Nesta sexta-feira, o BeefPoint participou da conferência realizada pelo Independência para apresentação do relatório elaborado pela KPMG Corporate Finance Ltda. - Serviços de Reestruturação (KPMG) sobre a situação da empresa. Na apresentação o diretor da consultoria André Schwartzman discorreu sobre a estratégia de crescimento adotada pela empresa, motivos que causaram as dificuldades financeiras e o detalhamento da dívida do frigorífico.
Nesta sexta-feira, o BeefPoint participou da conferência realizada pelo Independência para apresentação do relatório elaborado pela KPMG Corporate Finance Ltda. – Serviços de Reestruturação (KPMG) sobre a situação da empresa.
Na apresentação o diretor da consultoria André Schwartzman discorreu sobre a estratégia de crescimento adotada pela empresa, motivos que causaram as dificuldades financeiras e o detalhamento da dívida do frigorífico.
Crescimento
Desde 2007, em função do forte desempenho da Empresa durante os anos anteriores, a diretoria do Independência estabeleceu uma estratégia de crescimento agressiva para os anos seguintes, alcançando expansão na capacidade de abate de 4.100 cabeças/dia em janeiro de 2007 para 11.800 cabeças/dia em dezembro de 2008.
Para financiar este crescimento e as aquisições de 2007 e 2008, a Empresa levantou linhas de capital de longo prazo indexadas em dólares americanos, bem como, empréstimos para financiamento de capital de giro (ACC).
Em novembro de 2008, para fazer frente ao aumento nas despesas de capital e necessidades de capital de giro, o Independência captou junto ao BNDES um montante de R$ 250 milhões. Adicionalmente, no primeiro trimestre de 2009, estava prevista uma captação complementar de R$ 200 milhões junto ao BNDES que, no entanto, não ocorreu devido à situação financeira complicada da empresa.
Crise
A combinação dos fatores: (i) estratégia de crescimento agressiva, em 2007 e 2008, levando a altos níveis de alavancagem; (ii) dívidas indexadas predominantemente em dólares americanos, bem como, exposição em contratos de hedge cambial, em um cenário de desvalorização significativa da moeda brasileira; e (iii) perdas operacionais significativas como resultado dos elevados preços da matéria-prima, e expansão da produção em momento de preços deprimidos (janeiro e fevereiro de 2009), diferentemente do histórico esperado, no contexto da crise financeira mundial e do seu impacto direto no Independência, causaram um aumento significativo nas suas dívidas e em seus níveis de liquidez, levando a Empresa à sua atual situação financeira.
A forte redução nas exportações e no preço de vendas, tanto no mercado interno como no externo, não acompanhada por custos mais baixos do gado, resultaram em margens negativas para o Independência, observadas em janeiro e fevereiro de 2009.
Gráfico 1. Média de preço de venda da carne bovina e do preço do boi gordo
O agravamento da crise mundial também refletiu em retração das linhas de crédito no comércio internacional, maiores necessidades de capital de giro e redução na liquidez, aumento nos custos de financiamento, redução nos cronogramas de financiamentos de curto prazo, aumento na dívida devido à desvalorização cambial, cancelamento das operações de financiamento.
Em janeiro de 2009, a Empresa decidiu aumentar sua produção fortemente, com base nos baixos níveis de estoque e na expectativa de um grande aumento nas vendas no curto prazo. De acordo com o Independência, a decisão foi tomada pois historicamente, a exportação tem uma queda durante o último trimestre, retornando aos altos níveis durante o primeiro trimestre do ano, devido à forte demanda de importadores para reestabelecimento dos seus níveis de estoque. O consumo doméstico costuma diminuir no primeiro trimestre, ocasionando a baixa do preço do gado, aumentando a atratividade das exportações, e a administração esperava que essa tendência fosse se manter em 2009. Mas o cenário mapeado pelo Independência para 2009 não se realizou.
Dívidas
De janeiro de 2008 a fevereiro de 2009, a dívida líquida da Empresa aumentou de R$1.045 milhões para R$3.003 milhões. Os principais eventos em 2008 foram, a emissão de notes no valor de US$ 300 milhões em maio e captações através de novas linhas de ACC e Finame em setembro.
A desvalorização da moeda brasileira causou um aumento das perdas com variação cambial no montante de R$234 milhões até fevereiro de 2009.
Gráfico 2. Evolução da dívida líquida
Tabela 1. Detalhamento da dívida total
Gráfico 3. Detalhamento do total da dívida
Próximas ações
Redução de custos mensal
O Independência está tomando uma série de iniciativas para reduzir seus custos operacionais. A Empresa devolveu duas propriedades arrendadas, uma propriedade em Cajamar e a outra em Santos. A devolução destas propriedades reduzirá os custos mensais do Independência em R$26.000, referentes às prestações do arrendamento.
Somado a isto, a Empresa encerrou suas atividades com couro na unidade de Senador Canedo, o que acarretará uma redução das prestações referentes ao arrendamento no valor de R$222.000.
