Startups do agronegócio ou agtechs encontram em hubs de inovação o apoio necessário para desenvolver produtos e dar o salto de conexão com o mercado. Esses espaços – presenciais ou virtuais – diluem os altos investimentos nas várias etapas de treinamento e mentoria e incentivam redes de relacionamento.
Em regiões com tradição agrícola como Piracicaba e Campinas (SP) foram criados dois ecossistemas dedicados a busca de soluções tecnológicas como o AgTech Garage e o Tech Start Agro Digital apoiado pela Embrapa Informática Agropecuária. Na capital paulista o Cubo e o Inovabra também atraem startups do setor.
“O papel do hub é promover mentorias, networking, eventos, conexões com a universidade e grandes empresas para impulsionar o desenvolvimento de projetos e a geração de negócios”, diz José Tomé, CEO e cofundador do AgTech Garage, que surgiu em 2019 a partir de parcerias com mais de 50 empresas do agronegócio. A partir de desafios de inovação propostos por essas empresas surgem os projetos e oportunidades de negócio.
Além de uma comunidade virtual permanente, a AgTech tem um grupo de startups residentes e as “memberships”, com mentorias, exposição de produtos e apresentações para o mercado que podem gerar oportunidades de negócios. Entre os programas oferecidos está o Soja Sustentável do Cerrado, em que as startups selecionadas recebem apoio para projetos de parceiros. O hub conta com mais de 60 startups e cerca de 20 participam dos programas principais. Além disso, reúne 800 startups na comunidade virtual que também têm acesso aos desafios dos parceiros. Outro programa é o Fellowship que aproxima universidade e comunidade envolvendo parceiros corporativos, produtores e startups de base tecnológica para projetos conjuntos.
Uma das startups na AgTech Garage é a Wolk que em dois meses como residente recebeu o primeiro investimento. A empresa criou um sistema de monitoração de máquinas agrícolas para otimizar seu uso, notificando automaticamente as irregularidades ou queda de desempenho para uma gestão mais eficiente, diz Adriana Lúcia da Silva, CEO da Wolk.
A Embrapa Informática Agropecuária criou o TechStart Agro Digital, na região de Campinas, um programa de aceleração e inovação aberta apoiado pela Venture Hub, Anprotec, Bayer, Airbus e Google Cloud. De acordo com Luciana Alvim Romani, pesquisadora área de ciência da computação da Embrapa Informática, o TechStart abriu inscrições para o primeiro ciclo de aceleração em 2019 e seleciona, desde então, dez empresas por ano que participam de um programa de seis meses. Com encontros semanais, recebem o apoio de 80 mentores de tecnologia e de negócios da Embrapa e das empresas parceiras. Uma das aceleradas no TechStart foi a Gira (Gestão Integrada de Recebíveis do Agronegócio), adquirida pelo banco Santander.
Hubs como o Cubo e o Inovabra, apesar de não especializados no agronegócio, têm atraído empresas da área. No Inovabra, por exemplo, está a Dominus Soli, de Campinas (SP), que faz planejamento e monitoramento dos serviços de pulverização aérea no campo, identificando organismos não alvo como apiários e culturas vizinhas suscetíveis. “Uma das vantagens de participar do hub é a rede de relacionamentos com outras áreas complementares ao nosso negócio”, diz Antônio Loures, diretor comercial da Dominus Soli.
Do Cubo saiu a Corteva Agriscience que desenvolve treinamentos técnicos, sistema para acompanhamento de vendas, logística, gerenciamento de risco nas lavouras, rastreamento de produção, retenção de profissionais, liquidação de faturas, automação de cargas em armazéns, inteligência de dados e gestão de representantes comerciais. Um dos programas da Corteva é o Prospera que capacita pequenos agricultores de Pernambuco, que trabalham com milho e silagem, para adoção de um sistema produtivo sustentável de alto rendimento e acesso a insumos, serviços e mercado consumidor, explica Mariana Castanho, líder comercial e integrante do comitê de inovação da Corteva.
Outra residente do Cubo é a DuAgro, plataforma de financiamento de insumos de pequenos e médios produtores rurais. “Nosso objetivo é desenvolver e ampliar o mercado de crédito privado agrícola para um segmento que tem pouco acesso e dificuldades em apresentar garantias”, explica Marina Siqueira, diretora de negócios e fundadora da DuAgro. A empresa origina e opera linhas de custeio livre em parceria com agroindústrias, distribuidores de insumos e cooperativas. A formalização da dívida é por meio de uma Cédula do Produto Rural (CPR) Financeira assinada eletronicamente na plataforma, acessada pelo produtor por um celular, tablet ou computador, liberada após a conferência dos dados cadastrais.
Fonte: Valor Econômico.