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Impacto de diferentes tipos de manejo na eficiência reprodutiva durante a estação de monta

Por Alexandre H. Souza1, Luciano Penteado2, Henderson Ayres1, e Pietro S. Baruselli1

Na bovinocultura de corte, durante uma estação de monta, a maioria das vacas deve emprenhar no primeiro mês da estação. A importância desta dinâmica reprodutiva é de grande importância nas estações de monta subseqüentes, sendo isto claramente discutido pelo Prof. Gilberto Rocha e João Ratti Jr. em radares técnicos anteriores neste mesmo website (Reprodução/BeefPoint de 07/01/05, clique para ver o artigo).

Estes autores afirmaram que em estações de parição de 90 dias, 50% dos nascimentos devem ocorrer nos primeiros 21 dias, atingindo-se pelo menos 70% até 40 dias. Assim, fica evidente que a “velocidade” com que as vacas emprenham após o parto é um fator chave que determina a eficiência de uma estação de monta.

Portanto, o objetivo deste artigo é comparar alguns métodos de manejo reprodutivo adotados na estação de monta visando aumentar o número de matrizes prenhas no início da estação reprodutiva e seu impacto nas estações reprodutivas subseqüentes. Em seguida serão discutidos alguns resultados de experimentos realizados pelo nosso grupo de pesquisa.

Comparação entre programas reprodutivos na estação de monta:

Experimento 1)Comparação entre inseminação artificial em tempo fixo (IATF) associado à observação de cios de retorno comparado com a observação de cios convencional

Estudos realizados com vacas Brangus lactantes nos primeiros 45 dias de estação de monta, indicaram aumento significativo da taxa de prenhez em animais inseminados em tempo fixo (IATF), quando comparados com animais submetidos à detecção de cio e à IA convencional (detecção de estro 2 vezes ao dia e IA 12 horas após; Gráfico 1).


Gráfico 1: Percentagem de vacas prenhes inseminadas após observação de cio (IA convencional) ou após programa de IATF no primeiro dia da estação de monta associado a IA convencional em 45 dias de estação de monta. (Adaptado de Baruselli et al., 2002).

Após 45 dias de estação de monta todos os animais foram colocados com touros. A IATF “emprenhou” cerca da metade das vacas no primeiro dia da estação de monta e reduziu em 39,3 dias o período de serviço em relação à inseminação convencional, antecipando o parto e beneficiando a estação de monta subseqüente (Baruselli et al., 2002).

Experimento 2) Comparação entre quatro tipos de manejo reprodutivo durante a estação de monta

Em estudo recente desenvolvido pelo nosso grupo de pesquisa foi avaliado o efeito de diferentes tipos de manejo durante a estação monta sobre a performance reprodutiva de vacas Nelore (Penteado et al., 2005).

Um total de 594 vacas lactantes, com intervalo entre as parições de 15 dias (55 a 70 dias antes do início da estação de monta), foram subdivididas homogeneamente de acordo com a condição corporal em quatro grupos experimentais (Figura 1):
1) somente touro durante toda a estação de monta (Grupo controle);
2) IA 12 horas após a detecção do cio por 45 dias, seguido de touro até o final da estação de monta (Grupo IA-convencional);
3) IATF no início da estação de monta, seguido de IA 12 horas após a detecção do cio por 45 dias e seguido de touro até o final da estação (Grupo IATF + IA);
4) IATF no início da estação de monta seguido de touro até o final da estação (Grupo IATF + Touro).

Para a obtenção das taxas de prenhez à IATF, aos primeiros 45 dias de estação e ao final da estação de monta foram realizados exames ultra-sonográficos 30 dias após a IATF e 70 e 120 após o início da estação de monta.

A curva de prenhez acumulativa e o intervalo início da estação e concepção foram estimados pelo diagnóstico da idade aproximada da gestação. Os dados estão apresentados na tabela 1 e no gráfico 2.


Figura 1- Diagrama esquemático dos diferentes tipos de manejo durante a estação de monta. Camapuã – MS, 2005.

Tabela 1 – Eficiência reprodutiva de vacas Nelore submetidas a diferentes tipos de manejo durante a estação de monta (EM). Camapuã – MS, 2005.


Gráfico 2- Estimativa da taxa de prenhez acumulativa de vacas Nelore submetidas a diferentes manejos durante a estação de monta, Camapuã – MS, 2005.

