As exportações de alguns setores agrícolas para o Oriente Médio deram um salto nos meses de janeiro e fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado. O setor de carne bovina comemorou a marca das 130.323 toneladas exportadas, com faturamento de US$ 211,1 milhões, ante as 81.821 toneladas de 2002, com faturamento de US$ 163,2 milhões. Outra grande cadeia cujo desempenho esteve acima de 2002 foi a de soja. As exportações de óleo de soja de janeiro e fevereiro deste ano para o Irã, o maior comprador de óleo de soja do Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), chegaram a 217 mil toneladas, ante 573 mil toneladas exportadas para aquele país durante todo o ano passado.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Ênio Marques, concluiu, após reunião na semana passada com frigoríficos associados, que o aumento das exportações para o Oriente pode estar relacionado ao período pré-guerra, “mas não podemos afirmar isso com certeza”, disse. “Importante é que, se houve alteração por causa do conflito, foi para exportar mais e não para reduzir os embarques”.
Quanto ao futuro próximo, tanto representantes das cadeias produtivas quanto analistas de mercado e pesquisadores condicionam sucessos ou problemas nos embarques ao tempo de duração do conflito. “Se a guerra for de curta duração, como o governo dos EUA vem afirmando, não haverá alteração significativa”, disse o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Nelson Martin, afirmando, entretanto, que um fator inevitável e imediato é o aumento do preço do frete e do seguro marítimo para embarques que sigam para o Oriente Médio, por conta do maior risco de adentrar com navios na zona de conflito.
O consultor da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, concordou que o conflito possa prejudicar o fluxo comercial. “Esse é o efeito imediato da guerra”. Entretanto, se a guerra for prolongada e, após ela, os EUA tiverem de manter um exército de ocupação no Iraque, isso custará muito caro, afetando, automaticamente, a economia mundial. “Os EUA já estão gastando muito e continuarão a gastar no pós-guerra. Isso elevará mais ainda seu déficit interno e, por conseqüência, a taxa interna de juros deve subir”, explicou. “Assim, teremos de aumentar mais ainda os nossos juros, para evitar fuga de capitais e isso abalará a economia, com mais recessão”.
No setor de carne bovina, independentemente da guerra, a expectativa é de crescimento. “Se o dólar continuar valorizado e não tivermos nenhum problema sanitário nos rebanhos, vamos crescer 15% ou 25% em exportações”, afirmou Marques. Isso dependerá da Rússia, que criou a cota de 350 mil toneladas de importação a partir de abril de 2003, “das quais poderemos atender 200 mil toneladas”, e da China, que deverá definir, daqui a seis meses, suas condições de importação de carne bovina. “Como somos competitivos, poderemos exportar para lá, até o fim do ano, pelo menos 15 mil toneladas”, calculou.
Fonte: O Estado de São Paulo/Suplemento Agrícola (por Tânia Rabello, com colaboração de Alessandra Saraiva), adaptado por Equipe BeefPoint