Tenho percebido através de cartas e consultas que venho recebendo diariamente, que devo pormenorizar e enfatizar os conceitos quanto aos índices e indicadores econômico-financeiros que são utilizados normalmente, para a visualização do andamento do negócio que se propõe desenvolver.
É o que farei ao longo dos próximos artigos, sempre lembrando que a avaliação das alternativas de investimento no setor rural se refere simplesmente ao dispêndio de capital. Evidentemente não existe uma técnica ideal ou definitiva, devendo a escolha depender do que se quer medir e do ângulo que se quer ver o investimento. A técnica empregada não toma decisão, é apenas um instrumento que o empresário e administrador tem disponibilizado para auxilia-lo na tomada de decisão.
Aliada a técnica, o empresário e administrador deve estar sempre atento aos aspectos do investimento que a técnica não abrange e que pode pesar na tomada de decisão como: Disponibilidade de Recursos, Custo do Capital, dentre outros.
Primeiramente devemos estar cientes que, em qualquer negócio, deve ser analisado seu comportamento em relação ao montante de recursos que foram aplicados para o seu desenvolvimento. Está diretamente ligado ao CAPITAL dispendido para desenvolvimento da atividade.
Por outro lado temos que analisar o quanto a atividade desenvolvida é capaz de produzir recursos, seja para remunerar o CAPITAL investido, como também para gerar renda excedente.
Como já descrevi em artigos anteriores, tento passar a idéia de que o produtor rural deve se profissionalizar e visualizar seu negócio de forma empresarial. É justamente essa visão que gostaria de passar aqui.
CUSTO DE OPORTUNIDADE (DO CAPITAL INVESTIDO):
Se refere ao montante de moeda que deixamos de receber quando optamos por desenvolver determinada atividade em detrimento de aplicar esse CAPITAL no mercado financeiro.
Requer análise cuidadosa, pois não representa desembolso, porém demonstra o grau de eficiência produtiva da atividade quanto a sua capacidade de remuneração do CAPITAL investido.
Como exemplo prático temos: Um determinado produtor desembolsou R$320.000,00 (trezentos e vinte mil reais) na aquisição de 1.000 bezerros para a recria e engorda. Além disso, ao longo do ciclo até o abate destes animais, houve mais desembolsos com:
Funcionários: 2 peões com salários de R$660,00 por mês cada, com encargos; Aluguel de pasto: R$8,00 por cabeça mês; Suplementação mineral: 1 saco de sal por cabeça por ano à R$25,00 o saco; Administração: R$1.000,00 por mês; que somaram R$372.100,00
No final do ciclo de recria e engorda, com duração de 2,5 anos, houve um desembolso total de R$692.100,00.
De acordo com o cronograma de desembolsos, esses valores acrescidos de juros de 0,5% ao mês, conseguidos nas aplicações em cadernetas de poupança, cujo mercado atribui como investimento mais seguro, resultou em R$774.029,63.
Nos desembolsos ao longo do ciclo utilizei os juros sobre cada desembolso até o final, de modo que o valor total mais juros representa sobre cada item, o valor acrescido dos juros correspondentes na data do abate.
Neste exemplo não considerei vacinas, vermífugos dentre outros gastos para não ficar muito extenso. O que quero frisar é a metodologia de aplicação do conceito de CUSTO DE OPORTUNIDADE, não me importando muito com a realidade dos números.
Assim, o total de juros sobre os desembolsos foram de R$81.929,63, que representam os custos de oportunidade do capital investido na atividade. Valor monetário que o produtor deixou de receber por desenvolver a atividade produtiva.
O produtor levou ao abate os mil bois gordos, desconsideradas as perdas por mortes e outras neste exemplo, que após o abate renderam 16,5@ ao preço de R$54,00 por @.
A receita obtida com o abate foi de R$891.000,00 que subtraído o valor total mais juros desembolsado resultou R$116.970,37.
Esse produtor pode ser considerado eficiente, pois ao desenvolver a atividade produtiva conseguiu pagar os juros sobre o CAPITAL imobilizado (R$81.929,63) e obter um excedente de R$116.970,37.
