Fechamento 11:51 – 27/03/02
27 de março de 2002
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1 de abril de 2002

GO: pecuaristas vão ao governador contra os frigoríficos

Embora sem adiantar propostas, eles devem pedir ao governador Marconi Perillo para suspender incentivos fiscais aos frigoríficos

Dirigentes das principais entidades de pecuaristas de Goiás e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) vão ao governador Marconi Perillo, na próxima segunda-feira, pedir a adoção de medidas contra frigoríficos que estejam envolvidos em importações maciças de carne da Argentina. Eles argumentam que essa prática vem sendo adotada em bloco pelos grandes frigoríficos, numa política deliberada para derrubar as cotações da carne bovina no mercado interno, com graves riscos de desestruturação da pecuária de corte em Goiás e no próprio País.

O presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Maurício Faria, informou que os representantes do setor se reunirão pela manhã na sede da Federação da Agricultura (Faeg), onde formalizarão uma proposta a ser apresentada ao governador. Embora não queiram antecipar, a opinião corrente entre os pecuaristas é de que devem reivindicar do governo do Estado a suspensão imediata de benefícios fiscais concedidos a frigoríficos que estão importando carne argentina, como o Friboi e o Bertin.

Benefícios

O presidente da Faeg, Macel Caixeta, diz que o governo não pode aceitar o que os frigoríficos estão fazendo com os pecuaristas goianos, pois recebem incentivos fiscais justamente para dar vazão à carne produzida no Estado e não para que se estabeleçam como atacadistas de carne importada. Ele diz ter recebido informações de frigorífico que já deu férias coletivas aos seus funcionários, de outro que interrompeu a compra de animais e de pelo menos mais um que reuniu sua diretoria ontem para decidir se entra no negócio de importação da carne argentina.

“É um absurdo o que está acontecendo. Essa gente está demonstrando que nunca foi parceira do produtor, pois com prática semelhante, só parece que está buscando a destruição da nossa pecuária de corte”, reclama o dirigente. Ele apela aos pecuaristas para que não façam o jogo dos frigoríficos, ofertando seus animais a qualquer preço. “Vamos segurar o boi no pasto, pois a estratégia da indústria é alardear que a Argentina tem mais carne do que realmente tem apenas para derrubar as nossas cotações internas”, diz.

Caixeta argumenta que o consumo de carne vermelha tradicionalmente cai durante a Quaresma, mas essa tendência se inverte a partir da próxima segunda-feira, trazendo consigo a expectativa de elevação nas cotações da carne. “Portanto, a tática dos frigoríficos está sendo a de utilizar o baixo consumo de carne no momento e a propaganda da carne excedente argentina para derrubar as cotações do produto no mercado interno, de tal forma que a inevitável reação dos preços se faça a partir de patamares mais baixos”, conclui.

Cotações continuam em baixa

Um consulta feita ontem constatou que, nos últimos dois dias (terça-feira e ontem), os frigoríficos goianos cotaram o boi castrado entre R$ 40,00 e R$ 41,00 a arroba, o boi inteiro (não-castrado) de R$ 37,00 a R$ 40,00 e a vaca, de R$ 37,00 a R$ 38,00. A Bolsa de Mercadorias de Goiás (BMG) divulgou ontem o preço médio de R$ 40,00 para a arroba do boi e R$ 37,00 para a vaca.

Para o presidente da Faeg, entretanto, a distinção entre boi castrado, boi inteiro e vaca não passa de subterfúgio dos frigoríficos para ampliar seus lucros as custas do produtor, já que no balcão do açougue o consumidor paga sem saber de que tipo de animal provém o produto.

O coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, recebeu correspondência da Associação Brasileira da Indústria de Exportação de Carne Industrializada (Abiec), reconhecendo que o setor deveria ter discutido com os pecuaristas brasileiros a importação da carne argentina. No mesmo documento, o presidente da entidade, Edivar Vilela Queiroz, convida o coordenador do fórum para uma reunião na próxima terça-feira, em São Paulo, para que os dois segmentos possam iniciar conversações na busca de um acordo. “Vamos avaliar o convite, mas a verdade é que ele chegou tarde, quando o mal já está feito”, reagiu Nogueira.

Mato Grosso do Sul

A compra de mais de 300 toneladas de carne argentina por parte de frigoríficos brasileiros (principalmente de SP e MS) está sendo amplamente repudiada pelos pecuaristas sul-matogrossenses. A importação de 17 carretas de carne da Argentina está sendo feita pelo Grupo Friboi e gerou uma intensa polêmica no setor pecuário brasileiro.

Ontem o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Léo Brito, repudiou a importação, reforçando o manifesto do Fórum Permanente de Pecuária de Corte da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA).

O presidente da Famasul alertou a população principalmente sobre os riscos de anabolizantes e de aftosa no rebanho do país vizinho. “É um absurdo que o Brasil importe uma carne de qualidade duvidosa em detrimento da nossa”, afirmou. Integrante da CNA, comunicou também que a entidade nacional e, por conseguinte, as federações brasileiras, estão fora do programa “Brazilian Beef”, de divulgação da carne brasileira no exterior.

Ao lado do chefe Geral da Embrapa Gado de Corte, Antônio Batista Sancevero, e do pesquisador da Embrapa, Ezequiel Rodriguez do Valle, Brito orientou os pecuaristas do Estado e do País a restringir a venda de gado para os frigoríficos que estão adquirindo carne da Argentina.

O presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, por outro lado, descartou uma possível crise no mercado estadual de bovinos em virtude dessas importações. “Acredito que não haverá queda no preço da arroba do boi gordo no Estado, o que deve acontecer é uma manutenção no valor cobrado hoje, em torno de US$ 17, sem perspectiva de aumento”, analisa, ressaltando que não há motivos para preocupação e que há espaço para todos no mercado de carne.

Fonte: O Popular (por Edimilson de Souza Lima) e Correio do Estado/ MS (por Rosana Siqueira), adaptado por Equipe BeefPoint

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