A crise na Argentina, os atentados terroristas e a guerra no Afeganistão não conseguiram tirar o otimismo do agronegócio brasileiro, principalmente na área de pecuária de corte. O grupo Brascan anunciou, na semana passada, que está investindo US$ 47 milhões nas quatro fazendas de criação que compõem o seu braço agropecuário. A proposta é chegar a um rebanho de 70 mil matrizes, quase o dobro do atual, no prazo de quatro anos.
De origem canadense, o grupo chegou ao Brasil em 1899 com o nome de Light. Hoje, além do setor energético, opera nas áreas imobiliária, financeira, de seguros e de mineração, entre outras. Em 2003, o grupo pretende ocupar os 50 mil hectares de pastagens de suas fazendas com 50 mil fêmeas.
A Brascan não faz engorda. Ela vende o bezerro aos oito meses de idade, terminada a fase da desmama. Quem adquire o animal completa o ciclo (recria e engorda). “Os investimentos incluem compra de terras, que são caras nas regiões onde as fazendas estão estabelecidas, preparo de pastagem e aquisição de animais”, afirma o presidente do grupo, Marcelo Marinho. Ele afirma que são boas as perspectivas para a pecuária de corte. “O Brasil, que possui terra, rebanho e comida para o gado, fatores que o tornam bastante competitivo, será um dos maiores exportadores de carne nos próximos anos.” Além disso, segundo Marinho, estudos feitos pelo grupo concluíram que a pecuária de corte tem mantido a estabilidade de preços nos últimos anos. “O cenário permite que operemos a longo prazo. Diferente da lavoura de grãos, por exemplo, cujas cotações explodem hoje e caem amanhã, a arroba do boi oscila pouco”, explica.”
Apesar de possuir vocação para a pecuária de corte (desde a década de 40 a Brascan lida com gado), o apetite do grupo aumentou a partir de dezembro do ano passado, quando adquiriu duas fazendas da empresa norte-americana King Ranch em Presidente Prudente, no interior paulista. Localizadas nas cidades de Narandiba e Martinópolis, próximas a Presidente Prudente, essas duas propriedades têm 16 mil matrizes. As outras duas fazendas do grupo Brascan ficam em Canapolis, na região do Triângulo Mineiro, que possui 7.800 matrizes, e em Rancharia, interior paulista, que tem 13,2 mil vacas. A raça nelore é a base do rebanho, mas as propriedades trabalham ainda com o gado europeu de sangue abeerden angus para os cruzamentos industriais.
José Vicente Ferraz, da FNP-Consultoria, de São Paulo, diz que o investimento elevado da Brascan evidencia a confiança dos grandes grupos na pecuária de corte. “A atividade não é excepcionalmente lucrativa. Mas é segura. Tudo sinaliza no sentido do Brasil aumentar também a sua participação no mercado internacional de carne. Este ano mesmo, apesar das doenças que apavoraram a Europa, a receita vai superar a do ano passado.” O consultor diz que desconhece investimentos desse porte na pecuária de corte. “Ouço falar de empresas que aplicam US$ 5 milhões, US$ 10 milhões, no máximo.” Na opinião de Ferraz, a empresa aposta também na escala. “Só isso explica um salto de 37 mil matrizes para 70 mil”.
Fonte: Folha de São Paulo (por Sebastião Nascimento), adaptado por Equipe BeefPoint