A disparada da inflação, puxada especialmente pela alta dos preços dos alimentos básicos, mudou também o hábito de consumo dos brasileiros com maior renda. Se antes as classes A e B se abasteciam num único supermercado, agora elas dividem as compras.
A disparada da inflação, puxada especialmente pela alta dos preços dos alimentos básicos, as commodities, mudou também o hábito de consumo dos brasileiros com maior renda. Se antes as classes A e B se abasteciam num único supermercado, agora elas dividem as compras.
Os produtos básicos, como arroz, feijão e itens de limpeza, por exemplo, são adquiridos em supermercados de vizinhança: lojas extremamente simples, sem conforto algum e pouca variedade, que têm como único apelo de venda o preço baixo. Já os itens especiais, como frios, biscoitos, geléias, entre outros, são comprados pela classe média nas redes de supermercados tradicionais.
“Aumentou tudo”, reclama Mario Sérgio Borges, de 52 anos, um típico consumidor de classe média alta. A saída escolhida por ele para driblar a inflação dos alimentos que atingiu o seu bolso é comprar itens básicos no supermercado de vizinhança, sem luxo algum. “Aqui eles não entregam em casa a compra, não aceitam cheque, mas consigo economizar no valor gasto.”
Como exemplo de economia, ele cita o caso do pão de forma de marca própria enriquecido com oito grãos. “No supermercado sem luxo, o produto custa a metade do similar vendido numa rede tradicional.” Apesar do esforço para economizar, Borges não fica sem os frios, os doces e a maionese especial, entre outros itens adquiridos numa loja mais sofisticada por um preço bem salgado.
“Os mais ricos começaram a sentir o aperto da inflação”, constata a economista-chefe para o Brasil do Banco Real, Zeina Latif. Por isso, fazer compras em mais de uma rede de supermercados tornou-se vantajoso. “A inflação mais alta muda a relação custo/benefício na cabeça do consumidor e o segundo deslocamento para ir às compras começa a valer a pena”, afirma.
Apesar de os índices mostrarem que a inflação dos alimentos pesa mais no bolso dos mais pobres porque eles gastam uma fatia maior da renda com esse tipo de despesa, a alta de preços da comida para os mais ricos não é desprezível, observa Zeina.
Dados do Índice de Custo de Vida (ICV) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que a inflação acumulada em 12 meses até junho para as famílias mais pobres, com renda média mensal de R$ 377,49, aumentou 7,83% e as despesas com alimentação subiram 19,17% no período. Enquanto isso, as famílias mais abastadas, com renda média mensal de R$ 2.792,90, tiveram uma inflação geral de 4,99% no mesmo período, com alta de 14,28% nos preços da comida.
“A ida da classe média a supermercados focados em descontos se acelerou com o aumento da inflação”, afirma o vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira. De acordo com ele, a percepção de valor dessa camada da população ficou mais apurada com o aumento da inflação, e a saída encontrada é economizar nos básicos para que sobrem mais recursos para lazer, saúde e moradia.
As informações são do jornal O Estado de São Paulo.