A entidade que representa os interesses da cadeia da carne no Reino Unido, Eblex, incluiu um novo quesito em seu programa de qualidade, a ausência de gene zebuíno nas carnes que tenham o selo de seu programa de qualidade assegurada (Quality Standard Mark). O objetivo da Eblex é aumentar a competitividade da cadeia da carne inglesa e promover seus produtos. Acredito que esse fato deva ser encarado como um alerta para o Brasil. A concorrência vai acontecer cada vez mais na esfera da qualidade e não apenas do preço, em especial nos mercados mais desenvolvidos e de mais renda, onde a Europa é um excelente exemplo. O que é mais necessário no momento é um trabalho mais integrado de cadeia produtiva e estímulos mais claros e objetivos para que o pecuarista invista desde a cria, e não apenas na fase final de engorda, em moldar seu sistema de produção para a qualidade.
A entidade que representa os interesses da cadeia da carne no Reino Unido, Eblex, incluiu um novo quesito em seu programa de qualidade, a ausência de gene zebuíno nas carnes que tenham o selo de seu programa de qualidade assegurada (Quality Standard Mark). Ao publicar a notícia, vários leitores do BeefPoint reagiram desaprovando a medida. O tema também vem sendo discutido por pesquisadores ligados a SBMA (Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal). Vale analisar a situação, considerando os motivos para criação desse novo quesito do programa, possíveis impactos para a carne brasileira e possíveis ações por parte do Brasil.
O objetivo da Eblex é aumentar a competitividade da cadeia da carne inglesa e promover seus produtos. Sua estratégia busca aumentar a lucratividade da cadeia produtiva inglesa, estimular o crescimento de demanda “lucrativa” e incentivar o desenvolvimento sustentável do setor inglês como um todo. As três principais linhas de ação da Eblex são: aumentar o retorno dos pecuaristas, adotar uma abordagem “integral da cadeia produtiva” e construir mercados lucrativos para a produção inglesa, por meio de ações de marketing.
Tendo isso em vista, devemos lembrar que a maior ameaça a carne inglesa no momento é o fornecimento brasileiro. O grande crescimento das exportações brasileiras para o Reino Unido, e também outros países da Europa, tem pressionado fortemente a lucratividade do setor inglês.
A Eblex QSM é um programa de boas práticas agropecuárias (BPA). O objetivo é implantar melhores práticas agrícolas nas propriedades, reduzindo custo, melhorando eficiência, além de aumentar a qualidade e segurança do produto final (carne). Objetivos muito similares aos programas de boas práticas que começam a ser utilizados no Brasil, sendo o mais famoso o Eurepgap, que já é adotado por 28% dos confinamentos integrantes da pesquisa Top 50 BeefPoint de Confinamentos. A novidade desse programa de BPA inglês é que ele inclui requerimentos de qualidade de carne (eating quality).
Como em todo programa de qualidade, pode-se determinar e escolher os parâmetros de qualidade. O objetivo aqui parece ser a diferenciação de produtos, além é claro, de se produzir com qualidade, uniformidade e constância.
Banir o gene zebu vai tornar a carne inglesa diferente de grande percentual da carne brasileira importada. Ser mais macia, mais suculenta, etc, pode ser ou não efetivamente verdade, mas eles estarão criando uma métrica que os torna diferentes. Esse selo não será uma barreira do governo, mas uma marca privada que busca identificar a carne inglesa como melhor que a importada (brasileira), com o objetivo de dificultar a venda de carne brasileira. Vale lembrar: o objetivo é criar demanda lucrativa para a cadeia da carne inglesa.
Acredito que esse fato deva ser encarado como um alerta para o Brasil. A concorrência vai acontecer cada vez mais na esfera da qualidade e não apenas do preço, em especial nos mercados mais desenvolvidos e de mais renda, onde a Europa é um excelente exemplo. Os frigoríficos brasileiros estão cada vez mais atentos a isso. Já se percebe que a preocupação é garantir volume, constância e qualidade de carne. Por isso cada vez mais se fala em confinamentos próprios, programas de pagamento por qualidade e parceria com grupos e associações de produtores. Ainda estamos no início de uma mudança significativa do modelo de produção brasileiro, onde as decisões relativas a genética e nutrição (principalmente) levem em conta a questão da qualidade (especialmente a maciez da carne).
