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Impacto da EEB no setor pecuário do Canadá

Em 20 de maio de 2003, o Canadá registrou um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da ‘vaca louca’, em um animal da província de Alberta. Isso levou muitos países, incluindo Estados Unidos, México e Japão, a fecharem suas fronteiras às importações de bovinos, carne bovina e produtos relacionados do Canadá. Em 23 de dezembro, outro caso de EEB foi registrado em Washington, EUA. Isso levou a restrições similares aos produtos dos EUA. Estes desenvolvimentos tiveram importantes repercussões nos mercados de carne bovina da América do Norte. Especificamente, as perdas nas exportações tiveram impactos no comércio, abates, consumo, preços e produção de bovinos e carne bovina no Canadá. Os membros do setor pecuário canadense estão enfrentando vários desafios em seus negócios, além de uma severa queda no fluxo de caixa.

Principais implicações

O menor acesso a mercados estrangeiros – particularmente dos EUA – levou a uma grande queda nas exportações. Por exemplo, as exportações de bovinos e carne bovina do Canadá caíram para virtualmente zero em junho de 2003, de níveis médios mensais de Cdn$ 134 milhões (US$ 109,82 milhões) para bovinos e de Cdn$ 175 milhões (US$ 143,43 milhões) para carne bovina durante o período de janeiro a abril.


Uma melhora no acesso a mercados facilitou uma recuperação nas vendas externas de carne bovina desde setembro de 2003, quando os EUA começaram a permitir importações de carne bovina sem osso do Canadá de animais de menos de 30 meses de idade. A ação dos EUA estimulou vários outros países a agirem da mesma forma. De setembro de 2003 a agosto de 2004, as exportações mensais de carne bovina ficaram em média em Cdn$ 152 milhões (US$ 124,58 milhões) ou aproximadamente 90% dos níveis de antes da EEB. A recuperação foi limitada à carne bovina, à medida que a contínua barreira aos bovinos vivos significa que as exportações destes animais permanecem virtualmente inexistentes.

Apesar de terem aumentado imediatamente após o anúncio de EEB em maio de 2003, as importações de carne bovina do Canadá – que vêm em grande parte dos EUA – subseqüentemente caíram para cerca de metade do nível de antes da EEB durante o resto do ano. O aumento em junho provavelmente refletiu a antecipação por parte dos varejistas de uma substituição da demanda em direção aos produtos importados. O declínio posterior ocorreu devido à substituição de carne bovina doméstica por importações, bem como pela menor produção nos EUA. As importações de bovinos, apesar de ser tipicamente muito pequena, apresentaram um declínio similar.


Os frigoríficos foram imediatamente atingidos pelo embargo às exportações canadenses de carne bovina. Os abates caíram muito em junho e, em uma base mensal, ficaram abaixo dos níveis do ano anterior pelo resto do ano de 2003. Considerando-se os 12 meses de 2003, os abates caíram somente 8%. Este declínio – o maior em mais de 10 anos – poderia ter sido maior se não fossem os programas governamentais, que forneceram suporte aos pecuaristas e facilitaram o movimento de bovinos às plantas processadoras. A retirada parcial às restrições às importações desde setembro também deram suporte à atividade neste segmento. As taxas mensais de abate se recuperaram do ponto mais baixo registrado logo após a descoberta de EEB e estão, atualmente, acima dos níveis relativos aos quatro primeiros meses de 2003. As atuais taxas de abate maiores refletem o desvio de animais vivos do mercado dos EUA, onde eles estão atualmente proibidos, aos processadores canadenses.


O consumo de carne bovina no Canadá aumentou quase 6% em 2003. Grande parte deste aumento foi atribuído aos menores preços da carne bovina e às várias promoções feitas pela indústria para resolver o problema de excesso de oferta no mercado. O consumo médio individual foi 5% maior em 2003, o que representou um alívio à tendência de queda no consumo per capita que vinha ocorrendo desde meados da década de setenta.


