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Hugo Hays (diretor do Eurepgap): carne segura reconhecida internacionalmente


Hugo Hays é graduado em Administração Agropecuária e Gerenciamento de Negócios na Indústria Alimentícia, pelo The Royal Agricultural College, na cidade de Cirencester, no Reino Unido.

Sua experiência no campo abrange mecanização do solo, horticultura, experiência de mais de 10 anos em pecuária extensiva, inspeção de qualidade na indústria alimentícia e experiência de gerenciamento de programas de padronizações e certificações nos últimos 6 anos.

A partir de maio de 2002, Hugo Hays tornou-se gerente técnico do Eurepgap e em março de 2004, tornou-se seu diretor técnico. Atualmente ele é responsável pelo desenvolvimento e gerenciamento de todos os padrões abordados pelo Eurepgap.

Hugo Hays concedeu essa entrevista ao BeefPoint onde fala sobre as oportunidades do uso do Eurepgap pelos produtores de gado de corte brasileiros.

BeefPoint: Você poderia nos explicar sobre a história do Eurepgap IFA e como produtores podem se beneficiar adotando este protocolo?

Hugo Hays: O protocolo Eurepgap IFA (protocolo para pecuária) começou seu desenvolvimento no ano 2000, seguindo a bem sucedida implementação do protocolo sobre boas práticas agrícolas sobre frutas e vegetais. Gostaria de dar mais informações sobre o histórico do Eurepgap e como e porque tudo isso começou.

O Eurepgap foi iniciado em 1997 através de uma iniciativa de varejistas pertencentes a um grupo de varejistas europeus (Euro-Retailer Produce Working Group – EUREP). Fomos subseqüentemente envolvidos em uma parceria entre os produtores agrícolas e seus clientes varejistas. Nossa missão é desenvolver padrões e procedimentos para a certificação total de boas praticas agrícolas (Good Agricultural Practicies – GAP) amplamente aceitáveis em todo o mundo.

Tecnicamente falando, o Eurepgap consiste em uma série de documentos normativos aprovados por certificadoras reconhecidas internacionalmente, que se utilizam de critérios como a ISO 65.

Representantes de todo o mundo e de todos os estágios da cadeia alimentícia estão envolvidos na elaboração destes documentos. Além disso, a visão dos participantes do processo fora da indústria, incluindo consumidores e organizações ambientais e governamentais, têm contribuído para dar forma aos protocolos. Esta ampla variedade de consultas tem produzido um protocolo robusto e desafiador, mas completamente viável de ser obtido. Um protocolo que pode ser utilizado por fazendeiros ao redor do mundo, que demonstra sua atuação de acordo com as boas práticas agrícolas. Os padrões estão abertamente disponíveis e podem ser obtidos gratuitamente através do site do Eurepgap (www.eurep.org).

É possível para organizações de produtores buscar um transparente e independente reconhecimento, adequando-se aos padrões e procedimentos do Eurepgap, entrando em um sistema de alto nível, facilitando assim negociações internacionais e ajudando na harmonização dos critérios técnicos.

Os membros do Eurepgap incluem varejistas, produtores/fazendeiros, e associados advindos dos serviços ligados à agropecuária. O comando do Eurepgap é dividido por setor específico. Comitês dirigidos (Steering Committees) são liderados por um presidente independente. Tanto o sistema de padronização como o de certificação, são aprovados pelos comitês técnicos (Techinical Committes) e comitês de padronizações (Standards Committes), cada um atuando em seu setor.

Esses comitês são representados em 50% por varejistas e 50% por produtores, criando uma eficiente parceria na cadeia produtiva. O trabalho dos comitês é apoiado pela Foodplus, uma entidade sem fins lucrativos baseada em Colônia na Alemanha.

BeefPoint:: Quais os fatores levaram ao desenvolvimento do Eurepgap?

Hugo Hays:: O Eurepgap foi dirigido pelo desejo de re-assegurar a confiança dos consumidores. O receio gerado sobre a segurança alimentar pela “doença da vaca louca”, pelo uso de pesticidas e pela rápida introdução dos alimentos geneticamente modificados, está fazendo com que os consumidores em todo o mundo se perguntem como o alimento é produzido. E eles precisam ser assegurados que estes alimentos são seguros e produzidos de uma forma sustentável. Segurança alimentar é um assunto global e transcende barreiras internacionais.

Muitos membros do Eurepgap são distribuidores globais da indústria de alimentos, assim como são compradores internacionais de matéria prima ao redor do mundo. Por essas razões, tem crescido a necessidade por um sistema de referência de boas práticas agrícolas aplicado, reconhecido facilmente em todo o mundo, focado no consumidor.

Fatores conhecidos como PPP (people, planet, profit ou pessoas, planeta e lucro), representam a grande importância dos fornecedores das corporações e multinacionais, assegurando que seu abastecimento é seguro e assumindo a responsabilidade de que a agropecuária está seguindo um caminho responsável, que respeita a segurança alimentar, o meio ambiente e o bem estar dos trabalhadores e animais. Boas práticas agrícolas, que são entendidas por produtores de todo o mundo, apresentado resultados claramente definidos nestas áreas.

BeefPoint:: Quais são os objetivos do Eurepgap?