É interessante notar que o trabalho de seleção genética para qualidade de carne (maciez) tem recebido muito mais atenção dos produtores de genética taurina que os produtores de genética zebuína, no mundo e até no Brasil. Pode-se dizer também que de maneira geral (taurinos e zebuínos), o foco em qualidade é ainda menor no Brasil. Por uma questão principalmente de mercado, que ainda paga prêmios menores que em outros países, ainda se fala pouco de produção de carne de qualidade no Brasil.
Uma mudança no mercado de carne pode alavancar e estimular o uso de tecnologias disponíveis comercialmente ou próximas disso. Ainda são poucos os rebanhos de seleção no Brasil que realizam medições de carcaça, como área de olho de lombo e cobertura de gordura. Isso sem falar em maciez e marmoreio. O ponto positivo é que há muito conhecimento e tecnologia disponível nessa área e já existem algumas honrosas exceções. Novas tecnologias, como o avanço (e validação) dos marcadores moleculares para qualidade de carne, podem permitir que o Brasil e as raças zebuínas dêem um salto em qualidade de carne, em muito menos tempo. Desde que essa tecnologia seja usada com critério.
A carne brasileira já chega a Europa com uma boa maciez, geralmente oriunda de carcaças selecionadas, até porque vai de navio, chegando lá com mais de duas semanas de maturação. O Brasil pode aumentar muito a qualidade de sua carne produzida (processo e produto). As ferramentas estão disponíveis, é preciso começar a efetivamente usá-las.
O que é mais necessário no momento é um trabalho mais integrado de cadeia produtiva e estímulos mais claros e objetivos para que o pecuarista invista desde a cria, e não apenas na fase final de engorda, em moldar seu sistema de produção para a qualidade.
Nesse ponto, é de invejar a estrutura e trabalho desenvolvido pelo Eblex, que visa aumentar a rentabilidade do setor inglês, de forma integrada, sustentável, mirando curto e longo prazo. Além disso, busca que essa maior renda fique em todos os elos envolvidos. Por favor, deixe sua opinião na seção de Cartas do Leitor, no espaço abaixo.
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Caro Miguel,
Concordo plenamente com você, esta ação do EBLEX deve ser encarada por nós como um alerta e também como uma oportunidade para que possamos ressaltar as qualidades do gene zebu perante os consumidores lá fora.
A genética vai poder mostrar serviços, pois as vezes somos tímidos demais quando o assunto é DEP frigorífico.
Um forte abraço,
Louis
Acredito muito em genética, mas no pais em que vivemos, a maioria dos produtores de leite vende o bezerro para um invernista. A demora pelo pagamento em termos de qualidade genética da carne será muito grande que com minha idade de 35 anos acredito não ver.
O artigo é para se pensar muito no que está sendo feito e no passo em que se está fazendo.
Neste aspecto gostaria de frisar a parte “trabalho desenvolvido pelo Eblex…busca que essa maior renda fique em todos os elos envolvidos”.
Isso também é muito interessante.
Além da intenção do embargo, os ingleses sempre tiveram facilidade, devido a proximidade, de importar uma carne muito especial da Espanha.
A Tortilla Gallega, que é o novilho recém desmamado, com peso não superior a 279 kg, da raça pura Rubia Gallega, uma qualidade muito difícil de ser superada.
Temos que vender carne para quem quer comprar e estes ingleses não querem nosso produto. Atendidas as exigências eles criam novas e acho que temos que melhorar sim nosso plantel, mas isto tem custo, quem vai pagar a conta?
