Muitas vezes associada a problemas relacionados ao bem-estar animal, com ou sem motivos, a cadeia de produção de couro bovino vem intensificando o trabalho para provar que segue práticas sustentáveis. Grandes companhias fabricantes, como a JBS, têm investido nesses esforços, e novas iniciativas buscam ajudar a limpar a imagem do segmento, cujas vendas estão sob pressão.
Nesse sentido, a Textile Exchange – organização global sem fins lucrativos cujo foco é gerar impactos positivos entre grandes empresas têxteis e da moda em temas ligados às mudanças climáticas – e seu programa Leather Impact Accelerator (LIA) criaram um modelo inspirado no mercado de créditos de carbono que será testado nos próximos três anos no Brasil, em propriedades situadas na Amazônia e no Cerrado.
A empresa brasileira Produzindo Certo, que presta assistência técnica a produtores rurais comprometidos com a sustentabilidade de suas atividades, está coordenando o projeto, que já conta com recursos da varejista de moda sueca H&M. A iniciativa contempla a geração de créditos de couro sustentável, comprados pelas grifes e destinados a fazendas que respeitam o bem-estar animal e não desmatam.
Charton Locks, diretor de operações da Produzindo Certo, conta que um piloto com cinco propriedades começou em janeiro, envolvendo 42 mil animais. A ideia é simples: cada animal mantido por um ano em uma fazenda com boas práticas gera um crédito, que é negociado e ajuda a “roda sustentável” a girar. São 42 mil créditos no piloto, e quase 30 mil já foram comprados. O valor de cada crédito ainda é mantido em sigilo.
A H&M e outra grife conhecida, cujo nome não foi revelado, compraram os primeiros créditos, e as negociações com uma terceira empresa estão adiantadas, diz Locks. No futuro, a intenção é criar uma plataforma para a negociação dos créditos. A Produzindo Certo já monitora 3,2 mil fazendas no país, que somam 6,7 milhões de hectares, daí sua expectativa de ampliar rapidamente o número de pecuaristas nesse mercado, que exige rastreabilidade e certificação.
“A Textile Exchange já contava com projetos na cadeia de algodão e em outras frentes, mas não tinha nada na cadeia de couro”, lembra, em nota enviada ao Valor, Josefina Eisele, responsável local pelo trabalho com os produtores na Textile Exchange e na LIA. A iniciativa começou a ganhar forma há três anos, conforme crescia a pressão de ambientalistas e consumidores.
Daí porque a escolha dos parceiros recaiu sobre pecuaristas com propriedades na Amazônia e no Cerrado, biomas que estão sob os holofotes não só por causa da pecuária, mas também da produção de grãos.
“O Brasil não é a origem de muitas marcas, mas toda a discussão termina no Brasil”, diz Josefina. “Sabemos como funcionava esse modelo de crédito para palma ou soja. É um ótimo primeiro passo, que leva a mensagem aos consumidores. As marcas apoiam os agricultores a fazerem mudanças positivas, levando a impactos mensuráveis e verificados no solo”, conclui.
Fonte: Valor Econômico.