Reposição Fêmea Nelore – 16/04/08
16 de abril de 2008
Arrobas de boi gordo por tonelada de carne bovina in natura exportada
18 de abril de 2008

Indicador recua, mas frigoríficos ainda trabalham com escalas curtas e dificuldade de compra

O indicador de boi gordo teve uma semana de recuos, com os frigoríficos tentando impor pressões baixistas alicerçados na notícia de que a safra começou. Porém no mercado físico os preços seguem firmes na maioria das praças e as escalas não evoluem de forma significativa.

O indicador de boi gordo teve uma semana de recuos, com os frigoríficos tentando impor pressões baixistas alicerçados na notícia de que a safra começou. Porém no mercado físico os preços seguem firmes na maioria das praças e as escalas não evoluem de forma significativa.

O indicador Esalq/BM&F boi gordo, levantado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) foi cotado a R$ 77,11/@, nesta quarta-feira, acumulando desvalorização de 0,32%, em relação à semana passada. No mesmo período o indicador a prazo apresentou variação negativa de 0,35%, sendo cotado a R$ 77,91/@ nesta quarta-feira.

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio


A moeda americana continua recuando. Ontem, o dólar comercial atingiu a menor cotação desde 19 de maio de 1999, seguindo o intenso movimento positivo do mercado e a expectativa de aumento no diferencial dos juros praticados aqui e no exterior. O dólar compra fechou em R$1,6691, com queda de 1,06% na semana. Com esse recuo, o preço do boi gordo em dólares apresentou valorização, sendo cotado a US$ 46,20/@ (+0,75%), 12 meses atrás a cotação era 66,84% menor do que o valor atual – em 16 de abril de 2007 arroba do boi gordo valia US$ 27,69.

No mercado físico, o feriado de segunda-feira que vem colaborou com os frigoríficos, promovendo um aumento virtual das escalas. Muitos compradores comentam que a oferta tem aumentado e a safra começou, mas o que vemos são as escalas caminhando lentamente e muitas indústrias ainda trabalhando com programações falhadas.

No Mato Grosso do Sul, um frigorífico aceitou pagar R$ 75,00/@ e conseguiu comprar um volume maior de animais, esticando sua escala até meados de maio. Apesar da oferta um pouco maior a demanda por boi gordo é grande, já que muitos frigoríficos paulistas estão buscando animais no estado vizinho.

No restante do país os preços seguem firmes e os frigoríficos tentam conter novas altas, mas as escalas não andam e para comprar volumes maiores é preciso negociar e pagar preços mais altos pela arroba.

Já a reposição continua sua trajetória de alta, com valorizações consecutivas no preço do bezerro. O indicador Esalq/BM&F bezerro MS à vista foi cotado a R$ 555,23/cabeça, acumulando valorização de 2,61% na semana. Em relação ao mesmo período do ano passado a valorização já é de 36,24%.

Com o indicador de boi gordo recuando e o bezerro se valorizando dia após dia, a relação de troca caiu para 1:2,29, recuo de 2,85% na semana. A margem bruta também recuou, ficando em R$ 717,09, este valor é 2,48% menor do que o registrado na semana passada , porém ainda está acima da média dos últimos 12 meses, que é de R$ 634,18. A margem bruta na reposição é o montante que sobra para o pecuarista após ele vender um boi gordo de 16,5@ e comprar um bezerro para repor o rebanho.

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&F bezerro MS à vista x margem bruta na reposição


No mercado futuro, todos os vencimentos acumularam desvalorização durante a semana. A bolsa tem registrado grande volatilidade nos últimos dias, situação que só deve mudar após uma definição da oferta no mercado, ou seja, quando ficar claro se a oferta realmente irá aumentar possibilitando recuos consistentes no preço da arroba ou se a oferta segue restrita nos próximos meses.

