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Integração agricultura-pecuária: solução ou mais um paliativo?

Por Alexandre B. Garcia Carvalho

Conforme a localização da propriedade, o perfil do administrador e sua equipe de campo, a topografia e fertilidade da área, proximidade do mercado consumidor e das fontes de insumos (principalmente fósforo), até poderia haver indicação para uma atividade de agricultura complementar a atividade pecuária, mas nunca integradas e dependentes, pela simples lógica:

Agricultura (grãos)

Utiliza plantas anuais, enquanto a pecuária, trabalha com plantas perenes, ou pelo menos, “deveriam” ser encaradas como perenes, assim como o australiano encara (pastagens com mais de 50 anos de formação). Somente a integração agricultura (frutas) x pecuária poderia ser interessante, quando se tratar de frutas perenes ou espécies florestais perenes para compor um ambiente arborizado para a pecuária. Nesse caso, o nome correto seria projeto silvipastoril ou frugíveropastoril.

Agricultura convencional

Precisa de espaço no local para movimentar a colhedeira, ou seja, o agricultor prefere ter o menor número de árvores possível; enquanto que, numa pecuária racional “deveria” ter os pastos bem arborizados para garantir a sustentabilidade da atividade pastoril. Note-se que no processo de lignificação (endurecimento) das pastagens, a temperatura é fator limitante, mais do que a idade fisiológica da planta.

Por isso, num país tropical, onde as gramíneas são C4 e com baixo teor de NDT, é preciso focar em procedimentos para conduzir a vegetação arbórea remanescente e reincidente que ocorre nos pastos para sombreamento parcial das forrageiras. Mas, se as pastagens forem reformadas por um ou vários anos, praticamente não ocorrerá à presença de árvores (sombreamento parcial) ou arbustos (importantes para induzir o ramoneio do rebanho na seca – hábito de pastar ramos).

Ambiente ideal para pecuária

Agricultura convencional – sem árvores

Essa integração poderia até ser interessante para a agricultura já que as raízes das forrageiras proporcionam uma estruturação melhor do solo e uma extração mais eficiente do fósforo, incorporando-o na matéria orgânica com posterior disponibilização para a lavoura na ocasião da substituição da forrageira.

No caso da atividade pecuária, o ideal seria que os pastos fossem bem adensados e sem falhas entre as touceiras (pastos mais antigos costumam ser mais “gramados”), com bastantes espécies de leguminosas (nativas e exóticas), com raízes profundas, especializadas em captar água nas camadas inferiores do solo e com copas de árvores “quase” se tocando (onde é impossível de uma colhedeira passar).

Note-se que algumas forrageiras utilizadas (ex. Andropogon gayanus) possuem 3 raízes com diferentes especializações: raízes de sustentação (5 a 20 cm de profundidade), raízes superficiais (até 5 cm de profundidade), especializadas em capturar nutrientes superficiais e umidade no solo gerada pelo orvalho (na falta de chuvas). E por último, um terceiro tipo de raízes bem mais profundas (até 3 metros, conforme a característica do solo) que são especializadas em buscar água em camadas mais profundas, principalmente se estiverem estabelecidas em regiões de seca prolongada. Essas últimas raízes demoram vários anos para aprofundar-se.

Portanto, reformar um pasto antigo, significa eliminar, principalmente essas raízes especializadas em absorver água em camadas mais profundas e perder um stand (plantas/ m2) conquistado ao longo dos anos de manejo na presença de gado, que ao rebaixar as touceiras, induzem o perfilhamento das mesmas.

Diante desse raciocínio, de que adianta reformar o pasto e continuar manejando-o incorretamente? Fatalmente ele terá que ser reformado novamente. O que vai ocorrer? O pecuarista desavisado será alijado do mercado. Não que ele irá “quebrar”, pois antes disso ele arrenda suas terras para lavoura (cana, soja, etc.).

Dentro da filosofia do sistema Manejão e sob o ponto de vista da tecnologia de processos que utilizamos, o mais indicado são procedimentos de manejo que possam evitar ou minimizar a entrada de produtos numa unidade de produção.

Seja com uma oleaginosa, leguminosa ou gramínea, a reforma de pastagens não irá fazer milagres na atividade pecuária. Mesmo que o fazendeiro plante o capim “da moda” ou milagroso, a reforma será apenas um paliativo. A degradação das pastagens recém – formadas, continuará persistindo, pois a causa do problema não foi sanada, que é o manejo inadequado das pastagens.

E o pior. O dinheiro do pecuarista continuará sendo “canalizado” para as indústrias de insumos, máquinas e equipamentos, empobrecendo-o ainda mais. Basta verificar nesses últimos anos, o quanto as empresas que atuam na área rural cresceram, e o quanto o pecuarista e agricultor ficaram descapitalizados.

“Ainda bem que o pecuarista brasileiro não tem a cultura de reformar os seus pastos, pena que também não tem a cultura de manejá-los adequadamente para não precisar de reformas” (Carvalho, A. 2.002).

Não é o solo que precisa de recuperação ou correção (ex. calcário). O homem é que precisa de um corretivo. É preciso resgatar algumas posturas dos fazendeiros antigos e inserir conceitos modernos no raciocínio, logicamente, descartando a possibilidade de extrativismo.

E por falar em modernidade, segundo Joelmir Betting, “modernizar não é sofisticar, modernizar é simplificar”.

Infelizmente, o homem “moderno” perdeu os seus valores. Ele se acomodou e entrou na “onda” da mídia e das propagandas de produtos. Atualmente, a maioria dos técnicos e produtores buscam a produtividade. Só que, esse tipo de busca é um equívoco! E preciso, na verdade, buscar a lucratividade, com sustentabilidade tecnológica, social e ambiental.

O fazendeiro antigo quase não levava produtos da cidade para o campo. Ele se perguntava: “O que eu não preciso gastar, para meu negócio funcionar e eu prosperar?”

No caso da pecuária, é preciso também, trabalhar com raças adequadas aos trópicos e resgatar o equilíbrio do ambiente (pastos arborizados e com espécies propícias ao ramoneio) promovendo o conforto térmico para o rebanho e vaqueiros.

No caso da agricultura, também está ocorrendo um sério equívoco. Praticamente toda a vegetação arbórea está sendo eliminada. Na proposta do Manejão agricultura, preconiza-se faixas arbóreas (viabilizando a passagem da colhedeira) no sentido Norte – Sul de forma à quebrar os ventos predominantes que vêem do leste, servir de barreira mecânica para conter alguns insetos e manter a lavoura parcialmente sombreada (caminhamento do sol: Leste-Oeste), minimizando ataque de pragas e gastos com Uréia, já que a planta parcialmente sombreada requerer 50 % a menos de nitrogênio (Primavesi. AM).

Os médios e grandes agricultores (70 a 80 % da área plantada) são hoje reféns da tecnologia de produtos. O avanço desenfreado da soja, da cana de açúcar e de qualquer outra monocultura, da maneira como estão sendo plantadas, será o atestado de óbito para o meio ambiente, diminuindo a disponibilidade de água potável, gerando diversos problemas sociais e econômicos.

“O homem que adota a tecnologia dura. Esse é o maior problema
das pastagens e da agricultura no Brasil”

Eng. Agr. Alexandre B. Garcia Carvalho
Diretor da Visão Agronegócios
CREA -GO 6942/D

0 Comments

  1. Luciano O. Debs disse:

    Sou pecuarista e médico em Goiania. Qquero te parabenizar pelo raciocinio lógico e coerente. Penso igual á você e, acho também que todos os pecuaristas deveriam fazer um STOP… e refletir sobre isso.

    Abraços,

    Luciano