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Indústrias pedem verba para estocar wet blue

As indústrias frigoríficas e curtumes querem que o governo inclua no Plano Safra 2002/03 recursos para a estocagem do couro wet blue (produto curtido mas ainda não acabado). Eles solicitam R$ 400 milhões de Empréstimos do Governo Federal (EGFs), a juros de 8,75% ao ano, que seriam usados para reter 25% da produção nacional, que hoje é de 32 milhões de couros. A proposta será levada ao Ministério da Agricultura no início de junho. Segundo uma fonte do governo, o ministério só vai se manifestar após o recebimento formal da proposta.

A intenção do setor é se precaver das oscilações de preço e, com isso, ter mais tempo para dar maior acabamento ao couro, ou seja, produzir com maior valor agregado. Hoje, do total produzido, 50,4% é exportado, mas só 2,2 milhões de couros vendidos para o exterior são acabados, ou seja, 12,7% das exportações. A diferença entre o wet blue, principal couro exportado (60,4% das vendas), e o acabado é grande: preço médio de US$ 92,56 em relação aos US$ 31,44. Além disso, no período de 2000 a 2001, o preço médio do wet blue caiu 7,3%.

Com os recursos, indústrias e curtumes poderiam remunerar melhor o pecuarista. A idéia é que o financiamento seja casado com um programa de melhoria da qualidade. Só receberia o EGF quem tivesse o couro com classificação oficial.

“Se não temos reservas, precisamos vender com prejuízo”, diz o vice-presidente do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), Carlos Ernesto Gaglianone. Com o financiamento, diz ele, as empresas poderiam remunerar melhor quem cuida do couro. O valor a ser pago, porém ainda não foi definido.

Técnicos da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS), fizeram um estudo da classificação deste couro. Hoje, o Brasil não tem uma norma de classificação. O assessor técnico da instituição, Edson Espíndola, diz que a norma internacional qualifica o couro em seis tipos, feitas após o curtimento. A idéia é classificar o couro em três tipos, ainda no gado. Para isso, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) financiaria o treinamento dos classificadores oficiais, que seriam profissionais autônomos, feito pela Embrapa.

Proposta antiga

Espíndola diz que a qualificação será conforme a presença ou não de marcas no animal, berne e manchas na pele. A proposta da Embrapa é que o gado que não tenha nenhum defeito em seu couro seja classificado como tipo um e o pecuarista receba R$ 12 pelo animal, além do valor da arroba. Para o tipo dois seria pago R$ 10 e o tipo três, R$ 7. O pesquisador chegou a este preço depois de avaliar os valores pagos em diversos curtumes do Brasil.

A proposta de qualificação do couro é antiga. No início deste ano, a CNA entregou ao ministério um projeto de tipificação da carcaça, e na mesma época, o CICB iniciou o Programa Brasileiro de Melhoria do Couro Cru. O projeto é dividido em duas etapas: a primeira, com os frigoríficos e a segunda com os pecuaristas (que começou este mês). O projeto está orçado em R$ 1 milhão, com recursos da Agência de Promoção de Exportações (Apex). Carlos Obregon diz que as indústrias são orientadas a preservar o couro e 45% dos defeitos ocorrem 48 horas após a saída do gado até o curtume e o pecuarista é o maior culpado.

Mato Grosso

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, embaixador Sergio Amaral, anunciou sexta-feira (24), em Cuiabá, a criação de um programa de agregação de valor para o setor de couros. O objetivo é aumentar as exportações de couro industrializado, semi-acabado e de calçados. O projeto-piloto será implantado em Mato Grosso, onde o ministro lançou o Programa Especial de Exportações (PEE).

A exemplo do café, primeiro a ser incluído no programa de agregação de valor, o setor de couros deverá contar com financiamento do Fundo Verde-Amarelo, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para projetos tecnológicos que resultem no melhor processamento e qualidade do produto, informou Amaral. Ele ressaltou a importância do setor de couros para o Mato Grosso, Estado que detém o terceiro maior rebanho bovino do País.

O ministro acertou com o governador do Mato Grosso, Rogério Salles, a reformulação do programa local de exportação de couro, porque ele estimula as vendas externas de couro bruto e wet blue. A política do Governo Federal é substituir as exportações de produtos primários pelas vendas de produtos acabados, porque estas geram mais riqueza e emprego no Brasil. Amaral quer trazer técnicos da Itália para treinar os profissionais matogrossenses no processamento de couro.

Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), adaptado por Equipe BeefPoint

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