Os contratos com vencimento em abril/08 fecharam nesta quarta-feira a R$ 77,15/@, acumulando queda de R$ 0,55, na semana. Maio/08 teve variação negativa em relação a quarta-feira passada, fechando a R$ 76,49/@. No período a maior variação foi registrada para os contratos que vencem em outubro/08, -R$ 1,66, estes contratos fecharam a R$ 83,41/@, nesta quarta-feira.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&F e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 09/04/08 e 16/04/08


No atacado da carne bovina, apesar das ofertas não apresentarem excedentes expressivos a retração na procura tem se acentuado de forma bem significativa. Segundo o Boletim Intercarnes os preços seguem truncados e indefinidos, especificamente para traseiros. Nesta quarta-feira o traseiro foi negociado a R$ 5,30, o dianteiro a R$ 4,10 e a ponta de agulha a R$ 3,70. O equivalente físico foi calculado em R$ 69,36/@, acumulando recuo de 2,57% na semana. O spread (diferença) entre indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista e equivalente físico apresentou variação positiva de R$ 1,58, ficando em R$ 7,75/@. Vale lembrar que quanto maior o spread menor será a margem bruta do frigorífico.

Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina


Gráfico 3. Spread entre indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista e equivalente físico


O Copom (Comitê de Política Monetária – do Banco Central) elevou ontem, 16 de abril, o juro básico em 0,50 ponto percentual, para 11,75% ao ano. De acordo com o diário britânico “Financial Times”, o BC surpreendeu os mercados ao decidir aumentar sua taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, o dobro do que a maioria dos economistas previam.

O aumento pôs fim a mais de dois anos de cortes das taxas em meio a crescentes preocupações de que a inflação dos preços ao consumidor excederá a meta do governo neste ano, já que nos últimos dois anos o consumo interno tomou o lugar das exportações como motor do crescimento brasileiro, com um boom de consumo estimulado por desemprego em queda, salários em alta e crédito barato.

Esta semana muito se falou a respeito da alta no preço das commodities agrícolas e da influencia que os biocombustíveis tem sobre esse aumento. “Se os preços da comida continuarem como estão (em alta), as conseqüências serão terríveis em muitos países, não só nos da África”, advertiu o novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, rebateu as declarações. “A preocupação em torno dos biocombustíveis não se aplica ao Brasil, mas à Europa e aos Estados Unidos que têm a produção agrícola distorcida, de um modo geral, por conta do grau de subsídios utilizados nestes países”, diz Stephanes.

Segundo comunicado do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil tem extensas áreas disponíveis para o cultivo de matéria-prima destinada aos biocombustíveis, sem para isso, prejudicar a produção de alimentos básicos. No caso da cana-de-açúcar, a matéria-prima utilizada na produção de etanol, a plantação do produto representa menos de 1% da produção total agrícola brasileira. Além disso, a expansão da cana está ocorrendo em áreas de pastagens subaproveitadas, que não concorrem com a produção de alimentos.

Publicamos um artigo de André M. Nassar, diretor geral do Icone, que fala sobre a alta dos alimentos nos últimos anos e analisa a ligação entre os preços da commodities agrícolas e o preço da petróleo. “Os preços dos alimentos se transformaram em preocupação mundial. Altos preços são um problema para os importadores líquidos de alimentos, que estão entre os países mais pobres do mundo – e para o brasileiro também, se deixarem algum resíduo inflacionário por aqui. O problema maior, no entanto, não é as commodities estarem caras, mas sobrevalorizadas. A dica é a seguinte: quer saber o que vai acontecer com os preços dos alimentos? Siga os preços da energia. E a moral da história: os alimentos estão sobrevalorizados porque as políticas dos EUA para o etanol de milho e as européias para o biodiesel de colza encareceram os alimentos mais do que o esperado”, leia mais.

Os irlandeses continuam exigindo que a UE mantenha as restrições à carne bovina brasileira. “A Europa deve manter seu embargo total às importações de carne bovina do Brasil para proteger a sanidade de seu rebanho bovino”, disse o presidente da Associação de Produtores Rurais da Irlanda, Padraig Walshe, ao jornal The Scotsman.

