Brasil segue negociando melhor acesso ao mercado russo
6 de junho de 2011
Boi gordo: indicador sobe e é cotado a R$ 100,00/@
6 de junho de 2011

Impactos do embargo russo

Pecuaristas e donos de frigoríficos dos três Estados prejudicados pelo embargo da Rússia à importação de carne brasileira (MT, PR e RS), estimam um prejuízo de US$ 73 milhões por mês em razão da medida.

Pecuaristas e donos de frigoríficos dos três Estados prejudicados pelo embargo da Rússia à importação de carne brasileira (MT, PR e RS), estimam um prejuízo de US$ 73 milhões por mês em razão da medida.

Representantes do setor ouvidos pela Folha de S.Paulo consideraram o bloqueio “injustificável” e acusam os russos de protecionismo. Assim como o governo, os produtores ressaltam que o comunicado sobre o embargo não foi acompanhado de justificativas técnicas. “Quando não existe problema, eles criam problema”, diz o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos, Péricles Salazar.

O governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), declarou-se “surpreso” com a posição russa e diz que ainda aguarda detalhes sobre os motivos do embargo. “O que podemos afirmar é que, do ponto de vista da sanidade do rebanho, Mato Grosso vem fazendo seu dever de casa muito bem.”

Para Jandir Milan, presidente da Fiemt (Federação das Indústrias de Mato Grosso), a medida russa teve a intenção, acima de tudo, de fortalecer a produção própria de carne, na qual o país vem investindo muito. “Para fazer a roda girar lá, eles têm que fechar aqui”, afirma.

Segundo o presidente do Sicadergs (Sindicato da Indústria de Carnes do RS), Ronei Lauxen, será necessário procurar outros destinos. “Em último caso, vamos nos voltar para o mercado interno, o que pode derrubar os preços e prejudicar o produtor.”

Os preços das três principais carnes brasileiras fecharam mais uma semana em queda. A perspectiva de recuperação também diminuiu após a proibição da Rússia para entrada do produto de três Estados nacionais. A arroba do boi caiu de R$ 98,94 para R$ 97,90, segundo dados do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas (Cepea). Os preços dos bovinos continuam derrubando os valores das outras carnes. Os suínos registram a pior situação, com nova queda. Na semana os valores diminuíram 6% e fecharam a R$ 2,09 por quilo.

O anúncio de embargo da Rússia pode atrapalhar o movimento de recuperação projetado pelos produtores nacionais para os próximos meses. “Vai sobrar mais carne no mercado interno e isso deve pressionar ainda mais as cotações para baixo, principalmente de suínos”, diz a pesquisadora Camila Ortelan.

Embrago também afeta papéis de frigoríficos

O embargo da Rússia à carne brasileira levou à desvalorização dos títulos da Marfrig Alimentos SA e da JBS SA vendidos no último mês. Os bônus em dólar da Marfrig registraram ontem a maior queda entre as notas de empresas brasileiras, resultando num salto de 16 pontos-base no rendimento, para 8,72%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O segundo maior frigorífico da América Latina vendeu US$ 750 milhões em títulos no dia 4 de maio. O rendimento dos papéis emitidos pela JBS, maior produtora mundial de carne bovina, subiu 11 pontos-base, ou 0,11 ponto percentual, para 7,52%, o maior nível desde a emissão em 20 de maio.

“Esta é uma questão meio recorrente”, disse Luz Padilla, que administra cerca de US$ 400 milhões em dívida, incluindo títulos da Marfrig e da JBS, como chefe do fundo de renda fixa de mercados emergentes da DoubleLine Capital LP em Los Angeles. “Levando em consideração o quanto isso se repete, obviamente não é positivo no fim das contas”.

O rendimento médio de bônus corporativos de mercados emergentes estava inalterado ontem a 5,65%, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. A taxa da dívida externa do governo brasileiro em dólares com vencimento em 2019 se manteve próxima ao menor nível em seis meses de 3,65%.

SC pode lucrar com embargo russo

Como SC é o único Estado reconhecido internacionalmente como zona livre de aftosa sem vacinação, poderá aumentar a venda de frangos e talvez até de suínos.

Basta lembrar que o Estado perdeu a liderança de exportações de suínos em 2005, para o Rio Grande do Sul, quando focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná acabaram resultando em um embargo russo também para Santa Catarina, pela proximidade com o Paraná.

O presidente da Associação Catarinense de Avicultura, Cléver Ávila, diz que a maioria das agroindústrias tem plantas em vários estados e pode direcionar a venda para a Rússia aos estados que não têm a restrição. “Santa Catarina poderá momentaneamente aproveitar a situação e ampliar a exportação”, avalia.

Ele acredita que a perda, no momento, é que a imagem do Brasil fica arranhada, mas prevê que o governo vai acabar revertendo a situação.

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sindicarnes) de SC, Ricardo Gouvêa, também acredita que o Estado pode ser beneficiado, com os russos comprando mais dos catarinenses.

Para o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos, Losivânio De Lorenzi, a expectativa é de aumentar as vendas. Ele espera que isso possa amenizar a crise pela qual o setor vem passando. O preço do suíno, que era de R$ 2,54 por quilo vivo em dezembro do ano passado, agora está em R$ 2,20. E o milho, usado na ração, está em alta.

O presidente da Coopercentral Aurora, Mário Lanznaster, afirma que o embargo vai ser bom para o frango catarinense. Ele explica que, com a grande oferta de carne de frango no mercado interno, há espaço para ampliar as vendas de SC para os russos, já que os demais estados terão que remanejar a produção para outros países. Lanznaster acha mais difícil uma maior demanda pela carne suína catarinense, já que somente as agroindústrias Seara e Pamplona estão credenciadas para este mercado.

Em 2010, 49% das exportações de suínos do Brasil foram para a Rússia. Lanznaster acredita que os russos devem comprar de outros países, como os EUA, já que o real valorizado tira competitividade da carne brasileira.

As informações são da Folha Online, do Diário Catarinense, do portal EPTV e do Portal Exame, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

Os comentários estão encerrados.