Está na hora de mostrarmos a qualidade de nossa carne e das raças zebuínas. Nossa qualidade começa pelo bem estar-animal e a alimentação baseada no pasto, livre de doenças como a vaca louca, essa sim prejudicial a vida humana. As raças zebuínas já evoluíram muito em vários aspectos como fertilidade, precocidade.
Estudos já mostram que alguns zebuínos apresentam carne com maciez igual ou superior a raças britânicas, mesmo com um menor tempo de seleção. Sem ressaltar toda questão de habilidade materna, melhor produção com forragem de pior qualidade, adaptabilidade, etc.
Miguel,
Acredito que este tipo de pressão seja benéfica a longo prazo. O Brasil ainda pode avançar muito com sua qualidade e sem esse tipo de pressão não o faria nunca.
“Manda quem pode e obedece quem tem juízo”
Brincadeiras a parte, o que está em questão é o protecionismo (o que é cada vez mais natural). A qualidade é apenas o pretexto. Como eles podem “mandar”, devemos obedecer as suas exigências independente se temos maior “facilidade” em produzir outro tipo de gado.
Sei que o volume de gado puro de origem européia no Brasil é pequeno, que o custo de produção é alto (sobretudo em país de altas temperaturas) e que os frigoríficos não remuneram a nível de justificar a produção.
Contudo é inegável que aquele país apresenta um mercado atraente, com a moeda mais “valiosa” do mundo, certamente temos capacidade de produzir uma carne sem o gene zebuíno e que atenda as suas exigências protecionistas. Logicamente esta demanda não justifica uma revolução do setor a ponto de transformar a base do gado brasileiro para o de origem européia, pelo menos por enquanto.
A questão mais perigosa é o marketing. Se “essa moda pega”, certamente traria prejuízos desastrosos para nossa cadeia produtiva. Contudo, eu acredito que para que isso se efetive, é necessário uma justificativa maior, não por protecionismo, puramente. A carne de origem zebuína é saudável, tem baixo custo e pode ter excelente qualidade.
Devemos mostrar a eles que o Brasil é o maior exportador de carne do mundo e que podemos vender o que eles quiserem comer. Um dia eles terão que desistir, pois quem manda no mercado não é o governo, é o consumidor final, que além de prezar por qualidade (nossa carne também tem), olham para os preços. Com o tempo esta questão será invertida.
Vamos dançar conforme a música para amanhã escolhermos a música a ser tocada.
O alerta já foi dado, o único estado que poderá abastecer este mercado chama-se Rio Grande do Sul, porque o banco genético pecuário de corte praticamente é de raças européias, portanto se os investimentos já discutidos e programados forem realmente implementados estaremos numa posição invejável mas nada se faz sem muito trabalho.
Prezado Miguel,
As manifestações de diversas procedências, pecuaristas, comerciantes, leiloeiros, técnicos, consultores, extensionistas, fornecedores de insumos, “traders” e outros sobre o tema ressaltam dois pontos importantes: de início, a enorme penetração do BeefPoint nos diversos setores do segmento da pecuária bovina de corte o que o torna um veículo importante como fonte de informação a todos que têm a ver com essa atividade.
O segundo ponto é a constatação de mais uma paixão nacional ao lado de tantas outras já eleitas pelos brasileiros: o zebu. Quando se trata, como é o caso, de uma atitude negativa em relação ao zebu, a torcida se agita, grita e vaia, sem dó nem piedade, deixando a emoção ocupar um espaço maior do que devia.
Sim, porque o que está na pauta, está muito longe de ser uma disputa esportiva ou artística, onde a paixão é imprescindível. O que a EBLEX, que representa os interesses da cadeia da carne na Inglaterra, está promovendo é a implantação de um programa de qualidade, para atender um segmento de seu próprio mercado, colocando a ausência de genética zebuína como um dos inúmeros itens a serem atendidos pela produção a ser certificada com o seu selo de qualidade. Se o mercado realmente atribuir maior preço a esse produto em relação a outro que não contemple essa exigência, “não adianta chorar”.
