Por Walter José Verdi1
O mercado tem sua atuação, caracterizando-se como um regulador da atividade econômica, sob a perspectiva do encontro em linha direta, de compradores e vendedores, consumidores e empresários. Esta interação supera a interferência dos fluxos de poupança e investimentos, pois se relaciona mais diretamente com os mecanismos de oferta e demanda, gerando uma espécie de ordem no sistema, mantendo os diferentes agentes econômicos juntos. Os economistas definem a demanda como parte da explicação dos mercados. O fato de o comportamento da oferta e demanda, serem diferentes e opostos para quem vende e para quem compra, permite que o sistema encontre um preço que equilibre o mercado, de tal forma que os compradores queiram adquirir exatamente a quantidade que os vendedores queiram vender. O comportamento sempre em fase de mudanças de gostos, rendimentos e custos, estão sempre inter-relacionados e interferem diretamente entre si no que diz respeito à variação dos preços.
Assim é que períodos de falta ou excesso ocorrem pela interferência do processo de regulação dos mecanismos de preços, que é altamente dinâmico, e também auto-regulador, facilitando também a absorção de mudanças pelo sistema, dando maiores oportunidades de sucesso aos bens e serviços mais eficientes.
Um dos setores em que o nosso país, mais cresceu a sua participação no mercado mundial foi no AGRONEGÓCIO.
O setor hoje movimenta 458 bilhões de reais por ano (1/3 do PIB), gera 17,7 milhões de empregos (37,7% do total nacional), rende 30 bilhões de dólares em exportações (42% de tudo o que o Brasil vende lá fora), se tornando em três décadas, no mais importante setor econômico do país.
Toda a evolução só foi possível, graças à capacidade natural de produção de nossas fronteiras agrícolas, aliado ao modelo eficiente da cadeia produtiva do setor. Só a produção de grãos saltou de 57,8 milhões de toneladas do ano de 1990 para 130 milhões de toneladas previstas para a safra 2003/2004, num crescimento constante que nenhum outro país produtor pode acompanhar. Isto se deveu como dissemos, ao uso de tecnologias de produção visto que para este crescimento de 125% na produção, apenas 24% foram de novas fronteiras agrícolas, mostrando a capacidade dos produtores em melhorar a produtividade.
Os indicadores de exportação nos destacam nos seguintes segmentos:
– Vendemos 82% do suco de laranja distribuído no planeta
– Detemos 38% do mercado mundial da soja em grão
– Vendemos 29% do açúcar consumido no mundo, 28% do café em grão e 44% do café solúvel.
– Vendemos 23% do tabaco consumido no mundo
– Somos o primeiro em venda de frangos com exportações de 1,9 bilhão de dólares
– Maior exportador mundial de álcool
– Líder no ranking mundial de couro curtido e calçados de couro
– Assumimos a liderança mundial no mercado de carnes bovinas
Este grande aparato de produtos de exportação é o que tem colaborado decisivamente em nosso superávit comercial, e desta forma fazermos a nossa poupança em dólares. Além disto, cria-se condições de desenvolvimento e de investimentos em outros setores fundamentais, como indústria, comércio e serviços. A proximidade que estas divisas trazem para o mercado torna-a uma fonte geradora de empregos nos outros setores, que com a entrada de recursos acaba também gerando uma maior demanda no comércio, maior arrecadação de impostos pelos órgãos arrecadadores.
Esta é a capacidade que o mercado tem de transferir riquezas para os mais variados setores da economia, de uma forma consistente e sustentável, possibilitando ainda a oportunidade de se abrir novos mercados, propiciando modelos adequados de crescimento.
Deste modo, a colaboração do sucesso do agronegócio, como um todo, faz bem mais do que simplesmente enriquecer fazendeiros produtores, pois os setores que estão ancorados na economia gerada por estas divisas, beneficiam-se como exemplos de qualidade de vida, e como módulos propiciadores de empregos e de oportunidades. O aumento do poder de consumo de quem se envolve na atividade agropecuária movimenta o mercado local e atrai empresas, que geram empregos e realimentam a riqueza originada no campo. A atividade tem um efeito multiplicador, alavancando o crescimento de outros setores importantes da economia, como o comércio e a prestação de serviços, correspondendo a uma melhoria concreta nas condições de vida da população, e nos índices de inclusão social, de acesso dos cidadãos aos serviços básicos.
Tomemos como exemplo o nosso estado do Mato Grosso, com a influência direta do agronegócio, e graças ao desenvolvimento gerado sobretudo pela agricultura, a população saltou de 1,1 milhões de habitantes em 1979, para 2,7 milhões atualmente. No mesmo período a arrecadação estadual aumentou o equivalente a 40 milhões de reais para 2 bilhões de reais. O impulso das lavouras impulsionou o setor de prestação de serviços e o comércio – sobretudo o de insumos e máquinas agrícolas, abrindo novas perspectivas para o setor.
