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Inseminação com tempo pré-fixado: utilizar ou não?

Trata-se de uma técnica que visa facilitar o manejo da inseminação artificial, reduzindo a mão-de-obra (observação de cio) e concentrando as atividades. Como qualquer outra técnica não pode ou deve ser aplicada em todas as condições de manejo existentes e merece uma detalhada avaliação do seu custo benefício, pois os resultados dos trabalhos de pesquisa ainda apontam, além de um custo de medicamentos muito elevado, taxa de gestação inferior ao protocolo padrão da inseminação.

Outro detalhe é que a simples justificativa de eliminar a observação de cio não pode ser considerada como principal aspecto. A maior parte dos trabalhos relata que não se consegue detectar mais que 50% dos cios. Isto pode ser verdade em rebanhos mal manejados, onde a tarefa de detecção não fica a cargo de uma pessoa capacitada para tal. Em nosso País a mão-de-obra é muito barata e a possibilidade de investir em treinamento do pessoal responsável pela detecção de cio é uma alternativa a ser considerada, ou seja, em algumas situações é mais conveniente adequar o manejo, pois outros aspectos relacionados ao mesmo são de extrema importância para o sucesso de qualquer exploração pecuária comercial.

A inseminação artificial mostrou ser uma técnica viável economicamente para acelerar o ganho genético e o retorno econômico da pecuária. A proporção da utilização desta técnica em cada País é dependente de características relacionas ao sistema de produção. Atualmente no Brasil são inseminadas de 12 a 15% das fêmeas, e pelas condições peculiares de criação em nosso País, os mais “otimistas” acreditam que esta técnica possa chegar a 20% das fêmeas.

Existem vários relatos que indicam baixa taxa de serviço em bovinos. Uma das causas citadas seria a baixa eficiência de detecção de cio. Vale ressaltar que boa parte destes trabalhos são originados de Países com características diferentes do Brasil. Em locais como nos EUA, Canadá e boa parte dos Países da Europa o principal problema relacionado a reprodução dos bovinos é a taxa de concepção. Nestas regiões, um problema anterior, que seria a rapidez no retorno a atividade reprodutiva pós-parto é pequeno. Numa análise generalizada, no Brasil têm-se ainda a resolver este primeiro problema. Para a maior parte dos rebanhos, técnicas que visam melhorar a taxa gestação, teriam aplicação quando fosse resolvido o problema anterior, que seria a existência de vacas em condições para aplicação desta técnica, ou seja, ciclando, num período precoce após o parto.

O comprometimento na observação de cios é citado como maior em rebanhos Bos indicus, maior efetivo do rebanho de corte nacional, devido a particularidades do comportamento reprodutivo como estro de curta duração com maior percentual de manifestação noturna. Desta forma, programas que visam empregar a inseminação em tempo fixo, sem a necessidade de detecção de estro, podem colaborar no aumento do emprego desta tecnologia.

As principais vantagens da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
1) Elimina o trabalho com detecção de cio;
2) Facilita o manejo da IA;
3) Concentra o trabalho em dias pré-determinados;
4) Aumenta o número de animais inseminados
5) Possibilita o planejamento dos partos e da estação de monta subseqüente.

Atualmente, o fator limitante da IATF está relacionado à viabilidade econômica da técnica, principalmente quando empregada em rebanhos comerciais, nos quais o custo-benefício pode não ser favorável. Entretanto, o que se verifica em todo o mundo é uma redução gradativa no custo dos fármacos utilizados para a sincronização da ovulação. Assim, acredita-se que, em pouco tempo, a viabilidade econômica da IATF seja alcançada em rebanhos comerciais, já que em criações destinadas à produção de touros e/ou matrizes (maior valor agregado), tem-se verificado adequado retorno financeiro.

Estes protocolos de IATF atualmente possuem muitas variações, porém geralmente se baseiam nos seguintes eventos:

1 – Sincronização da onda de desenvolvimento folicular pela eliminação de um possível folículo dominante. Este folículo poderia ovular ou sofrer luteinização parcial, aumentando os níveis de progesterona endógenos, evitando novas ovulações por um período. Isto pode ser conseguido pela aplicação de um análogo do GnRH ou Benzoato (ou Valerato) de estradiol que indiretamente provocam o efeito citado acima. Ainda poderia ser utilizado o LH, porém o custo deste hormônio inviabiliza sua aplicação.

2 – Alternativamente pode-se associar o tratamento acima com implantes de progesterona. A ação destes seria aumentar os níveis de progesterona, que em vacas em lactação e sem atividade ovariana característica pode fornecer melhores resultados. Nestes casos, a remoção do implante deve ocorrer quando a PGF for aplicada.

3 – A aplicação de luteolíticos (protaglandinas) visa reduzir as concentrações circulantes de progesterona, para permitir o final do crescimento folicular até o estágio compatível com a ovulação. No caso de estar-se utilizando implante, o mesmo deve ser removido. Estima-se que o desenvolvimento folicular até o estágio ovulatório será bem padronizado, pois foi feita previamente a sincronização da onda de desenvolvimento folicular (etapa 1)

4 – A etapa final seria induzir a ovulação do folículo já desenvolvido em um período padrão em todos os animais, para que se possa pré-determinar o momento da inseminação. Isto geralmente é conseguido com a aplicação de análogos de GnRH.

Pequenas variações ou adição de outras substâncias podem ocorrer na tentativa de melhorar alguns índices em certas populações ou em determinadas condições, como fêmeas em lactação, novilhas, etc.

Não existe um protocolo que seja superior aos demais nas diferentes condições. A avaliação dos animais por um técnico capacitado é imprescindível para orientar quais seriam os animais que poderiam participar desta alternativa de manejo, além de definir qual seria o protocolo que apresentaria a melhor relação custo-benefício para cada animal. Dependendo da situação, um protocolo mais simples e de menor custo pode ter o mesmo resultado de outro mais elaborado e caro. A justificativa de utilizar o mesmo protocolo para todos os animais para “simplificar” trás prejuízos para a eficiência e relação custo benefício do processo.

Independente do protocolo a ser utilizado, a avaliação inicial da condição corporal e do aspecto nutricional da propriedade deve ser realizado. Animais com melhor condição corporal e principalmente em balanço energético positivo respondem melhor aos protocolos, com taxas de gestação superiores.
Considerações finais

O importante é ter em mente que não existem soluções mágicas. O somatório das atividades de manejo e de alguns procedimentos técnicos levará a pequenos avanços que quando agregados poderão levar a ganhos consideráveis de produtividade. Neste mesmo raciocínio deverá se atentar para a não padronização de soluções, para todas as situações. Existe uma gama de condições de criação no Brasil que definitivamente não permite o uso de fórmulas pré-fabricadas. O bom senso e conhecimento técnico são os principais ingredientes para se construir uma receita de sucesso.

Ao se adotar medidas técnicas de ponta, como sincronização de cio, inseminação por tempo fixo etc, lembrar que estas técnicas necessitam de suporte nas questões básicas de criação, como manejo, instalações, nutrição e sanidade, sem as quais não é possível ou viável a adoção de técnicas avançadas. Cuidado adicional com os “modismos”. Todo procedimento, antes de implantado, deve passar por um estudo detalhado da relação custo-benefício, considerando todos os aspectos possíveis e as condições da propriedade onde será utilizado. Copiar a receita pelos bons resultados obtidos pelo vizinho é o principal erro. A propriedade é outra, os animais não são os mesmos, mudam os funcionários e principalmente o proprietário.

Bibliografia consultada

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