Ao mesmo tempo, na Inglaterra, a rede britânica Young´s, dona de 200 pubs em Londres e arredores, decidiu retirar do menu alguns pratos com bife, na falta do produto brasileiro. A principal razão é o custo.

Segundo o diretor de Young´s, Paul Jeffreys, a restrição à entrada da carne brasileira na Europa está fazendo o preço da carne atingir em cheio a fatura de alimentação. ´´A carne do Brasil e da Argentina que chegou nos dois últimos anos era de excelente qualidade e barata´´, destacou, dizendo que “a britânica é boa, mas é cara demais´´.

Nesta semana, o governo brasileiro decidiu criar o cargo de adido agrícola em oito embaixadas no Exterior para pesquisar mercados e facilitar negociações sobre temas sanitários. Os cargos serão criados por meio de um decreto presidencial, cujo texto está na Casa Civil da Presidência e será publicado no “Diário Oficial” da União nos próximos dias. A expectativa do Ministério da Agricultura é que os primeiros adidos iniciem o trabalho dentro de, no máximo, nove meses. o BeefPoint publicou recentemente um artigo sobre o tema, leia mais em Estabelecimento de Escritórios de Agricultura e cargos de Adido Agrícola – questão de urgência para o agronegócio brasileiro.

0 Comments

  1. Rodrigo Belintani Swain disse:

    Prezado André,

    sempre leio sua reportagem e tento comparar com minha região, no Paraná, a @ do boi gordo está R$ 73,00 à vista e a @ da vaca gorda R$ 68,00.

    O que está segurando um pouco os negócios é o valor da reposição, quem está vendendo quer sempre um pouco mais e quem está comprando não quer pagar o preço pedido, assim temos poucos negócios e estes com muita cautela.

    E a respeito do valor da @, acredito que tem espaço para novas valorizações, pois a pecuaria tem que valer a pena em comparação com outras atividades, como soja, milho, cana. E aqui no Brasil temos espaço para produzir etanol e alimentos para nossa população e ainda exportar, portanto a valorização dos alimentos nada tem haver com a produção de etanol mas sim com politicas de subsidios, preços de insumos, definidos por uma ou duas multinacionais e pela grande margem de lucro de distribuidoras e industria.

    Acho que estamos começando uma mudança no mercado de alimentos, grãos e carne, no qual devemos investir para trabalhar produtor – consumidor.

    Abraço.

  2. André B. F. Schierz disse:

    André, excelente escrita! Resume o panorama atual com muita propriedade.

    Vamos ver se os produtores conseguem repor um pouco as perdas amargadas nos últimos anos, e quem sabe temos a valorização do produtor assim como daquilo que produz.

    Tenho alguma dúvida se o BC vai mesmo conseguir controlar inflação vinda dos alimentos com algum aumento de juros, já que precisamos de insumos baratos e bom clima para conseguir produzir uma oferta maior de alimentos, além de investimentos em tecnologia (conhecimento) e máquinas. Vejo o aumento de juros mais como um dificultador do que facilitador.

    Vale ressaltar a importância de fazer o hedge cambial também, pouco adianta a commodity se valorizar em dolar e o dolar perder valor.

    Temos mesmo um panorama difícil, comida está escassa e lógicamente cara em todo o mundo, e ainda mais cara quando as moedas dos emergentes ganham valor deixando nossos produtos mais caros lá fora.

    Definitivamente o que nos chama atenção é a necessidade de olharmos para todo o panorama no mundo para tomarmos nossas decisões!

    Ficaremos de olhos bem abertos!

  3. João Pedro Oscar Bindel disse:

    Sr. André Camargo

    Parabéns pelo seu artigo. A sua análise está corretíssima e sempre que observo seu nome em algum artigo eu o tenho impresso em meu computador para futuras consultas.

    Esteja certo que ao comentar a situação dos mercados estará valorizando esse site que é o melhor em suas análises.