Esta situação tem provocado um novo tipo de migrante, que busca qualidade de vida, e oportunidades de negócios e trabalhos no interior do país. Nos últimos anos, impulsionados por esta economia do setor, ocorreram mudanças culturais profundas nas cidades situadas nestes bolsões de produção, principalmente com a chegada de profissionais ligados ou não à estes setores. Estes migrantes ajudaram na modernização e transformação, não apenas no dia-a-dia das fazendas, mas também na vida social das cidades interioranas. Graças a estes impulsos, os setores do comércio e prestação de serviços como já dissemos estão cada vez mais variados, com ofertas crescentes de produtos e serviços. Com a clientela consumindo mais e se tornado cada vez mais exigente, os comerciantes e produtores, se adequaram á esta situação de mercado, incluindo novos produtos que tiveram uma demanda aumentada, pela nova classe de consumidores deste interior.
Estudos mostram, que o desenvolvimento econômico provocado pela agropecuária, acelera o processo de urbanização das cidades que se localizam nos entornos das lavouras. Neste contexto, chega-se a obter mais equilíbrio sócio-cultural e econômico entre a cidade e o campo. O desenvolvimento de atividades produtivas cria, por exemplo, maior demanda para o avanço nas telecomunicações e melhora na qualidade de vida das áreas rurais. Mais da metade dos 574 municípios brasileiros com alto índice de desenvolvimento humano (IDH) está localizada no interior do país. Este indicador leva em conta uma equação entre a renda per capita, a expectativa de vida e o nível de escolaridade da população. O índice de desemprego nas comunidades rurais é estimado em apenas 3%, cerca de 1/4 da média nacional. Esta força do Brasil rural, há tempos vem chamando a atenção de economistas, sociólogos e especialistas em desenvolvimento regional. É sabido que atrás de uma nova fronteira agrícola vêm sempre melhorias que mudam a cara da região, aquecem a economia local e melhoram os indicadores sociais. A expansão de novas frentes trarão certamente maior sustentabilidade à economia agrícola brasileira. A diversificação da produção estará gerando riquezas e transformando a paisagem de várias regiões que antes tinham como principal produto o êxodo rural.
A atividade produtiva como um todo, tem a capacidade de interferir no mercado, e ao mesmo tempo exigir maiores investimentos em setores de infra-estrutura por exemplo. No transporte e distribuição da produção, as dificuldades encarecem a atividade econômica de nossos produtos, criando o que os economistas chamam de custo Brasil, influenciado diretamente pela precária situação de nossas redes de escoamento desta fantástica produção. Esta dificuldade faz com que o preço do produto chegue de uma maneira muito mais onerosa ao seu destino, fazendo com que percamos muito em competitividade em detrimento ao nosso baixo custo de produção proporcionado pela alta capacidade de nossos produtores.
A capacidade de sustentação do setor, passa por condições que o torne perene e lucrativo, e neste caso o investimento em infra-estrutura é assunto primordial. Precisamos baratear o escoamento de nossas produções e seus derivados, com um melhor sistema nacional de logística. Desta forma poderíamos brigar em pé de igualdade, com os nossos principais adversários. Há de se adotar também uma estratégia de marketing agressiva para melhor vendermos os nossos produtos nacionais, e também na postura de nossas negociações internacionais. Neste campo também temos tido progressos, com missões diplomáticas brasileiras, fazendo-se acompanhar de empresários líderes no setor, em busca de abertura de mercados.
Destaque-se que à partir do momento que a atividade começou a se despontar em termos de avanços de comércio bilateral, nossos diplomatas passaram a dar mais ouvidos aos técnicos do próprio governo, e à estas lideranças privadas do setor. Com isto, temos apresentado argumentos mais consistentes nos embates com colegas dos países desenvolvidos, e obtido avanços junto aos países consumidores, que praticam a chamada escalada tarifária ou a política de cotas para a entrada de nossos produtos. De fato o país alcançou o respeito de todos os seus grandes concorrentes na tarefa de produzir alimentos – missão maior da agropecuária – graças ao fator estratégico da adoção de tecnologia. Trata-se do salto decisivo cada vez mais presente.
“Precisamos sempre nos preocupar em brigar nas áreas onde somos mais fortes. Para aumentarmos nossas vendas, dependemos de preços competitivos em todas as áreas. Este é o segredo para a conquista de mercados”, Ministro Roberto Rodrigues.
Fontes consultadas
Revista Veja – Edição Especial Agronegócio – abril de 2004
Agroconsult
Ministério da Agricultura
CONAB
ABIEC
ABEF
USDA
IBGE
Revista Panorama Rural – edição Jun 2004 No 65
Revista Istoé Dinheiro 30/06/2004 No 356
www.embrapa.br
www.abag.com.br
www.esalq.usp.br
www.fundacaomt.com.br
www.ufrrj.br
www.usp.br
www.fcav.unesp.br
www.fgv.com.br
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1Walter José Verdi, Diretor Técnico da Agropecuária Capitão Verdi S.A.
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Walter, belo artigo, lúcido, limpo, compacto, ótima revisão.
Somos bons para produzir, como mostram os indicadores no texto, lideres de mercados e exportações. O desafio é diminuir a distância entre a garupa que onde está o produtor e a cabeça onde estão os vendedores e exportadores.
Mesmo assim, nós produtores, estamos numa fase onde o ideal é botar a cabeça para fora e descer boiando.