Os preços dos bovinos caíram após a descoberta da EEB. Em julho, os preços estavam aproximadamente 50% menores do que os níveis médios dos primeiros quatro meses de 2003. Subseqüentemente, os preços começaram a se recuperar, inicialmente com o auxílio dos programas de suporte do governo e, depois, com a remoção de algumas restrições às importações de carne bovina. O suporte do governo permitiu que os produtores segurassem os bovinos vivos mais tempo enquanto o maior acesso aos mercados elevou as taxas de abates. Além disso, os preços dos bovinos continuaram bem abaixo dos níveis de antes da EEB.


Os preços no varejo também sofreram queda, apesar deste declínio ter sido bem menos dramático do que os preços dos bovinos. Em julho, esses preços tinham caído aproximadamente 6%, comparado com a queda de aproximadamente 50% para bovinos. Os preços aos consumidores se recuperaram aos níveis pré-EEB, com a ajuda de uma grande demanda doméstica e pelo maior acesso aos mercados de exportação. Além disso, os preços no varejo têm mostrado tendência de fortalecimento nos últimos meses.

Devido à redução no acesso aos mercados externos e ao declínio nos preços, a produção de bovinos e bezerros também caiu bastante no Canadá. Após um crescimento de 2% durante os 10 anos anteriores, a produção caiu pouco mais de 25% em 2003, à medida que os pecuaristas, diante das perspectivas ruins de mercado, seguraram mais tempo seus animais do que o normal. No setor de estabelecimentos de engorda, o número de animais comercializados durante 2003 sofreu um declínio de duplo dígito.


A combinação da queda na produção de bovinos e bezerros com o enfraquecimento nos preços levou ao declínio nos rendimentos nas fazendas de produção. Por exemplo, as receitas em dinheiro das fazendas para o terceiro trimestre de 2003 foram 60% menores do que no ano anterior. Para o ano como um todo, as receitas caíram 33%, para Cdn$ 5,2 bilhões (US$ 4,26 bilhões), de Cdn$ 7,7 bilhões (US$ 6,31 bilhões) em 2002. As receitas poderiam ter sido ainda menores se não houvesse os programas de suporte do governo que ajudaram a dar suporte aos preços e à produção.

Apesar da redução nos abates, os frigoríficos do Canadá testemunharam uma melhora nas margens em 2003. Os movimentos relativos dos preços sugerem que os frigoríficos provavelmente verão margens mais amplas em 2004. Especificamente, os preços dos bovinos tenderam a enfraquecer enquanto os preços da carne bovina no varejo se fortaleceram. Em contraste, as margens dos produtores de bovinos não aumentaram, à medida que o declínio nos preços dos grãos foi compensado pela queda nos preços dos bovinos. Além disso, a posição do fluxo de caixa dos produtores de bovinos foi prejudicada como resultado de terem mantido os bovinos na engorda por mais tempo, enquanto recebiam preços menores. O número de bovinos nas fazendas no Canadá aumentou quase 6% em 2003.


As restrições impostas pelos EUA às importações de bovinos e carne bovina do Canadá após a descoberta da EEB ajudaram a criar uma escassez na oferta no mercado dos EUA. Isso agravou um já apertado balanço na oferta nos EUA, que foi desenvolvido após vários anos de liquidações de rebanhos. Em 2003, o número de bovinos nas fazendas dos EUA continuou caindo, contribuindo com um declínio (3%) na produção de carne bovina. O consumo de carne bovina também caiu no ano, influenciado pela redução na oferta.

As menores importações do Canadá fizeram com que os já altos preços dos bovinos e da carne bovina nos EUA se fortalecessem ainda mais. Apesar do alívio com a reabertura parcial da fronteira dos EUA, os preços dos bovinos e da carne bovina aumentaram 25% e 8%, respectivamente, em 2003. Os preços se reduziram em 2004 à medida que a oferta teve o apoio do embargo imposto às exportações de carne bovina dos EUA depois da descoberta de um caso de EEB em Washington em dezembro passado. Entretanto, os preços dos bovinos e da carne bovina permanecem maiores do que no ano anterior, suportados pela forte demanda doméstica e pelos menores estoques de animais. O consumo, que parece não ter sofrido nenhum efeito negativo devido à EEB, deverá, segundo o USDA, aumentar em 6% em 2004. Entretanto, o número de bovinos nas fazendas deverá reduzir a seu menor nível em mais de 20 anos.


