Por Mônika Bergamaschi1
Mas afinal de contas, o que faz do brasileiro um povo pacífico? Não há de ser o calor do sol, nem a beleza das praias, nem o carnaval, ou os jogos de futebol. A resposta talvez esteja na boa fé do povo brasileiro.
A desinformação e, por quê não dizer, a alienação e o conformismo de grande parte dessa massa, desfavorecida, que garimpa o sustento com as parcas ferramentas que dispõe, amoladas a suor e lágrimas, são manipulados com requintes de crueldade por administradores mal intencionados. Estes, muito mais preocupados em garantir a continuidade de suas nocivas gestões do que de promover o bem comum.
Se cada brasileiro tivesse a oportunidade de circular um único dia pelos corredores, galerias, ante-salas e gabinetes de muitos dos que detêm o poder, a história deste país seria outra. É possível que nem tão pacífica assim, mas com certeza os desmandos, os arrochos e os absurdos a serem combatidos diuturnamente teriam outras proporções.
Os integrantes da “população economicamente ativa” passam, seguramente, mais tempo tentando escapar das armadilhas criadas por aqueles que deveriam trabalhar pela ordem e pelo progresso, do que cuidando de suas próprias atividades. Há que se tirar o chapéu e reverenciar tamanha criatividade para criar dificuldades, inventar problemas, monstros jurídicos e afins.
Qual é o crescimento que dizem buscar? Deveriam pensar em rebatizar as ex-futuras tábuas de salvação: as tão aguardadas PPP´s. Fica a sugestão de Pobres, Pequenos e Problemáticos. “Ai” do setor que tiver um bom desempenho! A título de incentivo lhe são impostas novas regulamentações, taxações, imposições, retaliações e o pior: achaques ideológicos. Quanto aos primeiros, não é difícil notar que a máquina incha tanto, e é tão claramente ineficiente, que a conta não fecha. Mas e a ideologia? O que há por trás dela?
Uma das mais recentes novidades diz respeito aos índices de produtividade. Um projeto em andamento no Governo Federal propõe o aumento dos índices mínimos de produtividade rural. Trocando em miúdos, uma nova maneira de aumentar o estoque de propriedades rurais passíveis de desapropriação para fins de reforma agrária. Se as coisas não estão fáceis, uma ala do Governo dá sinais de que o fundo do poço ainda é mais embaixo.
Estamos diante de, no mínimo, dois grandes equívocos: um agropecuário e outro ambiental. Os critérios não têm sustentação por infinitas razões. A agricultura e a pecuária modernas já enfrentariam sérias dificuldades para cumprir o proposto, e nas de menor porte os problemas serão mais graves. Derrotado o bom senso, haverá desapropriações e assentamentos em propriedades com infra-estrutura completa. É tentador. Mas para os futuros assentados os índices também deverão valer.
Se tradicionais produtores, capitalizados e gestores por excelência não conseguirem sustentar os índices, é possível afirmar, com base nos resultados observados nos programas de reforma agrária já implantados, com 100% de certeza, de que estes também não conseguirão. Ora, pelo princípio da isonomia, o justo será desapropriar o assentado e assim sucessivamente, à exaustão. O bom senso agoniza.
Em que patamar estaria o Brasil se o setor produtivo deixasse de combater tantas idéias mirabolantes que brotam no Planalto Central? Onde teria chegado a carga tributária? O eco histerismo? Haveria ainda produção, empregos e consumidores? O preço a pagar para ver é alto demais. Por sorte existe um pelotão antenado e disposto a seguir discutindo e negociando. As vitórias serão mais prováveis na medida em que esse contingente for maior. A mobilização contra a 232 foi um bom começo. É daí para mais!
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1Diretora executiva ABAG/RP