Os pecuaristas britânicos terão ganhado mais uma partida nesse grande campeonato que é o mercado internacional. Nossa pecuária bovina de corte se estruturou ao longo de diversas décadas assentada numa realidade em que o único mercado que contava era o doméstico. Essa realidade plasmou mentalidades e desenvolveu uma cultura própria que exibem a necessidade de algumas mudanças quando o papel do mercado internacional deixa de ser marginal.
Nestes últimos cinco anos de convivência crescente com ele, estamos realizando coletivamente um grande esforço de aprendizado sobre seu funcionamento. Já conseguimos nos aperceber que o chamado mercado internacional não se constitui numa categoria de grande homogeneidade; ao contrário, é como se fosse uma enorme colcha de retalhos, na qual cada pedaço é de um jeito. Isto é natural, pois é formado por um conjunto de mais de uma centena de nações, cada qual com sua cultura, hábitos de consumo, gastronomias e culinárias próprias, exibindo variados níveis de renda média com diferentes graus de concentração, e nas quais tem grande variabilidade o índice de auto-suficiência alimentar.
A única coisa em comum, é que, em diversos graus e de diferentes formas, a carne bovina tem seus consumidores fiéis. Esta sim a realidade que nos interessa: somos produtores e desejamos vender bem nossos produtos, trabalhemos então para desenvolver nossa presença do modo mais lucrativo onde o mercado nos é mais propício; estejamos com os olhos e ouvidos bem abertos para identificar corretamente onde estão nossas melhores oportunidades; se nossa produção se caracteriza por ser portadora de genética na qual o zebuíno está presente, não desperdicemos nosso tempo com quem não a quer. Reflitamos sobre o ditado árabe – “Os cães ladram e a caravana passa”.
Abraços
Deniz
Caro Prof. Madalena,
Os recentíssimos resultados de validação de marcadores moleculares para várias características produtivas, inclusive maciez de carne, em gado Nelore no Brasil desmistificam completamente alguns conceitos antigos.
Para nossa grande surpresa, trabalhos realizados pelo GMA da USP de Pirassununga (Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz e colaboradores) mostram que a variação de WBSF (Força de Cizalhamento) entre taurinos de “piores” combinações alélicas e de “melhores” combinações alélicas para marcadores de maciez é rigorosamente a mesma para gado Nelore. Ou seja, há animais Nelore na população comercial brasileira com carne tão macia quanto os melhores Angus/Hereford.
Agora vamos às freqüências destes animais: estudos feitos junto ao USDA, Nebraska e outros centros de pesquisa norte-americanos mostram que aproximadamente 60% dos animais taurinos (amostras de mais de 50.000 animais nestes estudos) apresentam maciez inferior a intermediária na escala de Shear-Force apresentada. Esta proporção, nos estudos locais citados, com mais de 6.000 animais, mostram que esta porcentagem é de 70% e que aproximadamente 10% dos Nelore demonstram níveis de maciez de bom a ótimo.
Assim faço coro com o Miguel; as ferramentas estão aí; basta saber utilizá-las.
Henry Berger
Isso mostra que assim como a Irlanda, Inglaterra, tem medo da grande produção de nosso país e estão tentando mais um entrave para nossa pecuária, não bastando somente suas políticas de proteção econômica e subsídios.
Mas mesmo com tudo isso eles sabem que o Brasil está seguindo num caminho promissor na produção animal. Muito desse mérito, por mais que seja negado e até mesmo repudiado por outros se deve ao zebu.
Terei que discordar de um amigo que antes havia relatado de o nosso povo vestir a camisa e lutar mesmo estando errado, lembro mais nesse nosso caso da famosa “síndrome do cachorro magro” onde nossas coisas são sempre desvalorizadas. Temos potencial de produção inimaginável e inatingível pelos outros países.
