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Guerra expôs vulnerabilidades do agro, e preços de alimentos vão subir mais, diz Rubens Barbosa

Embora se vanglorie de ser o “celeiro do mundo”, o Brasil viu expostas, por causa da guerra na Ucrânia, vulnerabilidades importantes no agro, como a dependência de importações de fertilizantes e trigo, cuja forte alta de preços no mercado terá reflexos no bolso do consumidor. É preciso, assim, acelerar políticas e incentivos para sanar esses e outros pontos fracos, incluindo questões ambientais, para garantir o abastecimento doméstico a melhorar a segurança alimentar do país.

O recado é do ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), que participou nesta quinta-feira da Live do Valor. Diante da relação atual entre oferta e demanda no país, Barbosa sinalizou que os moinhos terão que repassar o aumento de custos e produtos como massas, pães e bolos deverão ficar mais caros no varejo no curto prazo, na medida em que o cereal que está chegando agora para processamento já subiu cerca de 40% desde fevereiro.

Rússia e Ucrânia, juntas, representam cerca de um terço das exportações mundiais de trigo. Com a guerra, as cotações dispararam, e por mais que o Brasil traga da Argentina mais de 80% de suas importações, os preços dispararam também no país vizinho, mesmo que grande parte dos embarques já esteja comprometido.

Segundo Barbosa, não há notícias de rompimentos de contratos de fornecedores argentinos com moinhos brasileiros, mas a tendência é que a oferta continue encarecendo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a demanda brasileira por trigo chega atualmente a cerca de 12,6 milhões de toneladas por ano. Em 2021, a colheita no país alcançou 7,7 milhões de toneladas, e a previsão para 2022 é que alcance 7,9 milhões. Boa parte do cereal argentino necessário para abastecer o mercado já chegou ou está contratada, mas ainda resta uma parcela para ser negociada.

“Há possibilidade de queda das vendas argentinas de trigo nos próximos meses, mas não vejo risco de desabastecimento no Brasil”, afirmou Barbosa na Live. Isso embora as exportações brasileiras tenham aumentado, estimuladas pela valorização dos preços. Em fevereiro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura, as exportações somaram 836,6 mil toneladas (US$ 246,3 milhões), enquanto as importações ficaram em 498,8 mil toneladas (US$ 141,6 milhões).

De qualquer modo, reiterou Barbosa, é preciso avançar em estratégias que reduzam a vulnerabilidade do segmento. Ainda concentrada no Rio Grande do Sul e no Paraná, a produção tem crescido em Estados do Nordeste e até do Norte, e tem potencial para avançar no Cerrado, mas é preciso uma política eficiente para acelerar essa expansão. Ele lembrou que a Embrapa trabalha nesse sentido, com planos de desenvolvimento de novas cultivares mais produtivas e adaptadas a regiões com menos tradicional de cultivo, entre outras ações, mas que um projeto da estatal nessa direção teve o orçamento cortado recentemente.

“Trata-se de um projeto de menos de R$ 3 milhões, e que tem potencial de economizar R$ 450 milhões para o país”, afirmou o ex-embaixador. Barbosa disse, ainda, que diante desse tipo de corte vai discutir com as empresas associadas à Abitrigo a possibilidade de ampliar os investimentos privados para apoiar a expansão da produção nacional.

Diante das incertezas, disse Barbosa, é difícil saber o quão os consumidores brasileiros sentirão no bolso os reflexos da escalada dos preços por causa da guerra — sendo que os derivados já vinham em alta por causa de custos de produção e problemas logísticos. Mesmo que a guerra termine nos próximos dias, observou, as sanções à Rússia, por exemplo, vão perdurar por mais algum tempo.

E, evidentemente, não é só o Brasil que sofre com isso. Países do norte da África e do Oriente Médio, por exemplo, dependem diretamente do fornecimento de trigo do Leste Europeu. E enquanto a guerra se prolonga, afirmou o presidente da Abitrigo, a crise energética e alimentar global vai se aprofundando.

Fonte: Valor Econômico.

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