O pedido de criação de um imposto, seja lá qual for o valor deste, sobre as exportações de gado vivo, interposto no MDIC/CAMEX pelas três irmãs (ABIEC, ABRAFRIGO e a recém criada UNIEC como entidade nacional), além de espúrio é, como bem diz o Dr. Carlos Viacava em recente artigo no site BeefPoint (A cadeia quebrada): “… vergonhosa essa atitude e um desrespeito total a propalada ideia de integração da cadeia produtiva da carne. Um verdadeiro ato de traição aos demais elos de uma cadeia…..”
Na verdade, Dr. Viacava, o desrespeito transcende os elos da cadeia da carne, configurando-se em verdadeiro atentado à economia dos estados exportadores, e subjuga a inteligência dos senhores Ministros que integram o Conselho da CAMEX (Fernando Pimentel, Guido Mantega, Miriam Belchior, Mendes Ribeiro Filho, Gleisi Hoffmann, Antonio Patriota e Afonso Florence) e também a da própria Presidenta. O que estão querendo as três irmãs? Induzir a Presidenta Dilma a se tornar uma Cristina Kirchner, taxando os produtos primários que representam mais de 40% das exportações brasileiras?
O estado do Pará é responsável por 95% das exportações de bovinos vivos do Brasil e, mesmo assim, possui um dos menores preços de arroba do boi gordo do Brasil, hoje R$84,00 a R$85,00 à vista no Sul do Pará, região que detém o maior rebanho do Estado. O que querem os frigoríficos locais (notadamente o maior deles, que é quem realmente está por trás da proposta de taxação), …receber o boi grátis?
Alguns grandes frigoríficos (enfatizando que a proposta de taxação da exportação de gado vivo não é unanimidade entre as indústrias) e suas associações se especializaram em lutar por benesses para o setor. É “desoneração pra cá”, “desoneração pra lá”, gigantescos financiamentos e incentivos do BNDES e do Governo Federal, mas muitas vezes direcionam os recursos para fora do Brasil, dando força à produção de nossos concorrentes no mercado internacional. Hoje em dia, dois terços dos empregos gerados por um destes grupos, que se tornou o maior do mundo, estão fora Brasil, ou seja, discursam em favor da geração de emprego e renda aqui, mas, por outro lado usam recursos subsidiados e incentivos do governo federal para aumentar a produção, dar lastro e gerar empregos em países como Estados Unidos e Austrália, que competem com o Brasil nas exportações de carne e gado vivo.
O tema da taxação das exportações de gado vivo no Brasil, já que erroneamente foi colocado em pauta, precisa ser discutido com dados técnicos, elaborados por especialistas. Todavia, os argumentos utilizados por frigoríficos para justificar o pleito são pífios. São números mágicos e totalmente tendenciosos.
Alegam agora, depois da repercussão negativa do caso, que exageraram na dose ao pedir a criação de um imposto de 30%. Mas todos sabemos que qualquer taxa sobre a comercialização de commodities acaba por minar a competitividade do setor, muitas vezes inviabilizando a atividade.
A ABEG está pronta para sentar com a UNIEC, ABRAFRIGO e ABIEC, bem como com produtores, pesquisadores, extensionistas e governo, para discutir a criação e o repasse de recursos ao setor produtivo, visando a tecnificação da pecuária, para que o produtor seja capaz de aumentar seu rebanho e produção sem a necessidade de ampliação de área, produzindo com mais volume, qualidade e sustentabilidade (econômica e socioambiental), e assim atendendo à demanda de exportadores de gado vivo e indústrias de carne bovina, gerando emprego e renda para o Brasil. Estamos prontos para uma discussão construtiva e produtiva, que consolide a cadeia e aumente a competitividade desta, pois estamos passando um momento de grandes transformações na pecuária, que precisa se tornar mais competitiva e rentável, a fim de fazer frente a outras atividades e assim seguir crescendo. Acreditamos que esse deve ser o nosso foco, que é nessa direção que devemos concentrar nossas energias.
