A greve dos fiscais agropecuários é de longe o problema mais sério enfrentado pela agroindústria brasileira este ano.
Nossa agroindústria é privilegiada. Comparados aos nossos concorrentes no planeta, ainda não enfrentamos crises causadas por doenças como a vaca louca que aconteceu na Europa, EUA e Canadá, ou como a gripe aviária que devastou a agroindústria do Sudeste Asiático ou secas como na Austrália.
Mas como disse Joelmir Beting: “é bem Brasil: quando não há problema, a gente inventa problema”.
A greve de quatro dias custou às empresas brasileiras US$ 500 milhões de dólares segundo os dados do próprio secretário executivo do Ministério da Agricultura, Amauri Dimarzio.
A conta é feita com uma estimativa do que as empresas deixaram de vender e exportar nestes quatro dias. Não estão incluídos aí os prejuízos alheios como o de companhias de navegação que tiverem seus navios bloqueados em nossos portos, de caminhoneiros parados, o de importadores de máquinas e instrumentos agrícolas, ou até de empresas de grãos paraguaias que tiveram suas exportações também bloqueadas na fronteira como Brasil.
Mas o maior prejuízo de todos é incalculável. Trata-se do prejuízo da imagem do Brasil no mercado internacional. Uma imagem conseguida aos poucos, à custa de trabalho sério e de um enorme esforço em melhorar a qualidade de nossos produtos.
Conseguimos nos últimos anos, e estou falando especialmente da carne bovina, criar um fluxo de produtos contínuo e crescente para clientes importantes que antes não tínhamos e eis que de repente esse fluxo pára.
Grandes redes de Supermercados e restaurantes que precisam de carne brasileira nas prateleiras e nas mesas estão sem estoque. Promoções foram canceladas e contratos foram desfeitos.
De repente o Brasil não é mais um fornecedor confiável. Nossos clientes na Europa antes satisfeitos estão receosos e desconfiados. Como oferecer carne brasileira para venda sem saber se no mês que vem teremos mercadoria ou não?
E de quem é a culpa? Os fiscais já estão há 3 anos à espera de que suas reivindicações sejam atendidas. Eles têm toda a razão de entrar em greve, já que neste país não se consegue nada sem fazer barulho. Ainda não ouvimos nenhuma explicação plausível do governo para a disparidade de salários existente entre fiscais agropecuários e outros fiscais federais. A greve poderia ter sido evitada se o governo tivesse negociado com a categoria ao invés de negar sistematicamente seus apelos.
Nosso Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues tem toda razão em chamar Guido Mantega de vagabundo por não conseguir resolver a crise rapidamente.
Uma fonte do governo informou ao Globo OnLine que “a solução não pode ser tão rápido que o governo pareça estar refém da categoria”.
Pois bem, temos uma novidade para o governo. O País é sim refém dos fiscais, porque se não fossem as exportações agrícolas já tínhamos quebrado há muito tempo.
O Ministro do Planejamento Guido Mantega e o Presidente Luís Inácio têm a obrigação de encontrar uma solução para os fiscais até o fim da trégua desta semana. Com uma solução rápida pelo menos haverá uma chance de que sejamos novamente levados a sério no mercado. E vamos torcer para que o Ministro Roberto Rodrigues não peça demissão. Pelo menos alguém competente no governo precisamos ter.