Ativos arrendados (custos mensais)
O Independência está negociando com os bancos e terceiros a possibilidade de devolução de ativos para os quais a Empresa está pagando o prestações de leasing e Finame. Se conseguir devolver estes ativos, o Independência reduzirá os gastos mensais em R$3,17 milhões. Para devolver estes ativos, uma autorização judicial é necessária.
Planejamento para redução de custos mensais
A Empresa tem um planejamento de redução de gastos fixos mensais, começando com despesas salariais. De dezembro de 2008 a abril de 2009, a Empresa demitiu 6.715 funcionários. O Independência planeja ainda reduzir despesas fixas salariais em adicionais R$ 2,9 milhões mensais.
O Independência está negociando com a IFC Foods a devolução de plantas arrendadas de Itupeva e Nova Xavantina. Se estas negociações forem bem sucedidas, a Empresa reduzirá gastos mensais em R$ 760.000.
A Empresa está renegociando os acordos de compra da planta de Paraíso do Tocantins, com intenção de reduzir seus custos mensais em R$ 200.000.
Perguntas
Ao final da apresentação o gerente de suprimentos de matéria-prima do Independência, Eduardo Pedroso respondeu algumas perguntas enviadas pelos participantes da conferência:
Quando e como vou receber o crédito do gado abatido
“Ao longo dos próximos 60 dias o Independência deverá apresentar o seu plano de recuperação propondo como serão efetuados os pagamentos e qual será o plano de retomada. Gostaria de frisar que a empresa entende que os pecuaristas e demais fornecedores são absolutamente prioritários e estamos estudando alternativas legais para agilizar ao máximo seu pagamento, estamos trabalhando junto aos demais credores para que isso aconteça. Este é um compromisso do Independência com todos os seus fornecedores”
Sobre o pacote do Governo de ajuda ao agronegócio: O Independência tem chance de acessar parte desse crédito? Empresas em recuperação judicial podem requerer este apoio?
“O Governo ainda não regulamentou qual será o fluxo desse dinheiro. Caso a empresa se beneficie deste empréstimo, esse fato aumentará significativamente a liquidez da empresa, facilitando a retomada das operações. Em nosso entendimento, a retomada das operações passa necessariamente pelo pleno pagamento dos fornecedores. A empresa ainda está com todos os seus créditos passíveis de restituição pelo Governo levantados e a documentação pronta para se beneficiar desta restituição. Porém ainda não há definição da parte do Governo quando a forma e critérios de distribuição destes créditos”
Quais serão os próximos passos da recuperação judicial? O fornecedor corre o risco de receber em 20 anos?
“Sinteticamente podemos dizer o seguinte, em 27 de abril a Companhia apresentou a documentação necessária para a apreciação do pedido de recuperação judicial pela Excelentíssima juíza de Cajamar. A Companhia aguarda o deferimento do processo que deve ocorrer nos próximos dias, e a partir disso a empresa terá um prazo de 60 dias para apresentar o seu plano de recuperação, com o pleno pagamento dos fornecedores. O credor não precisa tomar nenhuma medida para ser incluído na recuperação judicial. Todavia, se o credor não estiver relacionado na relação de credores apresentada ou não concordar com o valor de classificação do seu crédito, após a publicação do edital que comunica o deferimento do processo, o credor deve apresentar num prazo de 15 dias, para o administrador judicial, suas ressalvas, sua habilitações ou divergências quanto aos créditos relacionados. De modo prático, nós colocamos à disposição dos senhores todo nossa equipe para que os valores formalmente apresentados sejam conferidos. A lista dos credores já encontra-se em todas as nossas unidades e também em Cajamar, a título de conferência de valores.”
Quando o Independência pretende retomar as atividades
“A empresa possui 32 anos de mercado. Já estamos retomando as atividades gradualmente, até porque quem não trabalha não paga conta, e estamos construindo um plano de retomada mais parrudo a ser apresentado num prazo máximo de 60 dias. Agora nós garantimos a todos os senhores que o objetivo da empresa é permanecer no mercado, pelo menos pelos próximos 32 anos.”
Por que o Independência não se manifestou oficialmente aos credores nos últimos 60 dias?
“Muitos devem ter se perguntado sobre os motivos da empresa não ter se manifestado em detalhes até então para os fornecedores. Afirmamos que os últimos 60 dias foram muito difíceis para todos nós, tanto os senhores, que nós entendemos a necessidade do recebimento, quanto para a própria empresa, que não está acostumada com este tipo de situação. Reforço o pedido de desculpas pelos transtornos gerados na vida de todos os senhores, ocasionados pela interrupção dos pagamentos por parte de nossa empresa a partir de 25 de fevereiro. Nesse período a empresa procurou focar os trabalhos internamente, a preocupação sempre esteve ligada à credibilidade e transparência do conteúdo a ser publicado ao mercado. Optou-se por consultorias independentes e de primeira linha, que foram contratadas para inventariar todos os acontecimentos macroeconômicos e os específicos de nossa empresa, todos os créditos por tipos e condições contratuais, bem como para auxiliar a empresa na elaboração do plano de recuperação a ser apresentado. Sabemos que o processo de recuperação pode ser lento e gerar ainda mais desgastes a todos os envolvidos e esse é o principal motivo da cautela, de toda a dedicação que vem sendo exercida, porque qualquer falha na elaboração desse processo pode retardar tanto a retomada das atividades da empresa quanto o recebimento por parte dos fornecedores. Com todo esse cuidado, essa atitude, a empresa pretende encurtar os prazos de negociação e minimizar o desconforto causado.”
