos. Um deles é a dificuldade da Argentina em exportar a sua carne (considerada a melhor carne do mundo, ou pelo menos era considerada, pois as políticas utilizadas lá e a entrada da soja, fizeram com que o rebanho argentino diminuísse).
O Uruguai também tem uma inconstância de oferta e como as grandes churrascarias de São Paulo querem e pagam pela qualidade, elas exigem as raças britânicas e suas derivadas, que seriam as raças Braford, Brangus, Hereford, Angus e outras também, que existem com certa escassez, mas fazem parte do mercado.
Nós temos aqui no RS programas de carne licenciados pelas associações de Hereford e Angus, de frigoríficos, como o Marfrig e o Silva, fazendo uma remuneração diferenciada ao ponto de nós termos preços até melhores que os preços de São Paulo.
Até mesmo o JBS, que não possui nenhuma planta no RS, hoje está levando animais britânicos daqui para o seu confinamento em Guaiçara, ao lado de Lins, no estado de São Paulo, onde abate animais de procedência britânica e também pagando um preço diferenciado para levar esses animais para outro estado.
Já estamos trabalhando nesse nicho de uma das melhores carnes do mundo, pois essa é a única região do Brasil que tem condições de criar raças britânicas, em função do clima que temos no Sul, próximos ao Uruguai, Argentina e Chile.
O desafio da pecuária do RS é continuar intensificando a britanização. Isso é uma realidade, pois no passado o RS perdeu sua qualidade, por conta do uso de raças zebuínas, e por uma exigência da indústria frigorífica, passou a britanizar os gados e hoje a realidade é bem diferente, pois o efetivo pecuário do RS atualmente é predominantemente britânico.
BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Gedeão Silveira Pereira: Eu acho que a novidade é nos conseguirmos concentrar mais os animais por unidade de área ofertada e sempre em base de pastos, pois a pecuária só é realmente efetiva dessa maneira.
Hoje, com o preço dos grãos, com o custo do farelo de soja, a atividade de confinamento, ainda que muito exercida em São Paulo e no Brasil central, é uma atividade de rentabilidade muito apertada, em função do custo dos grãos.
Acho que o grande desafio e a grande novidade é o aparecimento das plantas C4, que podem ser usadas durante o verão, para continuarmos mantendo o mesmo efetivo pecuário que tínhamos antes e ofertando e liberando mais área para a agricultura, que está chegando com grande impacto na economia regional.
BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?
Gedeão Silveira Pereira: A criação de raças britânicas, pois é uma forma de competir melhor. Em função da escala de nossas propriedades, jamais vamos conseguir competir com a commodity carnes do Brasil central, que produz a partir das raças zebuínas com muita qualidade, com muita ênfase, em função de colocarem mais animais por hectare, por trabalharem com plantas C4, em função do clima tropical.
Não vamos conseguir competir com essa escala de produção. Portanto, o RS para se tornar competitivo, tem que se diferenciar e essa diferenciação é através das raças britânicas, que o Brasil central não consegue produzir.
No Brasil central, eles conseguem obter o cruzamento de raças britânicas com raças zebuínas, já no RS nós conseguimos ter uma raça britânica pura e também seus cruzamentos.
A competitividade do RS está na criação de raças britânicas e na intensificação do processo via pastos de qualidade, tanto de inverno como de verão.
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?
Gedeão Silveira Pereira: A introdução das plantas C4 no período verão e intensificação da agricultura de soja. Já tínhamos arroz e sorgo, agora implementamos a soja, com sucesso aqui na região.
Há aproximadamente 4 anos, não conseguíamos implementar a soja, mas agora, com as mudanças tecnológicas e as variedades da cultura, isso é possível.
Em Bagé, por exemplo, em 2 anos saltamos de 3 mil hectares para 85 mil hectares de soja. Ou seja, esse espaço era todo ocupado pela pecuária de corte.
Várias regiões no Sul estão cedendo espaço para a soja, este é o grande impacto que estamos vivenciando hoje e estamos procurando soluções para ceder espaço para a agricultura, mas sem perder o efetivo pecuário.
BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Gedeão Silveira Pereira: O que mais traz resultados evidentemente é a agricultura. Dentro da pecuária, a cria tem sido mais rentável.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013?
Gedeão Silveira Pereira: Intensificar mais a agricultura, sem diminuir a pecuária.
BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?
Gedeão Silveira Pereira: Deixo para os pecuaristas uma mensagem de otimismo porque estamos vivendo em um mundo que se transformou. Ainda que neste momento o boi não tenha acompanhado o preço das commodities como soja e milho, ele deverá ser valorizado em um breve espaço de tempo novamente, justamente porque a demanda por proteína no mundo tem crescido com a entrada da China, da Índia e com o próprio crescimento brasileiro.
Eu acho que temos um cenário positivo pela frente e sou muito otimista em relação a isso. Acho que vamos continuar vendendo grãos com bons preços e isso aliado a pecuária de corte, que tem preços razoáveis, é um bom cenário para o agropecuarista brasileiro e na minha opinião, teremos bons momentos nos próximos anos.
BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?
Gedeão Silveira Pereira: Houve uma grande concentração frigorífica no Brasil e ainda estamos avaliando se isso é bom ou ruim. De qualquer maneira, pelo menos momentaneamente, nós afastamos os calotes da pecuária brasileira, pois os frigoríficos que tinham que fechar, fecharam as portas e ficaram os grandes frigoríficos hoje apoiados pelo BNDES, que é o caso do JBS e do Marfrig.
Nós gostaríamos de ter mais tempo para avaliar se essa concentração de frigoríficos foi benéfica para o setor. Sabemos, evidentemente, por um lado é positivo, pois o Brasil passou a dominar o cenário internacional da carne bovina, como maior exportador.
Eu acho que isso é um cenário positivo. Sobre a concentração em cima do produtor brasileiro, eu ainda gostaria de ter mais tempo para avaliar se isso está sendo benéfico ou não.
Quanto ao varejo, nós sabemos que o grande inimigo de todas as cadeias produtivas é a concentração de supermercados. Realmente, há uma grande concentração de supermercados e eles fazem muitas manobras, não só na cadeia da carne bovina, mas em todas as outras cadeias do agronegócio.
Os supermercados só conseguem praticar preços bons aos produtores quando são obrigados pelo mercado internacional, quando isso se torna competitivo, é o caso da carne.
Se fica somente nas mãos dos supermercados, eles não baixam os preços e a margem maior de lucro fica para eles, não para a indústria e nem para o produtor.
A minha maior preocupação sempre tem sido em relação à alta concentração de supermercados.
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1 Comment
Sr. Gedeão,
Qual espécie forrageira C4 os senhores estão utilizando no Rio Grnade do Sul.
Moro no Alto Vale do Itajaí, SC, tenho bons resultados com Tifton 85, inclusive com boa produção no inverno.
Abraço.
Rubens