Neste exemplo não agreguei os custos de oportunidade de terra própria por estar me referindo a atividade produtiva e portanto não ter atividade imobiliária. Mesmo que a atividade produtiva tivesse sido realizada em propriedade própria, o produtor está remunerando a atividade imobiliária através do aluguel de pasto.
Bibliografia Consultada
Gerência Agropecuária – Análise de Resultados, Luciano Médice Antunes, Leandro Reneu Ries – Guaíba: Agropecuária, 1.998, 240 p.
BONACCINI, Luciano Alfredo – A nova empresa rural: como implantar um sistema simples e eficiente de gestão. _ Cuiabá: SEBRAE/MT, 2.000, 141p.
Noronha, José Ferreira de – Análise da rentabilidade da atividade leiteira no Estado de Goiás – Goiânia: Ed da UFG, 2.001, 108p.
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Na maioria das análises fiananceiras que tenho visto o valor dos juros utilizados infere que o produtor rural é ignorante quanto a aplicações financeiras.
Os juros utilizados para estudos de viabilidade fianceira deveriam ser os juros de CDI, titulos do governo, menos o devido imposto de 20%, ou seja hoje seria aproximadamente 21% ao ano ou 1,6% ao mês.
Lembrando que qualquer pessoa pode comprar títulos diretamente através dos leilões do BC ou aplicar em fundos DI. A aplicação em poupança é a pior aplicação para quem tem grandes valores para aplicar.
Caso o produtor possa pegar um empréstimo, ai sim ele deverá utilizar os juros cobrados no empréstimo para analise.
Por último, o produtor tambem deverá analizar o custo do seu tempo e comparar o retorno de uma atividade com outras que ele poderia estar empreendendo, lembrando que neste caso o retorno é parte monetário e parte subjetivo, ou seja qualidade de vida.
O artigo Índices e Indicadores Financeiros tem a finalidade de demonstrar a metodologia utilizada para sua obtenção.
Não me preocupei com valores e sim facilitar o seu entendimento.
Venho a muito tempo insistindo na profissionalização da classe produtora, onde cada um se torne um empresário no setor, seja ele micro, pequeno ou grande.
As análises financeiras globais são elaboradas para um universo heterogenio de produtores.
A utilização dos juros da caderneta de poupança, mesmo sendo ele a pior aplicação do mercado, indica, numa análise global, que a atividade que se pretende desenvolver deve, pelo menos, remunerar o capital de forma equivalente a aplicação mais segura, indicada pelo mercado .
Logicamente, dependendo de quanto sofisticado é o empresário rural, entendida a metodologia, os cálculos podem conter CDI e outros parâmetros mais sofisticados.
Muitos produtores utilizam, nas suas análises, juros de aplicações de risco mais elevados, afim de medir o retorno do investimento proposto.
Inserir o custo do tempo do produtor em análise financeiras é altamente recomendável, porém qualquer valor utilizado aqui, causaria polêmica, como a do valor utilizado nos juros, visto a heterogeneidade da classe produtora.
Entendida a metodologia, valores e parâmetros podem ser mudados, agregados e/ou suprimidos, dependendo sempre do grau de complexidade que se pretende dar a análise.
Prezados leitores, segue abaixo a dúvida de um de nossos leitores. Logo em seguida a resposta do autor do artigo, caio Junqueira.
Boa tarde, gostei da explanação realizada sobre custo de oportunidade, mas tenho apenas uma ressalva ou melhor um pedido de esclarecimento ao proprietário que ler este artigo, pois todos acham que devem incluir este custo de oportunidade no custo de produção, ou seja, acrescentam uma taxa aleatória ao custo de produção do animal ou da arroba engordada, sendo que isto é irreal, pois temos que comparar o resultado da propriedade final com o resultado da oportunidade de empregar o capital em outra atividade.
Sem mais, agradeço e parabenizo seu artigo.
Resposta do autor, Caio Junqueira:
Caro leitor,
Você entendeu bem o conceito.
O Custo de Oportunidade é utilizado para avaliar o investimento proposto em relação às opções de mercado. Jamais integra o Custo de Produção.
É um índice que está relacionado ao CAPITAL investido para o desenvolvimento de uma atividade.
O Custo de Produção se refere aos resultados da atividade, jamais tem o Custo de Oprtunidade do Capital em sua composição.
Um abraço,