Lembro novamente que mesmo com um menor tempo de seleção do que as raças européias as zebuínas estão atingindo níveis de precocidade, fertilidade e até mesmo maciez e marmoreio na carne (estudos recentes mostram que carcaças zebuínas podem atingir marmoreio igual a bovinos europeus), basta agora aprofundarmos mais esses estudos e espalharmos essa genética. Se o zebuíno não tivesse potencial por que americanos estariam importando nossa genética Nelore? Por que a Argentina está introduzindo sangue zebuíno? Vamos valorizar nosso produto e distinguir quando sofremos uma ação como esta e a da Irlanda, que são meros entraves para tentar frear nosso crescimento.
Vamos cuidar da sanidade e nada mais poderá travar o Brasil.
Não vejo motivos para tantas reclamações nesse caso do programa de qualidade da Eblex, do Reino Unido.
Na Austrália se diz abertamente que se na sua região houver carrapato será preciso ter genética zebuína em proporções consideráveis, mas sempre que o clima permitir é bom minimizar a participação de Zebu e, assim, o programa MSA (Meat Standards of Australia), que aplica selos de qualidade com três, quatro ou cinco estrelas nos pacotes de carne embalada de melhor qualidade, dá bastante ênfase a essa participação.
Outro fato, já bastante conhecido, é que das diversas marcas de carne existentes nos Estados Unidos da América, a grande maioria tem na raça Angus o seu principal critério de seleção de carcaças. Nada de errado!
Aqui no Brasil, o nosso marketing deveria ser baseado na marca Nelore, mas não basta ser Nelore, há alguns requisitos imprescindíveis para que se possa assegurar a qualidade da carne zebuína, que deveriam ser implantados na continuidade do programa Nelore Natural, mas que não foram por motivos diversos, um dos quais foi a baixa adesão da indústria da carne. É difícil que esse pessoal entenda o que não se traduz em lucros imediatos, e construção de marca é um trabalho lento.
Agora, Miguel, deixe-me fazer um reparo no que você escreveu. A carne brasileira não representa ameaça à do Reino Unido. Os próprios ingleses e escoceses afirmam que a ameaça vem da Irlanda, cujo produto representa mais de 60% das importações de carne do Reino Unido. A brasileira representa apenas 14% e é vista como commodity mesmo, ou “discount beef” como eles dizem, sendo que apenas metade do que vai daqui chega a supermercados, a outra metade vai para catering (serviços de alimentação).
Mas devemos sempre tratar muito bem os britânicos, que há 90 anos compram carne do Brasil, e são hoje os maiores importadores no total (US$330 milhões em 2006) de carne in natura e industrializada do Brasil.
Abraços
Estimado Miguel,
A marca OB vem desenvolvendo, a algum tempo, esforço de pesquisa no melhorarmento das características da carne do Nelore, através do programa OB Choice.
Como suspeitava-se inicialmente, e depois foi confirmado pela pesquisa, a variabilidade quanto ao marmoreio e à maciez da carne da raça Nelore é grande. O que é uma boa notícia. Permite melhoramento.
Da mesma forma que os taurinos, onde existem diferentes níveis de marmoreio e maciez entre as raças, e mesmo linhagens, a pesquisa indica que no Zebu e no Nelore ocorre o mesmo.
Para quem quiser conhecer a pesquisa, orientada pelo prof. Robert Sainz, da Universidade da Califórnia, e também pelo Dr. Cláudio Magnabosco, phD em genética pela mesma Universidade da Califórnia, basta acessar o site da OMB, http://www.omb.com.br, onde a íntegra das fases iniciais da pesquisa está descrita.
Informo, também, que os marcadores genéticos para essas duas características do Nelore já estão sendo pesquisados.
Atenciosamente,
Ovídio Carlos de Brito
Prezado Prof. Madalena,
Fiquei sabendo ha alguns anos atrás, que o único corte do zebú que é mais duro no teste de cisalhamento é o contrafilé.
Estaria correta essa afirmação?
Atenciosamente,
José da Rocha Cavalcanti
Num recente curso sobre qualidade de carne de ruminantes que realizei em Saragossa – Espanha verifiquei que a presença de genes zebuínos na carcaça é apenas um dos muitos fatores que contribuem para o grau de maciez, principal característica apreciada pelo consumidor.
