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8 de março de 2002

Greve da Seab afeta mercado da carne no Paraná

Frigoríficos, agroindústrias e produtores poderão começar a contabilizar prejuízos com a greve dos servidores da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do Paraná. É que, sem fiscalização, o rebanho não pode ser transportado para lugar algum e fica parado nas propriedades dos produtores. Alguns frigoríficos já suspenderam as atividades por falta de animais para abate e com isso poderá faltar carne a partir de hoje, principalmente em cidades pequenas, que não contam com grandes redes de supermercados, que trazem carne de outros estados.

A organização da 1a Exposição Agropecuária e Industrial de Umuarama conseguiu liminar para transportar os animais sem inspeção. A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) está estudando a adoção de medidas judiciais para assegurar a sanidade animal e vegetal em todo o Estado. Entre as medidas em estudo estão um pedido de intervenção federal ou um mandado de segurança contra os grevistas, para que voltem ao trabalho.

Leia a matéria completa:

Nos próximos dias deve começar a faltar carne bovina e suína, principalmente nas cidades de menor porte do Paraná. A falta de fiscalização por parte dos técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), em greve desde a última segunda-feira, está gerando um prejuízo de R$ 3,5 milhões por dia aos frigoríficos paranaenses. O abastecimento desse produto, que depende muito da fiscalização para garantia da qualidade, tende a ficar cada vez mais problemático.

Os funcionários da Seab definiram ontem, em assembléia, que vão continuar em greve. Eles não aceitaram a proposta de uma gratificação de 100% relativa aos seus salários-base, pois a gratificação atingiria apenas os funcionários do setor de fiscalização. Os grevistas querem que o governo estenda a gratificação a todos.

O economista do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sindicarne), Gustavo Fanaya, explicou que os varejistas abastecem seus estoques normalmente duas vezes por semana. O último abate antes da greve foi no sábado passado. Como a carne dura geralmente quatro dias, o produto pode começar a faltar a partir de hoje. “Grandes redes de supermercado trazem carne de outros estados, como Goiás, mas essa carne só é vendida em cargas fechadas. Por isso, os pequenos açougues, que compram carne paranaense, devem ficar sem abastecimento nos próximos dias. As cidades pequenas serão as mais afetadas, já que nelas não existem grandes redes supermercadistas”, explicou Fanaya.

Ele explicou que a Guia de Transporte Animal (GTA) é a garantia da qualidade da carne. “O consumidor deve desconfiar da carne se ela não tem a fiscalização, porque pode trazer doenças. A greve, se persistir, vai facilitar o trabalho de frigoríficos clandestinos, que além de prejudicarem financeiramente os outros, vendem carne de procedência duvidosa”, concluiu.

Segundo Fanaya, no Paraná são abatidas 18 mil cabeças de gado por dia. Como hoje a greve entra no seu quarto dia, o prejuízo, só nos frigoríficos, já chega a R$ 14 milhões. ”Além disso existe o prejuízo dos produtores, que estão deixando de vender o gado, e dos frigoríficos que têm grandes contratos. Ao atrasar a entrega do produto, eles terão que pagar multa e poderão até mesmo perder os contratos”, avalia.

O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite), Wilson Thiesen, afirmou que a greve na Seab pode afetar a credibilidade internacional que o Estado adquiriu após combater com eficiência doenças como a febre aftosa, a peste suína e a brucelose. “Os produtores paranaenses de leite evidenciaram a auto-suficiência na produção. Por isso, desejam aumentar seus negócios e pretendem fazer um plano de exportações. Entretanto, essa greve pode prejudicar a imagem da qualidade de nosso produto fora do País. Hoje em dia, as barreiras sanitárias são maiores que as barreiras econômicas”, disse Thiesen.

Frigoríficos suspendem o abate do gado

Frigoríficos das regiões de Maringá e Paranavaí suspenderam ontem as atividades de abate, deixando de produzir cerca de 600 toneladas de carne bovina. Com o trânsito de animais impedido por causa da greve, os abatedouros ficaram vazios. Centenas de funcionários estão parados.