Deste modo, ao se comparar as curvas das taxas de prenhez acumulada (Gráfico 2) fica claro que as vacas submetidas à IATF no início da estação emprenham muito mais rapidamente na estação de monta. Por exemplo, após 45 dias de estação de monta, mais de 75,3% (113/150) das vacas no grupo IATF + touro estavam prenhas. Esse dado e superior quanto comparado aos 44,3% (66/149) verificado nas vacas submetidas somente ao touro e aos 23,3% (35/150) nas vacas sob observação de cio convencional.

Também fica evidente que a taxa de prenhez do cio de retorno após a IATF foi maior com a utilização de touros (75,3%; 113/150) comparado com o uso da observação de cio convencional (63,5%; 94/148).

Verificou-se, também, que a taxa de prenhez á IA com observação de cio (23,3%; 35/150) foi inferior quando comparada a taxa de prenhez de vacas submetidas somente a touros (44,3%; 66/149). Isto, provavelmente, é devido a dificuldades na detecção do cio freqüentemente observadas em todo o mundo, como por exemplo: animais que expressam cio durante o período noturno, cios de curta duração, erros na detecção etc.

Em termos numéricos, os resultados são indicativos de que o uso estratégico da IATF em vacas Nelore (Bos indicus) lactantes como ferramenta de manejo reprodutivo promove 22 dias de antecipação da concepção e incremento ao redor de 8% na taxa de prenhez ao final da estação de monta, além de aumentar o número de vacas prenhes por IA.

Associado a essas observações, devemos nos certificar que os touros utilizados apresentam boa fertilidade (avaliação feita por meio de exames andrológicos antes do início da estação de monta). Outra observação importante é a proporção touro-vaca, que deve ser adequada às condições de manejo da fazenda.

Conclusão

Inúmeras vantagens são obtidas com a adoção da inseminação artificial em rebanhos bovinos. No entanto, a baixa taxa de serviço, seja pela ineficiência na detecção do cio ou pelo alto grau de anestro no período pós parto são os principais fatores que comprometem a eficiência dessa biotecnologia.

Dessa forma, a inseminação artificial em tempo fixo apresenta-se como uma alternativa para superar esses entraves. Quando a IATF é utilizada adequadamente, aproximadamente 50% das fêmeas sincronizadas emprenham com apenas uma inseminação realizada no período pós-parto recente (< 70 dias). Os animais que não conceberem a essa inseminação podem ser novamente inseminados com o uso da observação estratégica de cios (nos 18 aos 25 dias após o uso da IATF), ou colocados com touros para repasse. Dessa forma, podemos maximizar o número de vacas prenhes no primeiro mês da estação de monta. Também, vale lembrar que as vacas tratadas com progesterona/progestágenos que não se tornaram gestantes após a IATF apresentam maior taxa de serviço (aumenta o número de vacas que manifestam cio) e de prenhez durante a estação de monta que vacas não tratadas, antecipando a concepção e aumentando a eficiência reprodutiva do rebanho. Pelos dados apresentados, verifica-se que a inseminação artificial em tempo fixo é uma técnica que facilita o manejo, aumenta a eficiência da IA e melhora os índices reprodutivos em bovinos de corte submetidos à estação de monta. Referências bibliográficas

BARUSELLI, P. S.; MARQUES, M. O.; CARVALHO, N. A. T.; MADUREIRA, E. H.; CAMPOS FILHO, E. P. Efeito de diferentes protocolos de inseminação artificial em tempo fixo na eficiência reprodutiva de vacas de corte lactantes Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 26, n. 3, p. 218-221, 2002.

PENTEADO, L; SÁ FILHO, M.F.; REIS, E.L.; TORRES-JÚNIOR, J.R.; MADUREIRA, E.H.; Baruselli, P.S. Eficiência reprodutiva em vacas Nelore (Bos indicus) lactantes submetidas a diferentes manejos durante a estação de monta Anais XVI Reunião doColégio Brasileiro de Reprodução Animal, 2005.

ROCHA, G. P.; RATTI JR. J. Radar Técnico Beefpoint (beefpoint.com.br). Estação de Monta: algumas considerações de importância. Data: 07 Janeiro de 2005.

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1 Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP.
2 Médico Veterinário, Gerente Geral – Agropecuária Café no Bule.

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