Não é uma vergonha e, no mínimo, total falta de bom senso, organizações tão poderosas como as três irmãs, resolverem atacar um nicho tão pequeno de mercado? A exportação de bovinos vivos, no ano de 2011, representou apenas 0,97% do abate nacional.
Como se comportariam as três irmãs se o DIEESE chegasse à conclusão que o preço da carne no mercado interno está muito alto e assim resolvesse pedir à CAMEX taxação das exportações de carne, como foi feito na Argentina recentemente? Ah…, só para deixar claro, nós da ABEG nos posicionaríamos contra esse absurdo sem tamanho, pois seria um golpe duro e descabido para toda a cadeia produtiva, e também porque não consideramos a indústria da carne bovina nossa inimiga. Nossa pecuária é muito grande, há espaço para todos.
Reforçamos o convite. Que tal os grandes grupos frigoríficos, que tiveram força política para captar através de investimento direto ou financiamento mais de 20 bilhões do BNDES com taxas e condições privilegiadas, juntarem-se a nós exportadores de gado vivo e, principalmente, aos pecuaristas e agricultores brasileiros, para pensarmos em uma forma de deixar a pecuária mais rentável e competitiva?
Estamos prontos para fazer deste grande erro das associações de frigoríficos uma grande oportunidade para redirecionarmos as discussões ao que realmente importa. Nossos números são pequenos, mas, pensamos grande no intuito de promover a pecuária e não conseguiremos fazer nada sozinhos.
Quem se interessar em conhecer mais o setor exportador de gado vivo, sua importância e de que forma ele contribui para o desenvolvimento da pecuária (elo mais importante da nossa cadeia produtiva, onde realmente se agrega valor e se cria empregos), acesse www.abegbrasil.org.
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Gil Reis – Superintendente Nacional da Associação Brasileira dos Exportadores de Gado – ABEG
6 Comments
Gil lembrou uma coisa certa: quem exige imposição de taxas a outrem não pode depois reclamar de eventuais retenciones à la Kirchner.
Como disse anteriormente, se continuar como esta, pecuarista vai virar escravo dos frigorificos, e a questão BNDES e o Grandão Mundial é vergonhosa, não estão um pouco preocupados com Brasil, pecuaristas precisam se aliar aos pequenos frigorificos exportadores e de mãos dadas se fortalecerem juntos, ou vão virar peão de campo dos frigorificos e olha que tem muitos que não tem mais idade para laço.
NÃO para o “MONOPOLIO”
Muito sensato e pertinente o artigo do Sr Gil Reis. O que nós pecuaristas necessitamos é sermos reconhecidos como parceiros dentro da cadeia produtiva do nosso setor. Se tivessemos esse reconhecimento não viveriamos essa realidade monopolistica que “abre a torneira dos preços” pagos pela arroba abaixo do mínimo necessário para o setor. Parabens à ABEG por incluir o produtor rural em suas preocupações, mesmo que de forma indireta.
Triste realidade da mentalidade dos que se tornaram poderosos as custas do dinheiro do povo, através de influência de políticos junto ao BNDS. Poderiam contribuir com o desenvolvimento do setor pecuário brasileiro, para juntos serem parceiros dignos e respeitados a longo prazo.
A discussão é antiga, em maio de 2008 escrevi uma carta com minha opinião sobre a exportação de gado vivo ( https://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/leitor-comenta-problemas-da-exportacao-de-gado-em-pe-44693/ ).
Não sou contra a exportação, apenas acho justo que a mesma carga tributaria paga para se abater um boi aqui, seja cobrada na exportação do animal vivo. Dessa maneira a competição se da em igualdade de condições e com certeza não ira prejudicar os produtores.
Por outro lado, observamos nas cartas de muitos colegas um tipo de repudio aos grandes frigoríficos e em especial ao JBS, como se ele fosse um grande inimigo. Acho sim que deveríamos ter orgulho de termos a maior industria mundial de proteína animal e lembrar que temos que ter uma relação de parceria entre a industria e a classe produtora.
Portanto, a hora é de união, de sentarmos a mesa para discutirmos soluções e parcerias, tenho certeza que a classe produtora pode tentar melhorar a sua relação com a industria e isso sera benéfico a todos.