Se os Frigoríficos adotarem um tempo de maturação da carne próximo dos 30 dias rapidamente conseguem contornar o problema de maciez.
Se conseguirmos vender a idéia de que os bovinos Bos Indicos devido à sua rusticidade podem ser produzidos de forma muito mais natural, com maior respeito pelos critérios de bem estar animal, e são muito mais ricos em omega 3, então estaríamos a criar uma imagem de marca para a nossa carne que seguramente encontraria respaldo nos consumidores Europeus.
Há vários anos que o programa de qualidade de carne australiano identificou a questão dos zebuínos na qualidade da carne. Os ingleses apenas estão a tentar copiar o que os australianos fizeram.
Para os brasileiros é muito mais útil saber evidenciar e vender as qualidades intrínsecas da carne que produz, que ficar a criticar os outros países por fazerem o que devem para defenderem os seus interesses.
Saudações,
Prezado Miguel,
Como sempre nós estamos apenas 20 anos atrasados em relação ao mercado mundial, enquanto o mundo a muito tempo discute qualidade de carne ao consumidor final, nós passamos um bom tempo selecionando orelha e barbela.
Agora que entramos no mercado mundial estamos famosos pela carne de baixa qualidade. Salvo ações pontuais de algumas empresas e associações, estamos muito atrás dos nossos concorrentes, assim, eles comem o filé e a gente roi o osso.
Enquanto eles a tempos discutem a cadeia integrada, nós travamos forças em todos os elos. Nem preciso falar do eterno duelo frigorífico x produtor, me assusta é o duelo produtor x produtor, onde quase não existe alianças entre o criador e aqueles que terminam a boiada.
A verdade é que nós apenas olhamos para o nosso umbigo e somente levantamos para o alto para reclamar da situação. Com isso o prêmio pelo nosso individualismo é o choro.
Tudo é uma questão de perspectiva, mercado e gosto. Os ingleses estão desesperados em retomar seus velhos mercados e farão de tudo para acharem bons argumentos para venderem sua carne. Um boi não é só filé-mignon e/ou contra-filé. Quem compra carne de dianteiro sabe que gordura é um problema.
Nos países nórdicos o grande foco das autoridades nos últimos 30 anos foi reduzir o nível de gordura da carne. Logo a carne zebuína brasileira é o melhor dos mundos nesse mercado:
– Carne de dianteiro com baixo nível de gordura: 90% CL( que significa Chemical Lean – o nivel de gordura foi controlado quimicamente onde foi encontrado no máximo 10% de gordura).
– Os chamados round cuts são macios suficiente e com pouquíssima gordura intra-muscular (marmoreio)
– Filé mignon macio e saboroso
– O único corte que gera problemas aqui e é objeto de reclamações dos consumidores é o contra-filé. Este é o “tendão de aquiles” da carne zebuína.
Concluindo, nos países Nórdicos a carne de zebu importada veio para ficar. Ao não ser que os fazendeiros daqui consigam barrar tudo por puro protecionismo.
Só hoje tomei conhecimento deste excelente artigo. A contribuição do Frederico Fick nos serve de puxão de orelha sobre aquilo que é realmente relevante em pecuária bovina de corte.
Muito pertinaz a questão do José da Rocha Cavalcanti, da qual tratei em 2000, no 5º Simpósio “O Nelore do Século XXI”, promovido pela ACNB, onde apresentei um trabalho com o título de “Nelore versus Cruzamentos: Uma Visão Sistêmica. Meus comentários à época foram:
(…) Um ponto que tem sido pouco divulgado é que (Shackelford et alii, 1995) a maior diferença de maciez entre a carne de taurinos e a de mestiços zebuínos é no contrafilé, justamente o corte em que tradicionalmente se fazem os estudos comparativos.
