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Impacto da EEB na indústria de carne orgânica dos EUA

Os Estados Unidos tiveram recentemente o registro de um caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da “vaca louca”, e a indústria de carnes está temendo os custos que a doença significará para a multimilionária indústria. A questão é até que ponto os produtores de carne orgânica se beneficiarão do medo gerado pela doença.

A indústria de carne bovina dos Estados Unidos é estimada em US$ 175 bilhões, o que inclui as vendas no varejo e os negócios relacionados, como equipamentos e rações. Os EUA são o maior produtor mundial de carne bovina, produzindo mais de 11 milhões de toneladas por ano, e é o segundo maior exportador, com as vendas externas sendo responsáveis por 10% da produção doméstica.


A indústria de carnes do Canadá foi afetada pelo medo gerado com o surgimento de um caso de EEB no país no ano passado. A EEB foi descrita como uma grande ameaça e um choque para o setor agrícola canadense; o governo do Canadá estima perdas de US$ 2,5 bilhões para a indústria de carne bovina do país.

Se o impacto para a indústria de carnes do Canadá for um indicador, então as ramificações da EEB serão gigantescas e os efeitos serão sentidos como um todo pela economia dos EUA. A carne bovina é um dos principais alimentos dos norte-americanos e os restaurantes, varejistas e setores de serviços financeiros serão afetados. Um estudo feito em 2001 pelo governo dos EUA estimou que os danos causados pela EEB poderiam ser de US$ 15 bilhões.

As ações das companhias de carnes como Tyson e McDonald’s caíram severamente quando as notícias sobre a EEB foram divulgadas na véspera de natal do ano passado. O dólar norte-americano também caiu nos mercados de câmbio externos enquanto o medo abalava os mercados financeiros, de grãos e de animais domésticos. Mais de 30 países fecharam suas fronteiras para a carne bovina dos EUA, ameaçando o mercado de exportação do país de US$ 3,5 bilhões.

Em meio a este cenário sombrio, há algumas notícias positivas para companhias que atuam na indústria de carnes orgânicas. As vendas de produtos de carnes orgânicas deverão aumentar enquanto os consumidores temem pela segurança dos alimentos. Os bovinos criados de forma orgânica não são alimentados com restos de animais e não existem casos registrados de EEB em animais que foram criados durante toda a sua vida de acordo com os métodos de produção orgânica. A carne bovina orgânica é, desta forma, vista pelos consumidores como mais segura para o consumo do que a carne bovina não orgânica.

O mercado de carnes orgânicas dos EUA tem mostrado um movimento lento, comparado com outros setores da indústria de alimentos orgânicos do país. A maioria das carnes orgânicas é produzida em pequena escala e há ausência de infraestrutura de distribuição. Os produtores vendem um volume significante de carne orgânica diretamente aos consumidores, e, quando o produto é vendido por varejistas, normalmente tem o preço três vezes maior do que os produtos não orgânicos. Estas são as razões para a carne bovina orgânica ter tido menos de 1% de participação no mercado de carne bovina do país em 2003.

O impacto da EEB na indústria de carnes orgânicas dos EUA terá vários pontos:

– Demanda dos consumidores: As vendas de carnes orgânicas aumentaram no Canadá desde o caso de EEB, em maio de 2003, expandindo em mais de um terço em 2003. As vendas de carne bovina orgânica nos EUA poderão dobrar em 2004 se os fornecedores puderem fornecer volumes suficientes para os varejistas;

– Interesse dos varejistas: Tem havido tradicionalmente pequeno interesse dos varejistas em comercializar produtos de carnes orgânicas. Isso tem ocorrido parcialmente devido ao sucesso de produtos naturais de carnes, que são vistos por muitos consumidores como sendo similar aos produtos orgânicos. A EEB aumentou a consciência dos consumidores sobre os produtos orgânicos e os varejistas provavelmente responderão a isso através da introdução destes produtos em suas lojas. O Albertsons foi o único grande supermercado a comercializar carne bovina orgânica em 2003, mas outros deverão seguir o mesmo caminho;

– Taxa de conversão: O medo gerado pela EEB poderá fazer com que muitos produtores de carnes considerem os métodos de produção orgânica. Somente 0,2% das propriedades dos EUA são certificadas como orgânicas, mas está prevista uma grande quantidade de propriedades orgânicas à medida que mais produtores de carne sigam este caminho;

– Cadeias de fornecimento: A formação de cadeias de fornecimento acelerará à medida que os varejistas aumentem o volume de seus produtos orgânicos. Companhias como Dakota Beef estão posicionadas para tirar vantagem à medida que estão instalando fortes cadeias de fornecimento dos produtores aos varejistas. Companhias mais convencionais de carnes deverão entrar no setor de carnes orgânicas e utilizar sua infraestrutura de distribuição;

– Importações: A demanda por carnes orgânicas poderá ultrapassar a oferta em 2004 criando oportunidades para exportadores em outros países. Em 2003, a América do Norte importou carne bovina e suína orgânicas da Austrália e da Europa. Empresas da América Latina já estão buscando capitalizar nas oportunidades geradas pelo medo da EEB.

Concluindo, os efeitos do medo da EEB serão profundos. A queda na confiança dos consumidores e as barreiras às exportações poderão devastar a indústria de carnes, afetando a recuperação da economia norte-americana. Uma mudança drástica na indústria de carnes dos EUA deverá ocorrer enquanto o Food and Drug Administration (FDA) deverá determinar padrões de criação de animais e impor controles mais rígidos.

O medo gerado pela EEB poderá acelerar o crescimento no setor de carnes orgânicas. As vendas deverão aumentar já que muitos norte-americanos vêem as carnes orgânicas como mais seguras do que as não orgânicas. O mercado norte-americano para produtos de carnes orgânicas mostrará um grande crescimento, com as vendas de carne bovina orgânica projetada para expandir mais de 50% em 2004.

As altas taxas de crescimento de mercado não continuarão indefinidamente, apesar disso, e o sucesso de longo prazo dos produtos de carnes orgânicas depende de como eles estarão posicionados no mercado. A confiança dos consumidores na carne bovina não orgânica irá, em algum momento, retornar e, quando isso acontecer, haverá uma dura competição entre carnes naturais e carnes convencionais – todas produzidas de acordo com altos padrões. Até então, as companhias de carnes orgânicas precisam aproveitar a oportunidade e preparar o terreno enquanto o momento lhes é favorável.

Este artigo é baseado no relatório “Mercado Norte-Americano para Produtos de Carnes Orgânicas” feito pelo Organic Monitor.

Fonte: Just-Food.com (por Amarjit Sahota), adaptado por Equipe BeefPoint

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