A possível reabertura do cobiçado mercado da China à carne bovina americana pode aumentar a presença da carne dos EUA nesse mercado, dominado há muito tempo pelo Brasil. No entanto, os dois países suprem necessidades diferentes do mercado. Os EUA vendem especialmente cortes gourmet, ao passo que a carne do Brasil é mais usada como ingrediente em pratos prontos e para cozinha industrial. Na prática, os americanos concorrem mais com os exportadores de países como Austrália e Uruguai que, em comum com os EUA, têm um rebanho bovino de raças predominantemente europeias.
De todo modo, os americanos estão animados. Joe Schuele, vice-presidente da Federação Americana de Exportadores de Carnes, disse que ainda não tinha detalhes suficientes sobre o entendimento entre os presidentes americano e chinês, mas seu “sentimento é de que a demanda por carne bovina dos EUA será forte na
China”.
Para importantes negociadores, no entanto, no longo prazo a concessão chinesa não vai fazer muita diferença para os brasileiros.
A avaliação é que Pequim fez um gesto para os americanos e vai comprar alguns volumes de carnes deles, mas dificilmente colocará sua segurança alimentar em risco, em um cenário de confrontação crescente com os Estados Unidos. Ou seja, a China não vai querer depender de um só grande fornecedor, caprichoso e instável e sempre pronto a ordenar bloqueios, alijando os demais.
Além disso, do ponto de vista chinês liberar as compras de carne dos EUA, além de um gesto político, é algo que faz sentido, visto que a autossuficiência em carne bovina já não é o objetivo buscado por Pequim há alguns anos. Dada a escassez de água e terras, o país asiático até mesmo admite que terá de ampliar a participação das importações para atender sua demanda por carne.
Em um recente relatório que trata das perspectivas para o mercado de proteínas animais na China até 2020, o banco holandês Rabobank ressaltou a importância da decisão tomada em 2014 pelo Conselho de Estado do país asiático, autorizando mais importações de carne bovina para suprir a oferta. Não à toa, os chineses reabriram seu mercado à carne do Brasil em maio de 2015.
Nesse cenário, a instituição estima que as importações passarão a atender 20% da demanda chinesa por carne bovina em 2020, ante a atual taxa de 15%. Outra tendência apontada é a queda do contrabando de carne. As importações serão cada vez mais diretas, e não trianguladas por mercados como Hong Kong.
Devido à maior dependência que a China terá da importação, é possível que empresas do país asiático adquiram frigoríficos brasileiros, afirmou em recente entrevista a analista do Rabobank baseada em Hong Kong, Chenjun Pan. Os chineses já adquiriram empresas de carne bovina no Uruguai e na Argentina.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.