As perspectivas não são das melhores para as empresas brasileiras de carne, pelo menos em curto prazo. O mercado doméstico deverá ter retração na demanda, principalmente para carnes mais caras, uma vez que o consumidor vai enfrentar uma série de altas de custos em seu dia a dia, como os com energia e água. O mercado externo também tem incertezas, com a queda dos preços do petróleo no mercado internacional, que reduziu a capacidade de compra de países produtores da commodity, sendo o caso mais agudo provavelmente o da Rússia.
Ainda que o desempenho de mercados como a Rússia preocupe, empresas exportadoras apontam a atual valorização do dólar como favorável para o segmento, já que torna os produtos brasileiros mais competitivos.
Renato Costa, presidente da JBS Carnes, disse em relação aos riscos que a atual volatilidade do dólar gera, que a empresa tem instrumentos de hedge para proteção da moeda. Ele disse que os importadores russos estão retomando os negócios depois de uma “recuada” que normalmente ocorre no fim do ano em decorrência do período de inverno. Ele observa que “o consumidor não deixará de comer”, mas reconhece que a desvalorização do rublo deve levar a uma “acomodação” nos preços de venda à Rússia.
Apesar da Rússia, Costa afirma que as perspectivas são positivas para a China, que está retomando as importações de carne bovina após um período de embargo devido ao caso atípico de vaca louca em Mato Grosso. Afora isso, a expectativa é de que os Estados Unidos finalmente abram seu mercado à carne in natura do Brasil.
José Humberto Prata Teodoro Júnior, diretor de global desk da BRF, também reconhece que o cenário é desafiador nos mercados exportadores de petróleo, como Rússia e Angola. Segundo ele, já há clientes com dificuldade para obter financiamento para importar do Brasil. A situação, porém, é mais confortável na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes, diz o executivo, apesar de a região ser uma grande exportadora de petróleo. Isso porque o nível de reservas de dólares desses países é elevado, o que permite a manutenção das compras.
Segunda maior exportadora de carne bovina do país, a Minerva Foods segue”bastante otimista” com o desempenho da vendas externas, afirma o diretor financeiro da empresa, Edison Ticle. Em sua visão, o quadro global de oferta e demanda de carne bovina é amplamente favorável para a América do Sul, já que há escassez de oferta de carne bovina no mundo e restrição na disponibilidade de rebanho bovino nos EUA e Austrália.
Ticle destaca ainda a demanda aquecida no Sudeste Asiático e também no Oriente Médio. Mesmo em relação à Rússia, ele minimiza os impactos da queda dos preços do petróleo, dizendo que o efeito não é de redução de consumo, mas de migração para cortes de carne bovina mais baratos. “Continuamos acreditando em [maior] volume exportado pelo Brasil, principalmente da Minerva, que tem viés exportador”. As exportações representam dois terços do faturamento da companhia.
Em relação ao mercado doméstico, o esperado aumento de custo de vida deve reforçar a migração do consumidor para proteínas mais baratas como o frango, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçou que a carne de frango está mais competitiva que as concorrentes.
Pelo IPCA de janeiro, o item carnes – inclui os cortes de carne bovina e carne suína – registrou alta de 1,55%, sendo responsável por 2,85% da alta de 1,24% do índice geral no mês passado. Em contrapartida, o item aves e ovos, que inclui a carne de frango, teve queda de 0,38% em janeiro.
Ticle reconhece que a perspectiva não é promissora para o mercado doméstico. “É um ano de PIB com crescimento pequeno ou até mesmo retração e inflação mais alta. Isso tudo implica redução da renda real. Então, não dá para esperar expansão do consumo”. Ainda assim, ele não prevê redução no volume vendido de carne bovina no Brasil.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.