Indústria veterinária quer evitar problema com resíduo

A indústria veterinária brasileira está se movimentando para amenizar os problemas de resíduos encontrados na carne bovina industrializada exportada pelo Brasil e evitar que a situação respingue também na imagem do setor. As empresas acataram uma "recomendação" do Ministério da Agricultura e farão alterações no rótulo de todos os produtos que exijam prazos de carência antes do abate dos animais.

A indústria veterinária brasileira está se movimentando para amenizar os problemas de resíduos encontrados na carne bovina industrializada exportada pelo Brasil e evitar que a situação respingue também na imagem do setor. As empresas acataram uma “recomendação” do Ministério da Agricultura e farão alterações no rótulo de todos os produtos que exijam prazos de carência antes do abate dos animais.

O prazo dado pelo governo para alteração foi 31 de dezembro. Dessa forma, a partir de 2011 as informações sobre a carência dos produtos ganharão maior destaque nos rótulos, com letras diferenciadas em relação ao restante da bula e localizados na face principal da embalagem.

O assunto ganhou destaque após terem sido identificados resíduos acima do limite de ivermectina – antiparasitário usado no controle de vermes e carrapatos em bovinos – na carne exportada pelo JBS aos EUA em maio. O episódio gerou um recall do produto nos EUA e levou o governo a suspender a venda do produto brasileiro àquele país. Na última quarta-feira, foi a vez de a União Europeia rejeitar um lote de carne industrializada, também exportada pela JBS.
“O que ocorreu nesses casos ainda está em análise. O ministério tem tomado todas as medidas para orientar o produtor”, diz Marcos Vinícius Leandro Júnior, coordenador de fiscalização de produtos veterinários do Ministério da Agricultura. Ele lembra que no site (www.agricultura.gov.br) está disponível uma série de publicações com orientações ao produtor.

Para Emílio Salani, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o problema com os EUA foi um marco. “O assunto resíduo ganhou muito destaque e não é possível operar mais nesse mercado sem pensar na questão de segurança alimentar”, diz.

Diante disso, as empresas que desenvolvem produtos à base de ivermectina estão se antecipando e atualizando os relatórios junto ao governo. “Aliado a isso, reunimos a cadeia para tratar do assunto e ficou acertado que a CNA e o CNPC serão responsáveis por treinar os produtores por meio do Senar”, afirma Salani.

Para Sebastião Costa Guedes, presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), o trabalho de comunicação precisa ser feito com maior ênfase nos confinamentos. Segundo ele, em muitos casos, os bois recebem a medicação quando chegam, mas são enviados ao abate antes de vencer o prazo de carência dos produtos.

Responsável por descobrir e desenvolver a molécula da ivermectina, a Merial lembra que para um produto com 1% de concentração, o prazo de carência exigido no Brasil é de 35 dias. “Temos testes que apontam que uma carência de 21 dias não deixaria resíduos, mas preferimos manter um prazo maior só por garantia”, afirma Alfredo Ihde, presidente da Merial.

A matéria é de Alexandre Inacio, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

0 Comments

  1. Marcos Barros Leite disse:

    Estes fatos estão parecendo muito mais meras barreiras sanitárias com intuitos protecionistas, visando somente criar embaraçõs a exportação com intuito de diminuir volume e/ou preços dos produtos por eles importados.
    Afirmo isto por um motivo simples, óbvio e que não vi ainda ser comentado. Qual é a vantagem do produtor em se usar ivermectina em um gado que se pretende abater nos próximos 30 dias? Creio que praticamente nenhuma. Seria gasto com produto e manejo, e não haveria tempo do gado transformar a vantagem de ter sido vermifugado em efetivo ganho de peso, trazendo lucro para o produtor.
    Ou seja, o custo provavelmente será maior que o benefício que pode trazer. Portanto, é ilógico adotar tal prática, ela provavelmente resulta em prejuízo para o produtor. E se dá prejuízo, a imensa maioria não vai utilizá-la, certo? E acredito que se um ou outro desavisado adote, isto dificilmente será capaz de levar lotes de carne processada a ter níveis do produto maior que o tolerado.
    Entidades representativas dos exportadores e orgãos governamentais responsáveis devem estar atento a isto na hora de negociar, e não simplesmente aceitar a adoção de medidas inócuas, que venham simplesmente aumentar nosso custo de produção.

  2. José Manuel de Mesquita disse:

    Difícil acreditar que a culpa agora é da “BULA”.

    As bulas sempre trazem o período de carência, mas alguém as teria que ler…

    O problema é a somatória de: Gestão, Ganância e Ignorância…

    Gestão: Falta controle no manejo…

    Ganância: Em excesso quando os preços estão bons e se faz necessário conseguir animais para cumprir contratos de exportação.

    Ignorância: Falta educação básica aos trabalhadores da pecuária, aqueles que estão no dia a dia da propriedade, onde a grande maioria não sabe ler.

    Novamente fingem que trabalham para corrigir o problema, e o problema é muito maior do que querem nos fazer acreditar…

    Ganharíamos mais se parássemos de buscar culpados lá fora, quando o problema sempre esteve por aqui… e aproveitássemos a ocasião para resolve-lo de forma séria e responsável…

    É pena, mas pelo andar da carruagem (ou seria carroça?), continuaremos onde estamos… ou seja chorando o “a carne embargada”, e culpando os outros, de protecionismo e de exigências descabidas… enquanto isso, nosso ministro perde seguidas apostas nos prazos para a retomada das exportações…

    Triste sina a nossa…

  3. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Precisamos nos mobilizar.

    Todos os envolvidos tem responsabilidades e só com a participação de todos poderemos garantir que os níveis de resíduos fiquem dentro dos permitidos.

    Destaque ao prazo de carência nas embalagens e bulas pode ajudar.

    Treinamento adequado de produtores e funcionários é fundamental.

    Procedimentos corretos de manejo são muito importantes e softwares gerenciais podem elevar a segurança da operação.

    Os testes laboratoriais da carne precisam ser eficientes.

    Precisamos elaborar uma análise de risco para agir com mais eficiencia nos pontos críticos e concordo com a sugestão do Sr Sebastião Guedes de focar esforços junto aos confinamentos.

    Mas também sou forçado a concordar com o Sr Marcos Barros Leite que não faz sentido econômico vermifugar animais que serão abatidos em menos de 21 dias e precisamos entender melhor o que ocorreu, assim como sou forçado a concordar com o Sr José Manuel de Mesquita que precisamos parar de transferir a responsabilidade.

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