Avaliação

A descoberta de EEB teve um impacto devastador no setor de bovinos do Canadá. Os produtores foram prejudicados pela menor produção, preços menores e margens reduzidas. Entre maio de 2003 e novembro de 2004, as receitas em dinheiro das fazendas caíram quase Cdn$ 5 bilhões (US$ 4,09 bilhões) com relação ao que teriam sido se a EEB não tivesse sido registrada no país.

Apesar de os preços dos bovinos terem aumentado com relação ao baixo nível que estavam imediatamente após o anúncio da doença em maio de 2003, eles permanecem fracos. Além disso, o grande aumento no número de bovinos nas fazendas sugere que os preços irão diminuir com a ausência de uma marcada melhora no acesso a mercados estrangeiros. Os produtores de bovinos, então, continuaram enfrentando condições ruins de mercado em 2004, com as receitas durante os seus primeiros meses do ano quase 30% menores do que a média dos últimos cinco anos até 2002.

Apesar da atividade no segmento de processamento de carnes da indústria ter se recuperado, a composição desta produção mudou. A proporção de cortes de carne bovina sem osso de maior valor de animais relativamente jovens aumentou enquanto os produtores de carne bovina com osso e as carcaças inteiras diminuíram. Com os níveis de abate aumentando e os preços dos bovinos (matéria-prima) enfraquecendo, o fortalecimento dos preços da carne bovina no varejo reforçaram a performance financeira dos frigoríficos.

Do ponto de vista da perda da produção, os processadores foram os que sofreram menos impactos negativos como resultado da descoberta de EEB. Sua dependência dos mercados de exportação tem limitado o processamento de carnes, o consumo doméstico está forte e os preços da matéria-prima diminuíram. Uma vez que a maior parte do impacto da EEB veio das exportações, este segmento da indústria apresentou menores perdas.

Apesar da boa performance neste segmento de processamento de carnes, sérias questões permanecem preocupando a viabilidade do setor em longo prazo se o acesso a mercados estrangeiros não melhorar. As recentes tendências em direção à produção de carne bovina sem osso de animais mais jovens têm levado ao excesso de animais mais velhos devido à falta de mercados de exportação e à carência de capacidade de processamento. Esses dois fatores têm pressionado para baixo os preços dos bovinos. Sofrendo com os preços baixos, bem como com uma menor produção, os produtores de bovinos têm tomado iniciativas, com a ajuda dos governos federal e das províncias, para aumentar a capacidade de processamento e para encontrar mercados alternativos. Sem um melhor acesso a mercados, o tamanho do rebanho e a produção animal deverão se reduzir.

A viabilidade no longo prazo do setor será, também, dependente da confiança dos consumidores na carne bovina. Diferentemente dos episódios anteriores (isto é, no Reino Unido), onde o consumo doméstico caiu, a demanda no Canadá e nos EUA tem se mantido boa, apesar da ligação entre a EEB e a variante humana da doença, nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (nvCJD). Isso ocorreu devido principalmente à grande conscientização com relação à doença juntamente com a percepção de que os sistemas de mitigação de riscos dos EUA e do Canadá são confiáveis.

Fonte: Relatório feito pelo economista sênior do BMO – Financial Group, Kenrick Jordan, adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Fernando Ferreira Pinheiro disse:

    Quem diria! Logo o Canadá que embargou nosso produto por causa de suspeita deEEB, a situação demonstra quanto o mercado externo é competitivo e que por mais que nossas indústrias e produtores estejam preparados, temos que saber aproveitar esses acontecimentos de nosso concorrentes para fortalecer nossa posição.