Também segundo os autores, diferentemente do que se observa em Bos Taurus, “…para o Bos Indicus, a força de cisalhamento foi muito maior (P<.05) para o contrafilé que para os outros cortes". Talvez sejam estes os motivos de, no Brasil, o contrafilé não ter a mesma preferência observada na Argentina ou nos EUA. E por quê o contrafilé é escolhido como a base para medida de maciez? Talvez porque este seja um dos cortes considerados mais nobres pelos consumidores americanos. O prato dos sonhos, num bom restaurante americano, é um 30-day aged choice CAB top loin steak. Quem já o provou, sabe que desmancha na boca, embora sem o mesmo sabor de uma boa carne argentina ou brasileira. Dos dez cortes analisados, Shackelford e colaboradores (1995) verificaram que cinco se mostraram mais duros (miolo da paleta, peixinho, coxão duro, patinho e contrafilé), enquanto outros cinco, no geral carnes mais nobres, não tiveram alteração significativa da maciez por efeito da mes tiçagem com gado indiano (filé mignon, miolo da alcatra, lagarto, coxão mole e parte da paleta – a oyster blade). De tudo isso se conclui ser necessária uma reabilitação da imagem da carne do zebu. Tem-se aqui claramente um caso em que diversas assertivas corretas levam a uma conclusão que, embora falsa, é tida como verdade incontestável. As assertivas corretas são: — Boa parte da carne brasileira endurece por resfriamento excessivamente rápido.
— A maior parte do rebanho brasileiro é zebu.
— Alguns cortes do zebu são mais duros que os de seus mestiços.
— Eu já comi carne muito dura.
A conclusão falsa: Todos os cortes da carne de zebu são sempre mais duros que os de seus mestiços (…)
Um outro ponto freqüentemente esquecido é que taurinos só são encontrados em ALGUNS rebanhos do Sul brasileiro. O restante, 95% da carne brasileira, provém de mestiço zebu ou de zebu.
Caro amigo este ´´embargo´´ dos nossos colegas ingleses vem só fortalecer o que o mundo já sabe, e faz tempo.
Que o Brasil é uma pedra nos sapatos de muitos países, tanto na produção de grãos e de carne. Programas como este são formulados para tentar desestruturar a cadeia produtiva no país, pois eles sabem que nosso banco genético tem o zebu como carro chefe.
Mas o que o brasil vai fazer? vamos produzir a tal carne mais macia e suculenta como eles dizem, com sangue europeu, e nossos colegas ingleses verão que é preciso muito mais do que conversa fiada para derrubar este país que tanto produz.
Que excente matéria. Parabéns para a cadeia produtiva inglesa.
Diferentemente do Brasil, onde frigoríficos vem os pecuaristas como inimigos a serem aniquilados na Inglaterra buscam aumentar a lucratividade de todo o setor, ou seja, se matar as galinhas acabam os ovos de ouro.
Tenho fazenda em Machadinho do Oeste, e investimos no cruzamento limosim, que a meu ver tem excelentes resultados, permitindo que os machos fossem abatidos com idade em torno de 30 meses com 17@ e as fêmeas com 22 meses com 13@ a pasto com suplementaçao mineral normal.
A questão é que o frigorifico separa a carcaça do gado que abato, me elogia muito, mas dinheiro que é bom nada, inclusive frigorificos exportadores que não pagam nada e nem querem gado rastreado? Porque será? Será que os russos não tem razão quando dizem que os certificados são falsificados?
Penso que da maneira como está, vai ficar cada vez mais dificil produzir animais que o mundo quer comprar pelo preço que os frigorificos querem pagar.
Quem sabe quando a água bater no pescoço aprenderemos a nadar ou morrer afogados.
Muito bom o artigo, no Brasil existe as pesquisas, ferramentas, o rebanho, os profissiionais, a estrutura, para que vocês possam fazer os testes necessários com a Raça Zebu e enviem uma mensagem à Eblex.
Com a tecnologia de marcadores moleculares a pesquisa pode identificar os genes Zebu da maciez, e fazer seleção em relação a fêmeas e touros portadores destes genes.
A pesquisa básica existe para responder muitas questões e resolver o famoso problema da maciez.
Até mais,
Saudacoes.