Hugo Hays:: Aderindo a boas práticas agropecuárias nós reduzimos o risco na produção agrícola. Eurepgap proporciona as ferramentas para verificar objetivamente a melhor prática em um modelo sistemático e consistente em todo o mundo. Nós alcançamos isto através do protocolo e obedecendo a critérios. O Eurepgap preocupa-se com as práticas na fazenda, uma vez que o produto deixa a propriedade ele fica sob controle de outros órgãos de códigos de conduta e sistemas de certificação relevantes para a embalagem e processamento dos alimentos. Desta maneira toda a cadeia produtiva é assegurada diretamente, até o último consumidor.

Outro objetivo chave é fornecer um fórum para melhorias contínuas. Os comitês técnicos e de padronização, realizam encontros entre os membros (produtores e varejistas), com uma agenda para rever assuntos emergentes e debater assuntos de risco. Este é um rigoroso processo, seguindo os princípios do HACCP, e envolvendo especialistas em suas áreas de atuação para rever versões do protocolo.

BeefPoint:: Como você analisa o mercado de hoje, comparando produtores certificados pelo Eurepgap IFA contra os não certificados?

Hugo Hays:: Muitos produtores europeus de gado de corte do Reino Unido, Irlanda, França, Alemanha e Holanda, por exemplo, têm trabalhado com esquemas de certificação há vários anos. Agora isto está se tornando norma para os compradores, que dão preferência a produtores certificados.

BeefPoint:: Quantas redes varejistas estão requerendo está certificação hoje em dia?

Hugo Hays:: A grande maioria requer alguma forma de demonstração de conformidade. Isto é uma decisão individual, cada varejista decide com seus fornecedores a necessidade do fornecedor em se adequar ao Eurepgap. Certificação é um negócio global e o Eurepgap é o canal que propicia a entrada ao globalizado mercado da alimentação.

BeefPoint:: As redes varejistas continuam a comprar carne não certificada pelo EurepGap IFA? Como eles fazem a diferenciação entre os produtos?

Hugo Hays:: O EurepGap não se comunica diretamente com o consumidor, mas sim com outros elos da cadeia “business to business” (ou empresa a empresa). O Eurepgap é usado para expressar ao mercado os anseios de consumidores e revendedores. O mais importante é que ele dá ao varejista a total confiança na segurança de todos produtos vendidos. Isto pode não ser diretamente comunicado ao consumidor, mas em parte é, pois faz parte da fidelização do consumidor e é parte da política da empresa.

BeefPoint:: Você vê outros negociantes de carne bovina, como restaurantes, redes de fast-food, etc. começando a exigir a certificação Eurepgap IFA?

Hugo Hays:: O McDonalds europeu faz parte do comitê dirigido do Eurepgap (IFA Steering Committee). Eles desejam encorajar todos os produtores a adotar a certificação Eurepgap.

BeefPoint:: Hoje em dia está havendo um crescente avanço de sistemas de identificação no mercado. Qual o diferencial do Eurepgap?

Hugo Hays:: O Eurepgap atua como uma referência mundial em padronização, como um ponto de referência para todos os países.

Sistemas nacionais como o europeu e o sul-americano vêem o beneficio de serem avaliados pelo Eurepgap IFA. Isto demonstra o aumento de transparência entre compradores e vendedores em um crescente mercado globalizado para a carne e produtos cárneos.

O beneficio para os produtores é a produção em estágios elevados nas áreas de segurança alimentar e bem-estar animal. Isto agrega aos produtores o reconhecimento mundial de que eles são únicos, os únicos a ter uma padronização internacional, ao invés de terem diversas certificações e padronizações.

BeefPoint:: Como você compararia os protocolos Eurepgap IFA com outros, por exemplo, o protocolo orgânico? Algumas pessoas chamam o Eurepgap de “orgânico baseado na ciência”, isto seria depreciativo?

Hugo Hays:: É um erro chamar o Eurepgap de orgânico. Isso pode levar a uma confusão dos consumidores. Nós estamos preocupados em manter os protocolos do Eurepgap em bases científicas, ao mesmo tempo atendendo às necessidades dos consumidores.

BeefPoint:: Como você analisa o mercado para a carne européia, especialmente a carne de alta qualidade (ex. Carne de Qualidade Escocesa), com aumento de carne bovina brasileira certificada pelo Eurepgap IFA? Estes produtos não iriam competir no mesmo nicho de mercado? Isto não acarretaria chances para o aparecimento de mais barreiras comerciais?

Hugo Hays:: Segurança alimentar não é tratado como diferencial competitivo pela maioria dos compradores envolvidos no Eurepgap. Este é um pré-requisito para todos os tipos de fornecedores. A diferenciação não estará nestes fatores, mas sim em fatores qualitativos, como na apreciação da carne e como isto se encaixa na relação custo-benefício. Nós acreditamos que a maior transparência em padronização irá melhorar o acesso aos mercados e reduzir as barreiras comerciais, no médio prazo.

BeefPoint:: Como você enxerga o futuro da produção de carne bovina? Quais são as suas perspectivas?

Hugo Hays:: Nós estamos otimistas, com a recuperação dos mercados depois da crise da “vaca louca” na Europa. A confiança dos consumidores, que é um assunto delicado, está retornando aos poucos.

0 Comments

  1. Luciana Scarante Xavier Lopes disse:

    Segue a entrevista e acesse o site parece ser muito bom na sua área.

    Abraços

    Luciana