Só no frigorífico Margem, de Paranavaí, que exporta entre 50% e 60% da produção diária de 200 toneladas, a paralisação impediu o abate de 750 animais. Parte dos 450 funcionários foram dispensados das atividades ontem. Em Maringá, o frigorífico Amambai, que abate 700 bovinos por dia, também foi prejudicado.

Apesar dos prejuízos, proprietários e gerentes do setor evitaram falar sobre o assunto. A maioria acreditava num acordo entre governo e grevistas ainda ontem. “Esperamos que o impasse seja resolvido”, argumentou o gerente do frigorífico maringaense, Fernando Caetano. “Caso contrário, o abastecimento começa a ser prejudicado nos próximos dois dias”, prevê. Diretores das empresas frigoríficas afirmam que, se a greve perdurar, entrarão na Justiça para garantir as atividades de abate.

Ponta Grossa

O Matadouro Municipal de Ponta Grossa contabilizou R$ 7,5 mil de prejuízo referente aos primeiros dois dias da greve. O abatedouro, que abate em média 60 cabeças de gado por dia, e cobra R$ 28,00 por animal, possui 23 associados na região dos Campos Gerais, entre fábricas de embutidos, supermercados e entrepostos de distribuição, para os quais fornece carne.

O abate clandestino é outra preocupação na cidade. “Com o mínimo de estrutura alguns produtores podem fazer o abate em sua propriedade”, alerta o secretário municipal de Agricultura, Michel Samaha.

Nos frigoríficos a situação também é preocupante. Luciano Criminácio, proprietário de um entreposto que atende 12 cidades da região, tinha carne até ontem e as compras para a próxima semana ainda não foram feitas.

Sem inspeção

Cerca de cem cabeças de gado foram transportadas ontem até o parque de exposições de Umuarama, onde será aberta amanhã a 1a Exposição Agropecuária e Industrial da cidade. A Sociedade Rural de Umuarama (SRU) informou que a maioria dos animais saiu de propriedades de municípios vizinhos e foi transportada apenas com notas fiscais e comprovação da vacina contra a febre aftosa.

Os organizadores da exposição esperam para hoje liminar a um mandado de segurança que tenta garantir o transporte e a comercialização do gado sem a GTA, se a greve na Seab perdurar pelos dez dias do evento. Aproximadamente 20 mil bovinos deverão passar pela Expo Umuarama. O dia oficial para entrada do gado no parque é amanhã, dia em que os organizadores esperam já dispor da autorização judicial. A feira deve comercializar R$ 10 milhões e atrair público de 200 mil pessoas.

Intervenção

A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) está estudando a adoção de medidas judiciais para assegurar a sanidade animal e vegetal em todo o Estado. Entre as medidas em estudo estão um pedido de intervenção federal ou um mandado de segurança contra os grevistas, para que voltem ao trabalho.

Em caso de intervenção federal, o controle sanitário no Paraná passaria a ser feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Nós torcemos para que haja um acordo entre as partes envolvidas, mas não podemos aceitar o risco de ver a credibilidade do setor ameaçada”, destaca o presidente da Faep, Ágide Menegette. Segundo ele, sem um sistema de fiscalização eficiente não há garantia de qualidade da produção agropecuária.

Os presidentes da Avipar, Paulo Muniz, da Associação Paranaense dos Suinocultores, Romeu Royer, e do Sindicato da Indústria de Carnes, Péricles Salazar, entregaram ao final da tarde de ontem ao secretário da Agricultura, Deni Schwartz, um manifesto sobre a preocupação do setor agroindustrial com a greve e, principalmente, com relação ao controle sanitário animal e vegetal.

Antes mesmo do início da greve, os presidentes da Ocepar e da Faep entregaram ao governador Jaime Lerner um documento alertando sobre as conseqüências de um movimento de tal porte. Segundo eles, a agroindústria paranaense, responsável por 35% do PIB do Estado e por 65% das exportações, no valor de US$ 3,5 bilhões no ano passado, corre grave risco de perder uma substancial parcela do seu mercado.

Fonte: Paraná On Line (porLawrence Manoel), Folha de Londrina (por Denise Ângelo) e Gazeta do Povo/ PR (por Miriam Gasparin, Teresa Meneghel e Aniela Almeida), adaptado por Equipe BeefPoint

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