No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.
Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.
Confira abaixo, a entrevista com Guilherme Dias, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Marketing da carne.
Guilherme Dias é formado em medicina veterinária pela Universidade Federal de Pelotas – RS.
Atuou durante três anos na empresa de Consultoria Agropecuária Marcon. É sócio-fundador da APROPAMPA, a primeira associação com indicação geográfica de carnes das Américas.
Tem experiência profissional na Nova Zelândia e nos Estados Unidos, onde fez estágios em plantas processadoras de carne, nas empresas Ruprecht Company, Cargill Meat Solutions, John Soules Foods e Rastelli Foods.
Em 2009, após retornar da Nova Zelândia, abriu uma empresa de consultoria com seu irmão, inspirado pela experiência que teve naquele país.
Em 2010, começou a trabalhar no projeto de exportação da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). Depois disso, foi gerente do programa Carne Certificada Pampa, também da Associação.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?
Guilherme Dias: O maior desafio é nós conseguirmos nos diferenciar por volume. Nós temos história, tradição, qualidade, só que com o passar dos anos houve um empobrecimento do setor, um aperto nas margens do pecuarista. A pecuária perdeu um pouco de competitividade para outras atividades.
Nós temos condições de criar animais britânicos, jovens e precoces, mas por diversos fatores, não conseguimos ter isso em grande escala.
O principal desafio é converter toda essa qualidade em volume, mas em volume de qualidade.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Guilherme Dias: Eu admiro quem busca alternativas. O produtor que busca identificar e mudar o rumo em busca de produtividade, o frigorífico que busca conhecimento…
Ainda não estamos alcançando o nosso real potencial e acredito que aqueles que não aceitam se comparar com a média, não aceitam os índices produtivos que temos hoje, são os profissionais que vão mudar a matriz produtiva, que vão buscar através do conhecimento novas ideologias e vão conseguir produzir com muita qualidade e produtividade.
BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?
Guilherme Dias: Me parece que o caminho nós já sabemos, já temos feito isso, mas ainda falta difundir para toda a região, para o estado. Nós temos os programas de certificação há anos, nós construímos uma historia de agregação de valor.
Há 10 anos, um programa desse bonificava 1% sobre o preço do mercado. Hoje nós atingimos até 10% sobre o preço do mercado. Acho que essa já é uma maneira de mostrar que o mercado valoriza e busca esse produto, mas falta capacidade de atender essa demanda.
Acho que precisamos ser competentes para suprir essa demanda e acho que o RS tem feito um bom trabalho nos últimos 10 anos, conseguimos padronizar boa parte do nosso rebanho.
O resultado disso é a grande procura pelo nosso rebanho, tanto para abate quanto para a comercialização em pé. Precisamos de mais volume de animais de qualidade para atender essa demanda.
BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Guilherme Dias: O que mais me chamou a atenção nesses anos foi o avanço da tecnologia do pastoreio intensivo, que é uma tecnologia que eu mesmo difundo através da minha empresa.
É interessante pensar que podemos atingir ganhos próximos de mil quilos por hectare somente a pasto.
Isso vai de encontro com o que eu acredito que é a pecuária do futuro, uma pecuária rentável, com margem e altamente sustentável.
BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?
Guilherme Dias: Não há outra saída além de congregar todos os atores da cadeia a pensarem de uma forma conjunta a longo prazo. Não entendo como uma empresa pode prosperar sem ter um planejamento claro, com todos os colaboradores de olho nisso.
Na cadeia produtiva da carne, claro que isso é mais difícil, mas funciona da mesma maneira. Eu acho que é necessário ter um planejamento de cadeia a longo prazo.
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?
Guilherme Dias: Em 2012, dentro do Programa Carne Pampa, buscamos trabalhar em conjunto com a parte comercial, com os frigoríficos parceiros, entender melhor as dificuldades da venda de carne e desenvolver parcerias, como as que desenvolvemos em 2012 com os restaurantes Vermelho Grill, Mercato e o Pampa Burger.
BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Guilherme Dias: Aumentamos a divulgação do Programa Carne Certificada Pampa, mostramos os benefícios da tabela para os produtores e com isso aumentamos em 48% nosso volume de animais certificados. Atingimos uma marca histórica desde o início do programa.
Com essa divulgação, conseguimos dar mais orientação aos produtores, para receberem melhores bonificações na tabela.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?
Guilherme Dias: Um plano muito forte do Programa é fomentar o cruzamento industrial com raças Hereford e Braford e expandir isso para o resto do Brasil.
Também estamos mudando nossa identidade visual, para facilitar a comunicação.
BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?
Guilherme Dias: Como essa mensagem é voltada para a região Sul, acho que nós ainda temos tempo para sanar nossas dificuldades e nos diferenciar no Brasil e no mundo. Porém, se nada for feito, nós iremos perder aquilo que nos diferencia, pois o Brasil já apostou no cruzamento industrial de raças britânicas.
Essas raças como Braford e Brangus se adaptam em qualquer lugar do Brasil. Se não montarmos uma política de cadeia, com planejamento de longo prazo, eu creio que em pouco tempo vários estados terão possibilidade de produzir carne de alta qualidade, como a carne que produzimos aqui.
A mensagem final que eu deixo é que cada um (representando o seu setor e a sua atividade) reflita sobre o que está fazendo para contribuir com o desenvolvimento da pecuária na região Sul.
BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?
Guilherme Dias: Minha mensagem para o setor frigorífico: acreditem nas parcerias, acreditem no trabalho de associações de produtores sérios, para que eles consigam formar alianças para suprir a demanda de carne de qualidade.
E que o produtor também enxergue a dificuldade da indústria, a dificuldade de colocar uma carne no varejo, as dificuldades econômicas que o Brasil passa. Temos vários momentos de crise e isso afeta o consumo, os preços.
Eu acho que o produtor tem que entender um pouco mais a demanda, deixar de colocar a culpa no frigorífico, pois muitas vezes a culpa não é dele.
Para o varejo, que busque entender um pouco mais a base da cadeia. Para se obter um produto com alto padrão, de origem conhecida, há custos extras e isso deve ser repassado ao produtor, através do varejo.
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