Abaixo disponibilizamos apresentação sobre a análise preliminar e desempenho financeiro recente do Independência feita pela KPMG:
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Pensemos:
30 anos de trabalho, 2 anos de estratégias e negócios mal feitos. Será que os 3,45 bilhões são pagáveis? Vamos esperar para ver, acho que mais 32 anos de prazo é muito pouco tempo.
Estou presidente do sindicato rural de Colider, gostaria de saber o que de real acontecerá com a planta de Colider? Retornará as atividades? E também uma proposta de quitação dos débitos com os pecuarista.
Apesar de ser uma espera árdua para todos, acredito e sempre acreditarei nesta empresa, pois é uma empresa séria e responsável pelos seus atos e que jamais pensou em um dia estar passando por este momento tão difícil como esse, e tenho certeza que vai superar mais esse obstáculo. Estamos torcendo para que volte suas atividades o mais breve possivel.
Lamentavelmente, por estar em viagem para a Fazenda em Mato Grosso, não nos foi possível participar da conferência. Contudo, não acreditamos em recuperação de uma empresa que utiliza a dissimulação como estratégia, pois demite 6.715 funcionários e fecha a totaidade das unidades, estas que nem sabemos se são próprias ou não, ferindo, literalmente, o texto da lei cuja proteção buscou. Por outro lado, não explicou qual será o destino de cada uma de suas unidades, limitando-se a dizer que em 60 dias apresentará o tal plano de recuperação, propriamente dito. Por todos estes motivos, que inclusive foram apresentados judicialmente, esperamos, e confiamos, no INDEFERIMENTO do pedido de recuperação desta empresa. E que os pecuaristas deste amado Brasil aprendam mais esta lição, não vendendo-lhes mais gado, e até mesmo impedindo o funcionamento de qualquer de suas unidades, até que ocorra o pagamento integral do gado por eles adquirido e ainda não pago.
o pecuarista precisa entender de uma vez por todas a força que possui, se nao fornecermos a materia prima, o frigorifico nao tem como reabrir, com isso quem sabe se torne coisa do passado este abre e fecha de frigorifico, onde se transfere a propriedade e reabre com outra razão social, deixando um rastro de dividas que infelizmente com as leis que temos nunca serão quitadas.
Este momento de crise esta nos servindo como uma escola, podemos aproveitar as aulas e aprender com ela. Acredito que a situação global hoje requer estratégias de parceria, pois o ganha muito e rapido acabou e não esperem o seu retorno a curto e médio prazo (opinião pessoal). Eu acho que uma estratégia para se receber os saldos monetários neste cenário seria a negociação entre os orgãos reponsáveis pelos pecuaristas e os respónsáveis pelo(s) frigorifico(s) pois planta parada não gera recurso e sim despesas. Porque não os pecuaristas utilizarem estas unidades desativadas para abater e negociar seu proprio gado, pois asim seria uma maneira de se recuperar ou ao menos diminuir as perdas atuais. Onde o pagamento de um “arrendamento” seria abatido das dividas assumidas.
Muito boa a sugestão do Sr. Jaime, uma vez que temos bons executivos desempregados e que com certeza aprenderam muito com esta situação atual, é hora de os pecuaristas sim assumirem algumas plantas, pq proteina nunca é demais.
Nao é possivel, que continuem, sem que pelo menos, paguem os funcionários e os pecuaristas, pois somente assim é a unica forma de transparencia e honestidade, e sobrevivencia neste arduo segmento de industria alimenticia.
Posso falar com experiencia de quem atuou dentro de umas dessas unidades que foram fechadas. A empresa e muito seria, porem por uma crise muito grande de mercado e uma certa vontade louco de crecer, fez cair por terra umas das melhores teorias sobre classificação de carcaça, premiação por uniformidade e seriedade na transparencia quando se fala em explicar romaneio de abate aos pecuairsta. Fica aqui a minha opniao que resalta o compromisso que existia quando as unidades funionavam, agora quanto ao recebimento, ai tem o meu repudio, pois niguem merece gastar tanto para ter um animal pronto para abate e nao receber ou sequer saber quando recebera. Espero a solucao o mais breve possivel.
As primeiras medidas a serem tomadas objetivando a recuperação de crédito de uma empresa, na minha opinião são:
a) Clareza, simplicidade e transparência referentes a ocorrencias, fatos e informações junto aos credores.
b) Trabalhos objetivos e em equipe por parte de credores e devedores.
c) Tomada de decisçoes imediatas, objetivas e finalmente:
d) Iniciação de pagamentos acordados independetemente do montante para demonstração real e concreta de intenção de acerto (maneira sensata de recuperação prática de crédtito).